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Lobby sobre o Congresso dos EUA para acabar com restrições a Cuba

Lobistas procuram fazer o Congresso dos EUA acabar com as restrições à ilha

Silvia Ayuso
A negociadora-chefe dos EUA, Roberta Jacobson, e o senador Marco Rubio.
A negociadora-chefe dos EUA, Roberta Jacobson, e o senador Marco Rubio.JIM BOURG (REUTERS)

Cuba e Estados Unidos realizam nesta quinta-feira em Washington sua quarta reunião bilateral, em que ambas as partes esperam acertar os detalhes finais para reabrir suas embaixadas, um gesto crucial no processo de aproximação iniciado há cinco meses.

Algo que será possível em boa parte porque, em 29 de maio, Cuba sairá da lista de Estados patrocinadores do terrorismo de Washington, uma exigência fundamental de Havana. Além disso, depois de mais de um ano, a Seção de Interesses de Cuba em Washington parece já ter encontrado um banco com o qual realizar suas operações, algo que também constituía um entrave ao avanço das conversações.

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Tudo isso “pode criar um contexto bilateral e regional propício para avançar em direção ao restabelecimento das relações diplomáticas e a abertura das embaixadas”, declarou Havana. “Faz tempo que estamos dispostos a discutir os próximos passos com Cuba”, responde Washington.

Enquanto se acertam todos estes passos, dificilmente passa uma semana sem que uma empresa norte-americana anuncie a intenção de fazer negócios em Cuba, desde o Netflix até companhias aéreas que aumentam seus voos charter – à espera de abrir rotas convencionais – ou os barcos, que se preparam para iniciar nos próximos meses o transporte de passageiros pelo Estreito da Flórida.

Para muitos, não é mais possível parar a bola que o presidente Barack Obama pôs para rolar em 17 de dezembro, quando anunciou a normalização de relações entre os Estados Unidos e Cuba. Mas, para não poucos, ainda se pode melhorar, e muito, sua velocidade.

O processo, consideram, requer um empurrão que acelere a chegada à meta. Sobretudo para superar o obstáculo do Congresso norte-americano, que tem a chave para acabar com as restrições finais que só acabarão quando se abolir o embargo. E ainda há congressistas e senadores que querem manter os cadeados.

“Sabemos que é algo que vai acontecer, o que estamos tentando fazer é acelerar o ritmo da mudança”, explica James Williams. Esse estrategista político está à frente do Engage Cuba, uma organização guarda-chuva que engloba empresas, associações comerciais e grupos da sociedade civil que se lançará formalmente em meados de junho. Com o apoio de influentes estrategistas, tanto democratas como republicanos, procurará fazer lobby para “acabar ou reformar as restrições comerciais e de viagem a Cuba”, para empresas e turistas norte-americanos, explica Williams.

Embora as eleições sejam em 2016, todos os congressistas já estão em campanha, daí a importância de apoiar os legisladores favoráveis às mudanças com relação a Cuba

“O resto do mundo interage com Cuba há muito tempo. Nós não só estamos à margem, estamos perdendo oportunidades de obter lucros para empresas norte-americanas”, lembra.

Entre os que se uniram a este projeto estão democratas como o ex-porta-voz hispânico da Casa Branca no primeiro mandato de Obama, Luis Miranda, ou Luke Albee, um assessor veterano em disputas no Congresso. Mas também participam republicanos como a antiga assessora do presidente George W. Bush, Kirsten Chadwick, ou Billy Piper, ex-chefe de gabinete do senador Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado.

Além de fazer lobby, o cada vez mais poderoso grupo procura dinheiro para financiar a candidatos que apoiem essa política no Capitólio. Com esse fim, também foi lançado este mês o New Cuba PAC, um comitê de ação política para arrecadar recursos destinados a “apoiar a candidatos ao Congresso dispostos a acabar com as restrições comerciais e de viagens a Cuba”, explica Williams, que também está à frente desse projeto.

Embora as eleições sejam em 2016, “todos os congressistas já estão em campanha”, daí a importância de começar logo a apoiar os legisladores favoráveis às mudanças com relação a Cuba, explica Ric Herrero, codiretor do novo PAC. É, além do mais, um esforço com vistas ao próximo Governo, porque “as restrições de viagens e de comércio são muito extensas, por isso é um processo que provavelmente vai continuar por algum tempo depois do fim do mandato do presidente Obama”, reconhece Herrero, que também está à frente do CubaNow, outra organização que favorece a aproximação com a ilha.

O lançamento do comitê de ação política no início do mês em um evento privado em Miami contou com um poderoso aliado: Alan Gross. O empreiteiro norte-americano passou cinco anos preso em Cuba e foi libertado em 17 de dezembro dentro do pacote de acordos entre Obama e Castro que propiciou a mudança de política. Apesar de sua odisseia, Gross apoiou o caminho aberto por Obama. Para Williams, o antigo empreiteiro personifica a estratégia por trás do Engage Cuba e o novo PAC.

Afinal de contas, ressalta, é “alguém que durante cinco anos sofreu uma experiência bastante traumática e difícil e, apesar disso, continua pensando que a melhor maneira de ter um impacto positivo em Cuba é interagindo com a ilha”.

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