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“Aqueles policiais têm filhos que estudam com essas professoras”

Ferido por balas de borracha da PM do Paraná, Claudio esperava para examinar lesões Um dia após repressão a ato perto da Assembleia, professores decidem manter greve

Manifestante afetado por gás lacrimogêneo é atendido.
Manifestante afetado por gás lacrimogêneo é atendido.LEONARDO SALOMAO (AFP)

 "Fui atingido no rosto e causou essa lesão", disse Claudio Franco, exibindo as feridas abertas por três balas de borracha disparadas pela Polícia Militar do Paraná durante a violenta repressão à manifestação de professores em Curitiba na quarta-feira. Psicólogo e agente penitenciário, Franco contou que um policial evitou usar o cassetete contra ele quando percebeu sua função, pela camiseta que vestia. Além dos professores, que, em greve, lideravam a mobilização, outras categorias protestavam contra o projeto de mudança na previdência estadual, que acabou aprovado na Assembleia paranaense.

"Eu vi esse homem (o policial) chorando por trás da sua viseira. É de deixar o coração da gente partido. Fico pensando nas professoras que tem marido policial, policiais que estavam ali e tem filhos que estudam nessas escolas, com essas professoras. A gente entende que o responsável é quem deu a ordem para esses policiais, porque eles são apenas funcionários públicos como eu", seguiu ele, que diz ter votado no governador Beto Richa (PSDB) em contraponto a "esse roubo na Petrobras". "A covardia não tem partido, fazer o que..."

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Claudio Franco e um colega agente penitenciário, Bruno Bacila, estavam nesta quinta-feira entre as dezenas de manifestantes e policiais que aguardavam a vez no Instituto Médico Legal de Curitiba para realizar exame de corpo e delito.“Eu estava observando perto das barracas do acampamento quando uma bomba jogada pela policia militar quicou no chão e acertou minha cintura”, disse Bacila, que mostrou ferimentos severos. Eram parte dos mais de 200 feridos na ação do dia anterior, que já haviam prestado queixa das lesões e agressões em delegacias.

Nenhum dos casos representava risco de morte, mas o estado das lesões dava a dimensão da violência na quarta-feira, criticada em nota pela Anistia Internacional, pela oposição e tida como "proporcional" pelo governo e Polícia Militar do Paraná. A preocupação era com cicatrizes e danos estéticos permanentes.

Vários dos pacientes alegavam terem sido atingidos por munições não permitidas neste tipo de ação, mas nenhum conseguiu reunir provas materiais, ou cartuchos de munição proibida. O papel do IML é justamente estabelecer nexos de casualidade a partir dos laudos prontos, o que significa confirmar compatibilidade entre os ferimentos produzidos e os instrumentos alegadamente utilizados. Foram 53 exames realizados em manifestantes e 16 em policiais.

Nova manifestação

No Centro Cívico de Curitiba, cenário para a praça de guerra que virou o conflito no Paraná, amanheceu com os sinais de destruição. De manhã, havia carrinhos e barracas de ambulantes depredados, muito lixo e incontáveis cápsulas de bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e balas de borracha usadas pela polícia na ação. Foi a esse cenário que estudantes voltaram nesta quinta em novo ato para apoio aos professores feridos na véspera. Houve um princípio de tentativa de invasão da Assembleia e dois manifestantes acabaram detidos pela polícia interna do órgão, por desacato. Eles foram encaminhados para o primeiro distrito da capital, assinaram termo circunstanciado e foram liberados na sequência.

Bruno, ferido na manifestação.
Bruno, ferido na manifestação.Germano Assad

Ao mesmo tempo, duas reuniões aconteceram na sede do APP sindicato, que representa os profissionais da rede pública. Uma delas com a presença do deputado federal Paulo Pimenta (PT), que é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Casa. A outra, com o comando geral da greve, que reúne lideranças dos 29 núcleos do sindicato espalhados pelo estado. “Deliberamos sobre quais serão os próximos atos a partir da avaliação feita dos nossos 3 dias de mobilização”, disse Nádia Brixner, professora, funcionária de escola e diretora do APP sindicato.

“Nos reunimos com várias organizações, Ministério Público, Defensoria Pública, comissões de direitos humanos da assembleia legislativa, da prefeitura municipal, vários movimentos sociais, Comissão de direitos humanos da Câmara federal, para que possamos montar um dossiê bem completo de todas as ações feitas e fazer uma ação jurídica e dar visibilidade junto à organizações internacionais como a OIT, organização internacional dos direitos humanos, denunciando a barbárie que aconteceu ontem a mando do governador Beto Richa”, explicou Brixner.

Os professores decidiram permanecer em greve.

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