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O furacão da Odebrecht: revés no mercado e bilhete comprometedor

Polícia intercepta recado em que presidente da empresa, detido, pede destruição de e-mail

Otavio Azevedo e Marcelo Odebrecht, no último dia 20.
Otavio Azevedo e Marcelo Odebrecht, no último dia 20.RODOLFO BUHRER (REUTERS)

Quatro graúdos executivos atrás das grades. Um réu confesso detido na operação Lava Jato admitindo que propinas foram pagas para esse grupo empresarial. A credibilidade junto ao mercado financeiro diminuída pelo rebaixamento de sua nota por uma das principais agências de análise de risco. O furacão no qual a Odebrecht se meteu ainda pode aumentar, depois que seu presidente encarcerado pediu por meio de um bilhete para seus advogados destruírem e-mails. A polícia suspeita que esses arquivos estariam relacionados a um dos contratos com a Petrobras que está sob investigação. O recado estava em uma anotação que Marcelo fez e deixou com um carcereiro da Polícia Federal pedindo que o papel fosse entregue para seus advogados.

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As anotações de Marcelo Odebrecht, o presidente preso, eram claras: “destruir e-mails sondas”. O número um da maior empreiteira brasileira é investigado exatamente porque uma troca de e-mails entre ele e uma segunda pessoa, diz o Ministério Público, que ele sabia que a empresa botava sobrepreços de 25.000 dólares por dia em contratos com a Petrobras envolvendo sondas para a exploração de petróleo.

Os advogados de Odebrecht, porém foram céleres em dizer que destruir, ao contrário do que afirma qualquer dicionário da língua portuguesa, significa “desconstruir, rebater, infirmar”. E que houve uma interpretação equivocada sobre o conteúdo do bilhete, que seria usado para embasar a defesa do empreiteiro. A destruição seria no sentido jurídico, como uma resposta à tese dos investigadores, sustentam os defensores.

O furacão que atinge a Odebrecht era previsível. Quando, há sete meses, mais de uma dezena de empreiteiras foram flagradas no esquema de cartel que pilhou ao menos 6 bilhões de reais da Petrobras boa parte da classe política e de policiais já imaginava que a Odebrecht seria citada. Até os próprios executivos da empreiteira se preparavam para este momento em que a “joia da coroa” seria pega, afinal, não haveria cartel sem a maior de todas. O mesmo valia para a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira nacional.

O que Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo (este presidente da Andrade Gutierrez) não esperavam é que fossem eles os presos e que passassem mais do que alguns poucos dias detidos. Nas palavras de procuradores, ambas empresas moviam um engenhoso esquema de pagamento de propinas por meio de bancos estrangeiros e empresas offshore. O que ambos negam.

Nesta quarta-feira, Azevedo teve seu pedido de liberdade negado pelo Tribunal Regional Federal. E a Odebrecht viu sua situação se complicar com o bilhete entregue aos seus defensores e flagrado pela Polícia Federal na carceragem de sua superintendência em Curitiba. Em nota, a Odebrecht informou “lamenta que se tenha criar um incidente processual sobre uma expressão tirada obviamente do contexto”.

Para piorar a situação das empreiteira, o homem-bomba da Petrobras, o ex-diretor de abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, declarou na terça-feira à Justiça que a Odebrecht, por meio da petroquímica Braskem, pagou propinas no valor anual de 5 milhões de dólares para ter contratos com a Petrobras. A Braskem tem como principais sócias a Odebrecht e a Petrobras. O negócio teria sido intermediado pelo ex-deputado federal José Janene, do Partido Progressista. O prazo dos pagamentos ilegais não foi delimitado. As empresas envolvidas negam as irregularidades. Investigado pelo esquema, Costa tem um acordo de delação premiada e é uma das principais fontes dos investigadores.

Economia

Nesta semana, em parte como reflexo das más notícias criminais, a agência de avaliação de risco Standard & Poors anunciou que rebaixou os ratings de crédito corporativo na escala internacional da Odebrecht. A empresa caiu de BBB para BBB-. Isso quer dizer que ela se aproxima do risco especulativo e, se reduzir mais ainda nos próximos meses, passará a ser considerada uma empresa insegura para se investir. As instituições financeiras também podem começar a fechar suas linhas de crédito para ela.

A Odebrecht possui cerca de 70% de seus negócios fora do país. Atua em 21 países e tem 170.000 funcionários espalhados pelo mundo. No ano passado, segundo sua assessoria, registrou uma receita bruta de 107,7 bilhões de reais.

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