Estados Unidos e Venezuela mantêm diálogo discreto
Altos funcionários voltaram a se reunir no Haiti para discutir reaproximação
Washington e Caracas continuam procurando discretamente uma aproximação apesar da crise bilateral, agravada desde março pela decisão norte-americana de impor sanções a altos funcionários venezuelanos e declarar Caracas como uma “ameaça” à sua segurança nacional.
A nova tentativa ocorreu no sábado em Porto Príncipe, onde altos funcionários venezuelanos e norte-americanos aproveitaram uma reunião sobre ajuda internacional ao Haiti para manter um encontro bilateral, segundo relato de ambas as partes no domingo.
O encontro de uma hora tinha como objetivo o restabelecimento das relações, segundo Caracas. Uma porta-voz do Departamento de Estado confirmou o encontro, mas não quis dar detalhes sobre seu conteúdo.
Participaram da reunião a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. A imprensa dos EUA informou em maio que a Justiça norte-americana estaria investigando Cabello, número dois do chavismo, por suposto envolvimento com narcotráfico e lavagem de dinheiro – uma acusação que motivou uma nova onda de críticas de Caracas a Washington.
No encontro do Haiti, os EUA foram representados por Thomas Shannon, assessor especial do Departamento de Estado, que já havia viajado em abril a Caracas, às vésperas da Cúpula das Américas no Panamá, para abrir uma via de diálogo que está sendo mantida até agora.
No Panamá, os presidentes Barack Obama e Nicolás Maduro conversaram rapidamente, num encontro informal nos corredores da reunião continental.
Altos representantes da Venezuela e dos Estados Unidos voltarão a se encarar nesta segunda-feira e terça-feira em Washington, onde tem lugar a 45ª. Assembleia Geral da Organização de Estados Americanos (OEA).
A chanceler venezuelana ainda não confirmou presença, mas seu adjunto para a América do Norte, Alejandro Fleming, já se encontra na capital norte-americana. O Governo dos EUA, por sua vez, confirmou que a sua delegação será encabeçada pelo número dois do Departamento de Estado, Anthony Blinken, já que o secretário de Estado, John Kerry, está se recuperando de um acidente.
Embora a Venezuela não conste na pauta oficial da reunião, não se descarta que a crise política no país seja discutida nos corredores e em reuniões bilaterais. Às vésperas da reunião, altos funcionários dos EUA manifestavam a jornalistas sua esperança de que o novo secretário-geral do organismo interamericano, Luis Almagro, assuma um papel de maior destaque nos esforços conjuntos com a Unasul e outras organizações regionais “para apoiar a democracia e os direitos humanos na Venezuela”.
O próprio Almagro anunciou nesta semana, via Twitter, a disposição da OEA de “se unir à observação eleitoral na Venezuela, se o Governo de Nicolás Maduro aceitar”.