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Tsipras qualifica proposta de Bruxelas de ‘irreal e absurda’

Premiê grego pede uma ‘solução integral’ e não apenas um acordo com os credores

María Antonia Sánchez-Vallejo
Alexis Tsipras na quinta-feira, em Atenas, depois de retornar de Bruxelas.
Alexis Tsipras na quinta-feira, em Atenas, depois de retornar de Bruxelas.Kostas Tsironis (Bloomberg)

O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras fez um pronunciamento na tarde de sexta-feira no Parlamento parta informar sobre a rejeição da última proposta dos credores, o estado das negociações e para dar a palavra à oposição para que se pronunciasse sobre o assunto. O líder do Syriza não fez, como alguns esperavam, nenhum anúncio bombástico (convocação de eleições antecipadas ou referendo, por exemplo), mas apenas uma revisão da contraproposta grega e da “considerável distância “entre as duas partes. “A proposição dos parceiros é irreal, absurda”, disse ele.

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“Estamos na fase final e ao mesmo tempo mais difícil das negociações. Não precisamos de um acordo, mas de uma solução integral em benefício da Grécia e também da Europa para terminar de uma vez por todas com a incerteza e parar de falar sobre a saída do euro. A nossa proposta era a única realista porque está em sintonia com o mandato popular que emergiu das urnas e com as nossas necessidades. Essa proposta baseia-se principalmente no objetivo de superávits primários menores. Mas nossos principais temas permanecem os mesmos: uma solução integral à insustentabilidade da dívida, proteção das pensões e salários, recuperação das convenções coletivas e um pacote de medidas de recuperação da economia”, disse Tsipras, que foi interrompido várias vezes por aplausos de seu grupo. Depois do discurso, tomou a palavra o líder da oposição, o conservador Andonis Samaras, seguido por outros líderes políticos.

Atenas lamenta que na última proposta dos credores não figurem os avanços obtidos nos quatro meses de negociação e enfatiza que tudo são exigências “inaceitáveis”. Entre os principais pontos de atrito estão a exigência de aumentar o IVA da conta de luz em dez pontos percentuais (até 23%) e novos cortes nas pensões mais baixas (45% do total são inferiores a 600 euros), solicitações “mais dolorosas” que aquelas apresentadas pela antiga troika ao Governo de Samaras, que inclusive se recusou a aprová-las. “A lista Jarduvelis [nome do último ministro das Finanças de Samaras] era mais clemente do que esta”, acrescentaram fontes do Executivo. “Não posso imaginar que haja aqui algum deputado disposto a votar a favor de um aumento da luz”, disse Tsipras.

Outras pílulas difíceis de engolir para o governo de Atenas –e acima de tudo para sua ala mais à esquerda– são a abolição das aposentadorias antecipadas (em uma trintena de profissões “de risco”, os gregos poderiam se aposentar a partir dos 52-55 anos ), um novo sistema de pensões que unifique todas as caixas existentes a partir de setembro, e a manutenção de um polêmico imposto sobre a propriedade imobiliária que o programa eleitoral do Syriza prometia retirar imediatamente.

No entanto, são os capítulos do IVA e das pensões os que podem causar mais problemas às fileiras do partido no poder. O Executivo parece resignado em aceitar a supressão do IVA especial para as ilhas, mas julga absurdo que os remédios sejam taxados em 11% (a proposta mais baixa dos parceiros, frente às três alíquotas de 6%, 11% e 23% que defende Atenas). O chamado IVA turístico, até agora de 6,5%, subiria para 11%, um aumento visto com preocupação pelo setor.

Outra das chamadas linhas vermelhas de Atenas é a nova reforma do mercado de trabalho, muito afetado por exigências anteriores da troika. Os credores exigem agora uma revisão completa do sistema, incluindo pontos sensíveis como a restauração da negociação coletiva (outra promessa eleitoral do Syriza) e as demissões coletivas.

A necessidade urgente de fundos — Atenas não recebeu praticamente nenhum euro do segundo resgate há um ano —, somada às tensões internas no Syriza por fazer demasiadas concessões aos credores, se combinam em um panorama explosivo no qual ganha terreno a possibilidade de uma nova convocação de eleições, algo que certos membros do governo não se cansam de repetir (e que tem o apoio de 37% dos cidadãos, de acordo com uma pesquisa divulgada na sexta-feira). Alguns inclusive sugerem a data de 28 de junho, ou seja, dois dias antes da expiração da prorrogação do segundo resgate — do qual ainda falta receber 7,2 bilhões, sujeitos à assinatura de um acordo com os parceiros — e de que vença o prazo para pagar ao Fundo Monetário Internacional o 1,6 bilhão que a Grécia deve em junho, depois de agrupar todos os pagamentos do mês.

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