Seleção brasileira volta a competir depois dos 7 a 1 contra a Alemanha
Brasil põe em jogo seu prestígio ferido, na Copa América mais disputada em décadas
Na quinta-feira do feriado de Corpus Christi, em Teresópolis, havia expectativa pela presença da seleção brasileira. Mas nada de excessivo: apenas uma centena de pessoas no portão da Granja Comary, muito silenciosas. A visita de Marco Polo del Nero, o ameaçado presidente da CBF, roubou da bola o protagonismo, dominando as conversas em relação a uma equipe que ainda espera por seu maior astro, Neymar, e em relação à qual, como se o tempo não tivesse passado, a principal notícia esportiva nos primeiros dias de concentração são os problemas no joelho de Robinho, resgatado por Dunga para acompanhar o craque do Barcelona num ataque em que ainda não surgiram outros personagens do mesmo peso.
A atmosfera, animada após a vitória por 2 a 0 no amistoso contra o México neste domingo em São Paulo, é sem dúvida menos alegre que antes da Copa do Mundo. Onze meses depois do 7 a 1, o futebol brasileiro põe em jogo novamente seu prestígio ferido, na Copa América mais interessante e disputada das últimas duas décadas. O “professor” Dunga, como é chamado por seus jogadores, conseguiu dar um ar de estabilidade à pentacampeã depois da catástrofe; dificilmente encaixável no perfil de treinador da seleção “diferente”, para liderar a renovação exigida em julho passado, ele pode se orgulhar de uma série de oito vitórias consecutivas em jogos amistosos (entre elas o 3 a 1 na França, digno de reconhecimento). O técnico isolou completamente os jogadores da torcida e não dá entrevistas. Uma coisa são os problemas institucionais, e outra, o time: “O trabalho continua. Nossa mente está totalmente concentrada no campo”, afirma.
Robinho, na verdade, é o único representante de sua geração “repescado” por Dunga para a seleção. A proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 acelerou a troca de gerações posterior ao fracasso no Mundial e a convocação de jogadores jovens, que podem ganhar experiência numa grande competição e ajudar o próprio Dunga quando estiver dirigindo a equipe olímpica no ano que vem. Além disso, é preciso acrescentar as substituições obrigatórias dos contundidos Marcelo, Luiz Gustavo e Diego Alves. Entre os 23 jogadores convocados, apenas seis faziam parte da seleção de Luiz Felipe Scolari: Jefferson, David Luiz, Thiago Silva, Fernandinho, Willian e Neymar (exceto o goleiro, todos eram titulares). A consolidação definitiva de Philippe Coutinho (Liverpool), Danilo (Real Madrid) e Roberto Firmino (Hoffenheim) é razão de esperança para o corpo técnico e para uma torcida ainda cautelosa.
O técnico isolou completamente os jogadores da torcida e não dá entrevistas. Uma coisa são os problemas institucionais, e outra, o time: “O trabalho continua. Nossa mente está totalmente concentrada no campo”, afirma.
Na escalação o gol parece assegurado para Jefferson, titular desde a chegada de Dunga. As laterais também têm dono: Danilo na direita (Daniel Alves não esteve em nenhuma convocação) e Filipe Luís na esquerda, depois que a lesão de Marcelo tirou a dúvida em relação à posição. Na zaga continua no banco o ex-capitão Thiago Silva. Miranda (Atlético de Madrid), que se tornou incontroverso também na seleção, será o companheiro de David Luiz, menos bem avaliado que um ano atrás. O ataque parece reservado para Neymar e Robinho, desde que Dunga mantenha seu esquema habitual, 4-4-2, e que o santista se recupere totalmente de suas lesões. É no meio de campo que há mais dúvidas sobre o quarteto titular —em especial, a respeito de quem substituirá Luiz Gustavo para fazer companhia a Fernandinho (vaga disputada por Casemiro, Fred e Elias). Willian e Philippe Coutinho serão os meias, depois de sua ótima temporada na Inglaterra. Os médicos trabalham para recuperar o quanto antes vários jogadores que chegaram “baleados” à concentração, além de Robinho: David Luiz, Thiago Silva, Philippe, Anderson, Jefferson e Diego Tardelli.
Na Granja Comary há prudência em relação aos aspectos esportivos e silêncio absoluto em relação a qualquer outro assunto. O segundo amistoso disputado antes da Copa América será na quarta-feira, em Porto Alegre. No dia seguinte o time viaja para o Chile, onde estreia no domingo, dia 14, em jogo aparentemente fácil contra a Venezuela. Embora o futebol brasileiro seja provavelmente disputado mais fora que dentro do campo, ninguém quer nem imaginar outro desastre futebolístico. O foco, repetem os jogadores, é o maior possível. Dunga e seus 23 homens sabem perfeitamente que a semifinal mais provável será disputada no dia 30 de junho, em Concepción, contra a Argentina de Messi.