_
_
_
_
_

União Europeia prevê que a Espanha crescerá 2,8% em 2015

A Comissão Europeia melhora os prognósticos, mas sem chegar ao otimismo do Governo

O comissário Pierre Moscovici, nesta terça-feira em Bruxelas.Foto: reuters_live | Vídeo: El País-LIVE! / EFE
Claudi Pérez

A economia não vai crescer 3% ao ano por tempo indeterminado, e o desemprego não vai cair para menos de 20% no ano que vem. A Comissão Europeia reduziu hoje ligeiramente o otimismo em relação ao quadro econômico da Espanha, um dos países do continente que mais cresce e cuja economia vem melhorando mais, mas que, ao mesmo tempo, é um dos lugares onde as cicatrizes da crise estão mais visíveis. Bruxelas prevê que o PIB espanhol cresça 2,8% este ano e 2,6% em 2016. São respectivamente um décimo e três décimos menos que as previsões do Governo, mas, mesmo assim, representam um avanço forte, algo que supõe uma melhora de meio ponto na previsão para este ano.

A mesma coisa acontece com todos e cada um dos dados: a Europa prevê uma recuperação sólida da Espanha, mas, em cada um dos pontos importantes, suaviza o otimismo do Governo, que na semana passada apresentou um programa de estabilidade para os próximos quatro anos, mas também de olho nas próximas eleições.

Mais informações
O FMI situa a Espanha na dianteira do crescimento europeu em 2015
Espanha e EUA, os países onde mais cresce a desigualdade
Crescimento global continuará tímido até 2020, diz FMI
O emprego na Espanha cresce pela primeira vez durante a crise

As previsões econômicas são uma variante solene da dramaturgia. As do Governo precisam necessariamente ser lidas levando em conta a proximidade das eleições. As de Bruxelas relatam basicamente a mesma história, mas de modo menos adocicado, especialmente no tocante às duas variáveis cruciais da economia espanhola: o desemprego e as contas públicas, que causaram os maiores problemas ao longo da Grande Recessão.

O índice de desemprego está previsto para cair de 22,4% este ano para 20,5% em 2016 (o Governo prognostica uma queda de 22,1% para 19,8%; meio ponto de diferença equivale aproximadamente a algo mais que 100.000 desempregados). O déficit público será de 4,5% do PIB este ano e de 3,5% em 2016, com o risco sério de não serem alcançadas as metas da prometida redução fiscal; já o Executivo, alguns dias atrás, previa 4,2% e 2,8% para 2015 e 2-16. Para concluir, a dívida pública continua a crescer e fechará 2016 em 101,4% do PIB, em alta; já o Ministério da Economia dizia que a dívida vai começar a diminuir em 2016 e ficará em menos de 100% do PIB.

A Comissão Europeia não é tão otimista quanto o governo, mas prevê dois exercícios muito positivos. "Depois de uma recessão longa, o crescimento voltou", resume o informe, com a força proporcionada pela melhora do emprego, das condições financeiras e da confiança. Bruxelas vê uma recuperação liderada pela demanda interna: os cantos de sereia da recuperação por meio do setor exterior e da mudança de modelo produtivo estão perdendo força. A Espanha se beneficia da melhoria geral da Europa e, muito especialmente, da queda dos preços do petróleo e da desvalorização do euro propiciada pelas políticas expansivas do BCE. A contribuição do setor exterior será ligeiramente positiva em 2015 e 2016. Mas o motor da recuperação é a demanda interna, sustentada pela melhoria do emprego e pela recuperação do setor imobiliário, que está renascendo das cinzas dos últimos longos cinco anos: "Depois de sete anos de ajuste, está prevista uma ligeira retomada na construção", dizem as previsões.

O maior déficit da Europa

Os riscos se reduziram consideravelmente, mas no caso da Espanha a Comissão destaca os riscos associados ao processo de desalavancagem (a necessidade de reduzir o peso da dívida pública e, sobretudo, privada dos últimos anos) e a desvinculação do ciclo econômico espanhol e do resto.

O forte crescimento do consumo privado e do investimento chega em um momento de "volatilidade nos mercados financeiros e de desaceleração em várias economias emergentes". Além disso, Bruxelas tem dúvidas quanto aos esforços de consolidação fiscal diante "do impacto da reforma fiscal sobre as receitas, as dúvidas no setor rodoviário e os riscos associados ao ano eleitoral".

A Espanha terá o maior déficit público da Europa em 2015 e 2016, apesar da redução do desemprego (logo, dos subsídios) e de o crescimento dos juros ter diminuído graças à compra de ativos por parte do BCE. Se esses prognósticos se concretizarem, Madri não alcançará sua meta fiscal de 2016. Apesar desse dado, apesar da pressão fiscal espanhola estar quase 10 pontos do PIB abaixo da média –no mesmo nível que a Bulgária—e apesar das advertências de Bruxelas, o Governo prepara uma redução dos impostos. As fontes da Comissão Europeia consultadas sempre oferecem a explicação clássica da proximidade das eleições, mas também destacam os riscos representados por essa redução de impostos, diante do buraco que a Espanha continua a apresentar em suas contas públicas.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_