_
_
_
_
_

América Latina deve ser mais produtiva para crescer, diz FMI

Desafios “não são triviais”, mas analistas destacam que existe um potencial a ser utilizado

Christine Lagarde junto a David Lipton, em uma imagem de arquivo
Christine Lagarde junto a David Lipton, em uma imagem de arquivoEFE

A América Latina precisa de uma nova estratégia de crescimento. Com esse objetivo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) realizou nesta segunda-feira uma conferência de alto nível para analisar a situação que a região atravessa. Durante o evento, os especialistas procuraram definir prioridades políticas a fim de retomar um crescimento saudável, duradouro e compartilhado. Segundo os debatedores, o aumento da produtividade é essencial para que a região seja competitiva e atraia investimentos.

Acabou a festa”, dizia na primeira mesa-redonda Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central da Argentina. Ele afirmou que é possível discutir tudo o que for preciso sobre como isso aconteceu. David Lipton, o segundo de Christine Lagarde no FMI, separou os problemas em dois blocos. Por um lado, atribuiu-os a um clima externo menos favorável devido à queda das matérias-primas, à normalização monetária dos Estados Unidos e ao debilitamento da China e da Europa. Por outro lado, destacou os problemas internos de alguns países. Lembrou que três das economias mais importantes da região – Brasil, Venezuela e Argentina – estão em recessão. A previsão do FMI é que o conjunto da América Latina cresça menos de 1% este ano, recuperando-se em 2016. Será, portanto, o quinto ano de desaceleração. No discurso de abertura do evento, Lipton declarou que a região “não pode agora se permitir perder tudo o que ganhou”.

Mais informações
Grécia urge seus negociadores a fechar temas pendentes com a UE
Christine Lagarde elogia o esforço de austeridade do brasileiro
Levy: o todo-poderoso dono da tesoura
América Latina busca fórmula para sair da Grande Desaceleração

O FMI espera que os preços da energia e das matérias-primas seja estabilizado, mas continuará bem inferior aos de 2011. Isso já se traduz em menos renda para alguns países. Guillermo Ortiz, ex-presidente do Banco do México, afirmou que os países que mais sofrem estão mais ao sul do continente, por seus vínculos com a China. Os que estão mais ao norte conseguem aproveitar a retomada do crescimento dos EUA. Ainda assim, qualificou o crescimento do México como “decepcionante”. “Na realidade, tem sido assim no mundo todo”, completou, observando que a situação é sem precedentes. O contexto atual, como disseram os debatedores, é de grande complexidade por uma variedade de fatores em jogo. Mas também destacaram que há um potencial que não está sendo aproveitado para apoiar o crescimento, e que pode aflorar com a diversificação da economia.

Colchão insuficiente

As prioridades não são novas, indicou Lipton, citando a modernização da infraestrutura, a melhora da educação, a diversificação da capacidade produtiva e o fortalecimento dos laços comerciais na região. Blejer lembrou que o problema é que os países da região não utilizaram o vento favorável durante o último período de expansão para criar “colchões monetários e fiscais” suficientes para superar a atual fase de crescimento medíocre.

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco do Brasil, afirmou que a região é muito diversa e que os analistas sempre correm o risco de generalizar. Em todo caso, admitiu que “é difícil pensar no futuro” dado o clima atual atravessado pela maior economia da região. E disse que vê uma falta de convicção para mudar as coisas. A dinâmica é ainda mais perigosa na Argentina e na Venezuela, como disse Charles Collyns, economista-chefe do Institute of International Finances. O ex-presidente do Banco Central Argentino acredita que é preciso sobretudo recuperar a confiança – e isso, disse ele, “é preciso ser muito trabalhado”. Segundo Blejer, o grande problema da Argentina é a queda do investimento estrangeiro. “É preciso recuperá-lo para voltar a poder crescer, não importa quem ganhar as eleições”, afirmou. Essa prioridade, como destacou Alejandro Werner, diretor do FMI, pode ser aplicada a toda a região no âmbito da nova estratégia.

Baixa produtividade

Para José Viñals, diretor de mercados de capitais do FMI, o grande desafio enfrentado pela América Latina é a baixa taxa de produtividade. Nesse sentido, ele fez uma comparação com o sólido crescimento dos países emergentes da Ásia. Foi a forma que eles tiveram de defender um avanço maior nas reformas estruturais, algo que o organismo pede há muito tempo.

Esse é o mesmo problema ressaltado por Shannon O´Neil, do Council on Foreign Relations, e Santiago Levy, do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ambos destacaram a importância de melhorar a qualidade da educação se a região realmente quiser ser competitiva no futuro. O´Neil recordou que as empresas latino-americanas têm grandes problemas para encontrar mão de obra qualificada. Levy afirmou que isso, por sua vez, desalenta o investimento.

O debate servirá como base para a próxima reunião anual do FMI e do Banco Mundial, em outubro, em Lima. Os pontos de preocupação são os mesmos abordados na primeira reunião, realizada em Santiago em dezembro passado. O desafio, como concluiu David Lipton, “não é trivial”. Esperava-se que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, pronunciasse algumas palavras no início.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_