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O curto-circuito de Edinson Cavani

Atacante uruguaio fecha uma semana negra com expulsão contra o Chile

Juan Diego Quesada

Os uruguaios devem amar o futebol, de outra forma não se consegue entender defenderem seu gol com tanta paixão. Fechados atrás contra o Chile, se aferraram a seu atacante Edinson Cavani (Salto, 1987) como quem deixa tudo nas mãos de um santo. O jogador do Paris Saint Germain era o mais avançado de uma tropa convocada a defender até encontrar uma brecha que lhe conduzisse à vitória. Cavani era a chave desse plano. No entanto, perseguido pela nuvem negra provocada pela prisão de seu pai, Cavani acabou a Copa América fora de si.

O campeonato de Cavani começou a se complicar, à noite, em uma estrada de Salto, no norte de seu país. Seu pai, naquele momento, pegava a caminhonete do filho, uma Ford Raptor, em busca de uma loja aberta em que pudesse comprar um maço de cigarros. Estava em meio a uma reunião de amigos e garrafas de vinho. Luis Cavani disse que não viu nada, apenas sentiu um golpe em um dos lados da caminhonete. Quando desceu para olhar, segundo seu depoimento, se deu conta de que havia atropelado um motociclista. O jovem estava morto. Chamava-se Francisco Rodríguez e tinha 19 anos.

A imprensa uruguaia especulou que Cavani, responsável por substituir o suspenso Luis Suárez, cogitava abandonar a concentração da seleção. Não o fez. Esperou até a partida contra o Chile, anfitrião. O resultado não podia ser mais desastroso. Aos 29 minutos do primeiro tempo, recebeu o primeiro cartão amarelo após um choque duro com um defensor. A jogada não deixava transluzir o estado de ânimo do atacante, mas sua reação sim. Aproximou-se do árbitro assistente, a poucos centímetros, naquele território perigoso em que se deve bater ou correr, porque não há volta atrás, e gritou como um possesso.

Edinson Cavani encara-se com Gonzalo Jara
Edinson Cavani encara-se com Gonzalo JaraRicardo Mazalan (AP)

É verdade que o charrua já havia começado o campeonato desconcentrado. Sobre a Jamaica, primeiro adversário, disse que era uma equipe muito física, “como todos os africanos”. Voltou a campo para o segundo tempo sem bússola. Gonzalo Jara o procurou até encontrá-lo. Após uma falta inócua, travaram uma discussão. O jogador da Bundesliga encostou no seu rosto. O assunto não cresceu porque o árbitro se envolveu. Na sequência, o árbitro saiu mas continuou olhando os dois de rabo de olho. Nesse momento, Jara se aproximou de Cavani por trás e tocou em sua bunda. O uruguaio reagiu e soltou um golpe com a mão no pescoço do chileno. Jara, que deve ter pensado que ganhou na loteria, se jogou como se tivesse sido atingido por um franco-atirador.

O árbitro mostrou o cartão vermelho. Cavani perdeu o controle. Não é preciso saber ler os lábios para saber o que disse ao juiz, o brasileiro Sandro Meira Ricci. Eram 18 minutos da etapa final e o plano do Uruguai começava a ruir. Vários companheiros precisaram retirá-lo de campo. Frustrado, caminhou para o vestiário como o personagem de um filme de Iñárritu. Uma marcha fúnebre acompanhou o adeus de Cavani.

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