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O colapso do PP cede poder territorial à esquerda na Espanha

Candidaturas ‘cidadãs’, encabeçadas por Ada Colau, oriunda dos movimentos de rua do 15M, lideram em Barcelona

Uma reviravolta histórica nas eleições municipais e comunidades autônomas antecipa um novo cenário político na Espanha: o Partido Popular (PP) continua sendo o mais votado, mas com apenas 26,7% dos votos e com muito menos poder territorial, porque a esquerda tem condições de ganhar na maioria das capitais de províncias e comunidades.

O símbolo dessa mudança é a chapa dita cidadã encabeçada por Ada Colau, representante dos movimentos sociais e de esquerda, que se destacou entre os indignados dos protestos do 15-M, em 2011. Ela ganhou em número de votos em Barcelona e protagonizará uma mudança histórica, com maioria de esquerda, na segunda maior cidade da Espanha. Em breve, Barcelona pode ter uma prefeita de esquerda vinda de movimentos sociais, segundo a apuração até o momento. O tabuleiro político na Espanha continua mudando radicalmente, como antecipavam as pesquisas.

Com acordos entre a esquerda (PSOE e Podemos), o PP pode perder prefeituras de capitais de província, incluindo a simbólica Madri. Na capital, o PP ganha em termos de votos, mas um acordo entre o Agora Madri - outra formação que saiu dos protestos do 15-M -, e o PSOE pode tirar a prefeitura dos populares. Nas prefeituras de Valência e Valladolid, entre outras, acordos do PSOE com outras duas forças de esquerda podem tirar a prefeitura do PP, apesar de os populares serem os mais votados.

Acordos da esquerda podem ser feitos nas comunidades de Aragão, Astúrias, Cantábria, Castela-La Mancha, Valência, Estremadura e Madri. O PP, sem maioria absoluta em nenhuma comunidade, só poderia governar com acordos em Castela e Leão, La Rioja e Múrcia, mas depende do partido Cidadãos.

O colapso do PP faz com que, apesar de ser o partido mais votado nas eleições municipais da Espanha, só 27% dos votos estejam com ele. O PP despenca e sofre uma queda notável de votos, e não chega a 28% dos votos apesar de ser o partido que governa com maioria absoluta na Espanha.

Perderia votos em todos os territórios e sofre também de uma possível perda notável de poder em prefeituras e em comunidades autônomas. Seu solavanco eleitoral facilita a histórica reviravolta política em prefeituras simbólicas como Barcelona e Sevilha, e está a ponto de acontecer em Madri, se houver acordo entre a esquerda.

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O movimento social que surgiu a partir do 15-M, que uniu grupos políticos da esquerda, o Podemos e grupos cívicos, ganhou em número de votos em Barcelona com Colau e quase chegou a isso em Madri, com Manuela Carmena. As duas principais cidades da Espanha poderiam ter prefeitas tão simbólicas e estaríamos perto de um terremoto político para as eleições gerais previstas para novembro. Até o momento, o controle de algumas comunidades e prefeituras fica à espera de negociações e acordos, mas está muito longe do panorama anterior de maiorias absolutas claras e hegemônicas do PP e com opções de mudança.

Segundo 80% dos entrevistados, Esperanza Aguirre, a grande aposta de Mariano Rajoy em Madri, está a ponto de ser o símbolo da derrocada do PP, depois de 24 anos de maioria absoluta do partido, se houver acordo entre o Agora Madri e o PSOE. Sua indicação pode ter sido um erro, pois, mais do que mobilizar os votantes do PP, uniu os da esquerda contra ela, agrupando-os em torno de Carmena. De fato, na Comunidade de Madri, a candidatura de Cristina Cifuentes conseguiu resultados melhores, e é a mais votada por uma margem muito apertada, ainda que sem maioria absoluta e com perda notável de votos.

Se não houver acordo, a lei eleitoral prevê que, nas prefeituras, se ninguém tem maioria absoluta, governe quem tem mais votos populares. Se Manuela Carmena e Antonio Carmona se aliarem, podem tirar a prefeitura do PP e haverá uma prefeita de esquerda.

Ada Colau, que liderou os movimentos contra os despejos das casas, cria um panorama insólito em Barcelona, superando o Cidadãos, que governava em minoria com Xavier Trías. Esse resultado ameaça a hegemonia soberanista perto das eleições da comunidade autônoma catalã de 27 de setembro.

O crescimento do Podemos nas comunidades autônomas e das candidaturas populares que apoia nas prefeituras alteraram definitivamente o mapa político e fizeram com que o bipartidarismo continue perdendo terreno, ainda que os dois partidos principais continuem à frente. A soma de seus votos supera por pouco os 50%, quando habitualmente chegavam a 80%.

O Podemos e as candidaturas municipais que apoia se tornaram chave em muitas comunidades e municípios. Sua capacidade de decisão deixa em suas mãos o mapa político espanhol.

O PP cairia 11 pontos em relação às eleições municipais de 2011, 21 em relação às gerais do mesmo ano, e se iguala às europeias de 2014. O PSOE perde dois pontos em relação às eleições municipais anteriores, dois em relação às gerais e sobe dois pontos diante das europeias de 2014, nas primeiras eleições com Pedro Sánchez como líder, sempre segundo dados até o momento. Não pode divulgar que é o mais votado em suas primeiras eleições nacionais e se traduz em pouco poder territorial.

Os populares são os mais votados nas comunidades de Aragão, Cantábria, Castela-La Mancha, Valência, Madri, Baleares, Múrcia e La Rioja, mas precisam do Cidadãos para fechar acordo e somar. Não mantêm nenhuma maioria absoluta.

O partido de Rajoy tampouco resiste na Comunidade Valenciana, precisando de acordo também aí. María Dolores de Cospedal ganha em votos em Castela-La Mancha, mas necessita da cadeira do Cidadãos.

O PSOE está a apenas um ponto do PP no total, apesar de não chegar sequer ao resultado das eleições municipais de 2011, e é o mais votado apenas nas comunidades de Astúrias e Estremadura. O bom resultado é que recupera muito poder institucional em capitais e comunidades se for capaz de associar-se ao Podemos e às candidaturas vinculadas a movimentos sociais.

O PSOE é o primeiro partido apenas em Astúrias e Estremadura, mas também precisa de acordos para governar. Não se aproveita da queda do PP e fracassa na Comunidade Valenciana onde, apesar dos escândalos, não é capaz de superar os populares.

O Cidadãos surge no panorama político espanhol com 6,45% dos votos nas eleições municipais (dos quatro, é o partido com menor número de candidaturas) e com capacidade de decisão em comunidades autônomas. No entanto, em alguns lugares como a cidade de Madri, não consegue atingir suas expectativas devido à polarização entre o PP e as candidaturas de esquerda. Não é um partido decisivo em prefeituras como Madri ou Valência e isso reduz sua relevância política.

A Esquerda Unida (IU) cai para 4,78% e a União, Progresso e Democracia (UPyD) para 1% do total, confirmando seu passo no sentido da desaparição institucional.

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