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Investimentos da China no Brasil vão de trem transcontinental a Petrobras

Premiê chinês e Dilma anunciam 35 projetos. JBS celebra liberação da exportação de carne

Carla Jiménez
Dilma e o premiê chinês Li Keqiang.
Dilma e o premiê chinês Li Keqiang.Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Fazia doze anos que Li Keqiang não vinha ao Brasil e agora, como primeiro ministro, chega em grande estilo para selar 35 acordos bilionários com o Governo Dilma Rousseff. Um dos mais ambiciosos já havia vazado para a imprensa nos últimos dias. O projeto ferroviário transcontinental que deve percorrer o Brasil de leste a oeste, atravessar a cordilheira dos Andes até chegar aos portos peruanos só existe, por ora, como um "estudo de viabilidade" dos três países. Mas, já está bem articulado, com um desenho que pretende facilitar a exportação de matérias-primas do Brasil e do Peru para o mercado chinês. “É uma linha que sairá do Tocantins, da cidade de Campinorte [ferrovia norte sul] vai passar pelo Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, segue pelo Estado do Acre, até chegar ao Peru”, disse Rousseff, que prevê ganhos para os produtores com a redução de custo na logística.

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Se este é um projeto embrionário, outros acordos anunciados nesta terça-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto, trarão ganhos imediatos, como o fim do embargo à importação de carne brasileira, que vai beneficiar 26 frigoríficos nacionais, e incrementar em 520 milhões de dólares as exportações brasileiras, que somaram 40 bilhões de dólares no ano passado. Um sorridente Joesley Batista, dono da JBS, assistiu à cerimônia dos acordos vislumbrando que a rota chinesa trará mais negócios a sua empresa.

Outras companhias brasileiras foram beneficiadas pelos acordos chineses, caso da Petrobras que fechou dois acordos de financiamento, num total de 7 bilhões de dólares, assim como a mineradora Vale, que assinou memorandos de financiamento de um projeto de compra de um total de 24 navios de transporte de minério de ferro com duas estatais chinesas, a Cosco e ao Grupo China Merchants.

Os dois países anunciaram ainda um fundo de investimentos de 53 bilhões de dólares, do banco estatal ICBC para assegura investimentos em infraestruturas, que passam por rodovias, ferrovias, linhas de transmissão para o setor elétrico, e projetos de telecomunições. O Governo chinês assinou ainda o compromisso de investir em um pólo siderúrgico no Estado do Maranhão, e reafirmou o compromisso com o investimento na processadora de milho em Maracaju, no Mato Grosso do Sul, que deve chegar a meio bilhão de dólares.

Keqiang enfatizou que o comércio bilateral, que foi de 79 bilhões de dólares em 2014, deve chegar rapidamente a 100 bilhões de dólares. “Num cenário de difícil recuperação mundial, esta cooperação mútua vai proporcionar o desenvolvimento de economias emergentes, e da economia mundial”, afirmou o primeiro ministro.

Os dois países assinaram ainda acordos em diversos setores, como o de Defesa, para o sensoriamento conjunto da Amazônia visando a sua preservação, e a confirmação da compra de 80% do banco brasileiro BBM pelo estatal Bank of Communication por 525 milhões de reais.

Outros negócios foram fechados na área de energia, com o acordos na área de energia eólica, além de telefonia, firmado entre a Telefônica Vivo e a Huawei, este último par melhorar a cobertura celular no Rio de Janeiro.

Os acordos firmados entre os dois mandatários fazem parte do chamado plano de ação conjunta 2015-2021 que, segundo Rousseff, “inaugura uma etapa superior em nosso relacionamento”. “Teremos a oportunidade de dialogar com o empresariado dos dois países sobre o importante papel que exercem nesse processo”, disse a presidenta Dilma Rousseff , que tem viagem marcada para a China no próximo ano.

Estabilidade no fornecimento

A mensagem do líder chinês durante o encontro deixa claro que a estratégia da potênca asiática é buscar estabilidade no fornecimento dos itens mais demandados pelo seu país, em especial, soja, minério, açúcar, petróleo e derivados de milho, produtos estes que o Brasil tem em abundância. Keqiang não esconde, ainda, o desejo de erguer mais fábricas chinesas no Brasil em diferentes setores. “Nossa amizade tem uma base sólida e a cooperação mútua traz benefícios a nossos povos e ao mundo”, afirmou ele antes de se despedir.

Se o interesse chinês pelos produtos brasileiros é bem-vindo por um lado, por outro essa dependência preocupa pela qualidade do intercâmbio. O Brasil vende prioritariamente matéria-prima para eles e compra itens industrializados dos chineses. O primeiro ministro chinês garantiu no ato desta terça que a qualidade dessa troca deve melhorar, citando por exemplo os aviões da Embraer, requisitados pelas empresas aéreas chinesas. Mas, em outros setores industriais o Brasil carece de competitividade, e não tem um projeto de longo prazo para fortalecer a produção de seus bens industrializados.

A dependência, ainda, do capital asiático preocupa alguns especialistas. “Não sabemos a qualidade desse dinheiro que entra, e se não estamos atraindo outros recursos globais, como o de fundos de pensão internacionais, é porque precisamos melhorar o ambiente de negócios”, avalia o economista Cláudio Frischtack.

Para alguns observadores, a China aproveita o momento para comprar o Brasil mais barato, durante a crise econômica que deve ser marcada pela recessão deste ano. A dúvida é se o Governo Rousseff saberá capitalizar esta oportunidade para melhorar a qualidade não só do comércio bilateral, mas do ambiente de negócios para outras parcerias ambiciosas com outros países.

Mais informações

O produtor de milho Aker Van Der Vinne, em Maracaju.

O milagre chinês em Maracaju

C. J. | Maracaju (Mato Grosso do Sul)

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