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Google se torna a empresa que mais gasta para influir em Washington

Empresas de tecnologia investem cada vez mais em grupos de pressão no Capitólio

Eric Schmidt, presidente do Google, durante uma visita à Espanha.
Eric Schmidt, presidente do Google, durante uma visita à Espanha.KIKE PARA

Faz um ano e meio que Jeff Bezos anunciou a compra do The Washington Post por 250 milhões de dólares (750 milhões de reais). A ação foi interpretada como se o dono da Amazon estivesse apostando na imprensa tradicional. Mas o criador do portal de comércio eletrônico se valia também de uma das armas mais poderosas na capital política dos EUA. Era a demonstração do trabalho crescente de lobby que as empresas de tecnologia fazem, a ponto de o Google ter se tornado a corporação que mais dinheiro investe em Washington. Facebook, Amazon e Apple também aumentam os gastos para defender seus interesses no Capitólio.

Se um político aspira a conquistar uma vaga no Capitólio, precisa de muito dinheiro. Um congressista deve arrecadar no mínimo cerca de dois milhões de dólares (seis milhões de reais) para se eleger. O número se multiplica por cinco no caso dos senadores. A maior fonte dessas contribuições às campanhas tem sua origem em grupos de interesse que querem algo em troca do Governo. Uma vez no posto, o legislador devolve o favor tornando-se um facilitador, enquanto os lobbies, em paralelo, tentam angariar votos nos gabinetes.

Empresas de tecnologia, grupo de pressão

- O Google gastou 16,8 milhões de dólares (cerca de 50 milhões de reais) para tentar influenciar as autoridades reguladores e os parlamentares dos EUA.

- Amazon, Facebook e Apple também aumentaram de forma notável a dotação econômica para este fim.

- Por área, o setor bancário é o maior lobby, com um gasto de 553 milhões de dólares (1,66 bilhão de reais) em 2014.

As empresas de tecnologia eram as grandes ausentes desse jogo de interesses e poder declarado na política norte-americana. Até agora. O Google destinou 16,8 milhões de dólares (mais de 50 milhões de reais) em 2014 em seus esforços para tentar influenciar as autoridades reguladoras e os parlamentares nos EUA. Um número recorde que será facilmente superado este ano, se se levar em conta que no primeiro trimestre a empresa já gastou mais de cinco milhões (cerca de 15 milhões de reais) para essa finalidade. É o valor mais alto pago por uma corporação, segundo dados do Clerk of the House, o órgão do legislativo que registra o fluxo do dinheiro.

As empresas são obrigadas a declarar o dinheiro que destinam para defender seus interesses diante do Congresso e das agências federais. Há diferentes organizações que se dedicam a colocar luz sobre essa massa de dados, como a Maplight. Esta organização sem fins lucrativos ajudou a destrinchar os dados públicos de 10 empresas de tecnologia. Ao fazer a soma, constata-se que foram gastos 116,6 milhões de dólares (cerca de 350 milhões de reais) em lobbies em 2014.

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No caso do Google, o aumento anual foi de 20%, segundo os dados publicados pela Consumer Watchdog. Apesar de a empresa de Mountain View ser já o maior lobby em escala federal entre todas as corporações dos EUA e a sexta, se contarmos as associações empresariais, o aumento foi maior no caso do Facebook. Seu gasto em um ano aumentou 45%, para 9,3 milhões (pouco menos de 20 milhões de reais), e no início de 2015 já chega a 2,4 milhões de dólares (quase 7 milhões de reais). A Amazon elevou em 37%, para 4,7 milhões (cerca de 15 milhões de reais), enquanto a Apple aumentou 22%, chegando a 4,1 milhões (cerca de 12,3 milhões de reais).

Para entender o poder crescente que as empresas de tecnologia têm em Washington basta observar alguns detalhes. O Google gastou em lobby no início deste ano mais do que o dobro do ano de 2008 inteiro, e quase tanto quanto o Walmart, o maior empregador privado dos EUA, em todo o ano de 2014. A dona do sistema operacional Android gastou mais no primeiro trimestre do que a General Electric, os gigantes de defesa Boeing e Lockheed Martin ou a petroleira ExxonMobil.

O fluxo do dinheiro ajuda a entender também que empresas dominam a indústria de tecnologia dos Estados Unidos. A Microsoft, por exemplo, reduziu os gastos em lobby em 20% no exercício passado, mas ainda se mantém como a terceira do grupo que mais gasta, com 8,3 milhões de dólares (cerca de 25 milhões de reais). A Cisco Systems reduziu 25% e a IBM, 30%, índice maior do que a Apple e a Amazon. As ações da Intel caíram 13%, enquanto as da Oracle e do Yahoo variaram pouco.

Em conjunto, o peso do setor tecnológico como grupo de pressão em Washington não é o maior. O Center for Responsive Politics eleva o gasto total em lobby para 3,24 bilhões de dólares (9,7 bilhões de reais) em 2014. Desse total anual, 553,4 milhões (cerca de 1,66 bilhão de reais) correspondem ao setor financeiro, quase cinco vezes mais do que as empresas citadas anteriormente, enquanto a área de saúde mobilizou 380 milhões de dólares (1,18 bilhão de reais).

Estes números não incluem o que as empresas de capital aberto gastam em lobby nos estados. A legislação também as obriga a comunicar às autoridades o dinheiro que movimentam com essa finalidade, mas não há uma organização que faça as contas. Por isso, há cada vez mais grupos de investidores que exigem que as companhias revelem esta informação, como acabaram de conseguir com o Walmart.

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