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Mário de Andrade é o homenageado de uma Flip ‘pop’ e de qualidade

A principal festa literária do país anuncia sua ‘variada e seletiva’ programação

O escritor Roberto Saviano.
O escritor Roberto Saviano. Bernardo Pérez

Vem aí mais uma Flip (Festa Literária de Paraty), o principal evento brasileiro ao redor de escritores e livros. A turística cidade do litoral do Rio vai receber, entre 1 a 5 de julho, uma programação que reflete, como sempre, seu homenageado, seja com mesas de debate sobre sua obra ou inspirando, sob seu rastro, outras conversas. O homenageado na FLIP 2015 é Mário de Andrade, e sua permanente dualidade, high & low, aparece nos convidados sem medo de ser pop e na literatura de qualidade.

Para Mario Munhoz, diretor da Casa Azul, responsável pela realização da Flip 2015, o escritor, músico e agitador cultural permite amplos debates graças ao “seu legado que habilmente costura arte, cultura, educação e patrimônio". “Somos todos filhos de Mário”, disse o jornalista e curador Paulo Werneck, destacando uma programação que ele define como “dedicada, variada e seletiva”.

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Mário de Andrade foi o grande papa do modernismo brasileiro, modernizando a cultura do país e ressaltando a importância do diálogo dela com o mundo. Mas também produziu literatura erótica, escreveu livros de viagem e, sobretudo, foi uma pessoa como qualquer outra, à mercê de tristezas e fracassos, como prova a fase em que ele viveu no Rio de Janeiro, no fim de sua vida. Tudo isso deve aparecer na mesa de abertura entre a ensaísta argentina Beatriz Sarlo, a escritora paulistana Eliane Robert Moraes e o primeiro biógrafo oficial de Mário, o carioca Eduardo Jardim. Já ecos seus serão ouvidos em papos como A cidade e o território, A poesia em 2015, São Paulo! Comoção de minha vida..., Amar verbo transitivo e Turistas aprendizes, que – pelos títulos se percebe – o resgatam indiretamente.

Nos encontros exclusivos, que colocam um só autor diante do público, ressalta Roberto Saviano, jornalista italiano ameaçado de morte pela máfia de seu país depois de escrever Gomorra, livro que virou filme nas mãos de Matteo Garrone. Haverá também um encontro com Boris Fausto, que integra este ano, segundo Werneck, a categoria “como assim, nunca veio para a Flip?”. E promete ser íntimo, já que o historiador e cientista político brasileiro falará das memórias que escreveu à luz da perda de sua mulher.

Ilustração de Odilon Morais para o livro Será o Benedito! (Cosac Naify, 2008). Odilon, junto de Luciana Sandroni, autora da biografia 'O Mário que não era de Andrade', estará na Flipinha, que acontece durante a Flip.
Ilustração de Odilon Morais para o livro Será o Benedito! (Cosac Naify, 2008). Odilon, junto de Luciana Sandroni, autora da biografia 'O Mário que não era de Andrade', estará na Flipinha, que acontece durante a Flip.

Outro resgate importante da Flip 2015, novamente sob Mário de Andrade, é com a música, que conta este ano com nomes de peso, como o crítico José Ramos Tinhorão e o compositor Hermínio Bello de Carvalho, além de Jorge Mautner, Arnaldo Antunes e Karina Buhr. Nomes brasileiros, como se vê, não faltarão desta vez ao lado das estrelas internacionais, entre as quais se destacam o queniano Ngugi wa Thiong'o, sempre cotado ao prêmio Nobel de Literatura, o dramaturgo e roteirista britânico David Hare, indicado ao Oscar (pelos filmes As horas e O leitor), e o australiano Richard Flanagan, vencedor do Man Booker Prize 2014.

Também se nota uma maior presença de mulheres em relação ao ano passado, com nove escritoras em um total de 39 convidados (23% em relação aos 15% de 2014). Haverá, inclusive, uma mesa dedicada à representação literária da maternidade e da condição da mulher, com as participações da paulistana Ana Luisa Escorel e da isralense Ayelet Waldman – que publicou Bad Mother: A Chronicle of Maternal Crimes, Minor Calamities and Occasional Moments of Grace, uma compilação de seus artigos bastante críticos sobre ser mãe.

Muito mais escritores e obras estarão espalhados nas programações paralelas do Flip 2015, cuja importância costuma levar o meio editorial em massa para Paraty para ver e ser visto. O escritor e colunista do EL PAÍS Luiz Ruffato, que será parte da Flipinha com A história verdadeira do sapo Luiz (DSOP), rejeita os que torcem o nariz para o lado festa da Flip. “Existe um preconceito da classe intelectual do Brasil, que acha que livro é algo sagrado, para poucos privilegiados. A Flip era no começo um evento mais intimista, hoje é uma coisa grande, de renome, aonde as pessoas vão se encontrar. Qual é o problema disso, se a desculpa são os livros?”, questiona.

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