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EUA autorizam o transporte de passageiros em ferry para Cuba

País emite licenças para o transporte à ilha por via marítima após mais de meio século

Silvia Ayuso
Captura de tela da agência que oferece uma viagem de ferry para Cuba.
Captura de tela da agência que oferece uma viagem de ferry para Cuba.

Pela primeira vez em mais de meio século os Estados Unidos concederam licença para a operação de serviços de transporte de passageiros em ferry de portos norte-americanos para Cuba. Embora o turismo continue oficialmente proibido, a medida é mais um passo na flexibilização das viagens à ilha no contexto da normalização de relações anunciada pelos presidentes Barack Obama e Raúl Castro em 17 de dezembro.

A Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Tesouro “emitiu hoje licenças específicas para o serviço de balsa para passageiros”, disse uma porta-voz do Tesouro ao EL PAÍS. A OFAC não revelou o número total de licenças concedidas, as primeiras desde que entrou em vigor o embargo contra a ilha. Mas a United Americas Shipping Services, uma das empresas beneficiadas, confirmou a este jornal que obteve a permissão.

“Confirmaram-nos que, depois de dez anos de tentativas, recebemos a licença para transportar passageiros”, disse em entrevista telefônica de Miami o presidente da United Americas, Joe Hinson.

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Duas outras companhias, a Havana Ferry Partners e a Airline Brokers Company, também anunciaram que poderão transportar passageiros da Flórida até Havana.

“Isto é um acontecimento histórico. Obrigado presidente Barack Obama, estamos muito agradecidos por sua liderança”, escreveu a Havana Ferry na rede social. A Airline Brokers copiou na rede social a licença obtida. “Estávamos esperando desde 1991”, ressaltou a empresa de transporte.

Segundo o jornal Sun Sentinel, da Flórida, uma quarta empresa, a United Caribbean Lines, também obteve uma das ansiadas licenças. A companhia ainda não emitiu um comunicado, mas em sua página Web já anuncia o serviço “a partir de outono 2015” em embarcações com todo tipo de comodidades e “400 camarotes e capacidade para 1.500 passageiros”.

A concessão de licenças é apenas o primeiro passo para operar o serviço que amplia mais ainda a gama de opções para viajar diretamente para a ilha a partir dos Estados Unidos, até agora restrita a caros e escassos – embora cada vez mais numerosos – voos charter.

Restrições continuam

Contudo, a porta-voz oficial ressaltou que “as regulamentações para Cuba não mudaram”. Isso quer dizer que as licenças são concedidas “caso a caso” e que de maneira alguma representam uma carta branca generalizada para operar o transporte marítimo para Cuba.

As companhias só poderão transportar a passageiros norte-americanos que se encaixem em uma das 12 categorias de viagens autorizadas – como religiosos, culturais ou políticos – flexibilizadas por Obama em janeiro, quando decretou licenças generalizadas para essas categorias (antes era preciso solicitar uma licença específica cada vez que se queria viajar à ilha). Os serviços de balsa também poderão transportar cidadãos cubanos com entrada autorizada nos Estados Unidos e cidadãos estrangeiros que vão à ilha em algum tipo de viagem oficial ou como membros de uma organização intergovernamental, segundo a lista fornecida pela OFAC.

Enquanto não for permitido o turismo normal para a ilha, e continuarem outras restrições comerciais, o serviço de ferry será bastante limitado

Mas as dúvidas continuam numerosas, disse Hinson. “Tenho uma lista de umas 120 perguntas”, brincou e reconheceu que o anúncio foi uma surpresa. “Não acreditávamos que fossem emitir as licenças antes de reabrirem as embaixadas”, explicou referindo-se ao esperado próximo passo na normalização de relações que ainda não aconteceu apesar de Obama e Castro terem reforçado o processo de aproximação com sua reunião no Panamá no mês passado.

Também não está claro quando poderá entrar em operação o serviço de transporte marítimo de passageiros a Cuba. Segundo Hinson, sua companhia espera poder realizar a primeira viagem “por volta de setembro ou outubro” em embarcações com uma capacidade para cerca de mil passageiros, mas indicou que ainda serão necessárias muitas conversações com as autoridades cubanas para obter permissões de atraque e outros trâmites burocráticos.

Enquanto não for permitido o turismo normal para a ilha – há uma proposta de lei a respeito que ainda não foi debatida no Congresso – e continuarem outras restrições comerciais, o serviço de ferry será bastante limitado. Mas, segundo Hinson, cuja empresa opera no oeste do México um serviço de balsas – o Baja Ferries – que transporta 250.000 passageiros por ano, as possibilidades serão quase ilimitadas quando avançar o processo de normalização de relações bilaterais.

De Miami até Havana são 225 milhas náuticas, um percurso que se faz em dez horas. “Prevemos sair de noite e chegar de manhã, os barcos serão equipados com restaurantes e entretenimento, clubes noturnos e, se for permitido, também poderemos oferecer jogos de cassino como já fazemos no México, assim como serviço de lojas duty free”, disse.

Enquanto isso, o transporte aéreo continua aumentando sua oferta para Cuba. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou também nesta terça-feira que a companhia aérea JetBlue vai começar a realizar voos charter – as linhas aéreas americanas ainda não podem realizar voos regulares à ilha – saindo de aeroportos nova-iorquinos. É a primeira companhia de escala nacional a retomar os voos à ilha partindo de Nova York desde o começo do degelo em 17 de dezembro.

A rota entre o aeroporto John F. Kennedy em Nova York e o José Martí em Havana começará a ser operada em 3 de julho. Os voos partirão às sextas-feiras, segundo o anúncio oficial feito depois de Cuomo se tornar, em abril, o primeiro governador norte-americano a visitar Cuba desde o anúncio de dezembro.

“Nossa missão comercial a Cuba tinha como objetivo abrir a porta para novas oportunidades econômicas e o anúncio da JetBlue é uma prova de que nossa estratégia está dando resultados para as empresas nova-iorquinas”, comemorou Cuomo, que viajou a Havana acompanhado de vários altos executivos, entre eles o da linha aérea de baixo custo.

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