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O grande museu da Lava Jato

Museu de Curitiba abre exposição com novo lote de obras de arte apreendidas no caso Petrobras

Marina Rossi
Obra de Di Cavalcanti, que faz parte da exposição.
Obra de Di Cavalcanti, que faz parte da exposição.MON (Divulgação)

No último dia 19 de março, 139 obras de arte chegaram ao museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba (PR), sob uma forte escolta. Dentre os quadros que vieram do Rio de Janeiro em um caminhão seguido de carros da Polícia Federal havia obras de Miró, Djanira, Heitor dos Prazeres e Guignard. Essa foi a terceira vez, em um ano, que o museu recebeu obras dessa magnitude. Todas apreendidas na Operação Lava Jato, que investiga casos de corrupção na Petrobras. A Polícia Federal investiga indícios de que as obras, pagas em geral em dinheiro vivo, são parte da estratégia para lavar dinheiro.

A primeira leva de obras apreendidas nessa operação chegaram ao MON em maio do ano passado. Eram 16 quadros apreendidos da doleira Nelma Kodama. Dentre eles, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Cícero Dias e um Renoir, que, aparentemente é falso. "Estamos aguardando o laudo técnico", diz Juliana Vosnika, diretora-presidenta do MON. "Tudo indica que ele não seja autêntico". Como é de praxe, todas as obras que chegam ao museu passam por uma quarentena, para avaliar se estão contaminadas por fungos ou bactérias e passarem por um processo de higienização. Depois, são liberadas para a exposição.

A primeira mostra realizada pelo MON com as obras apreendidas foi inaugurada em janeiro deste ano. Mas, como em fevereiro chegou o segundo lote de obras, o museu decidiu lançar uma nova exposição, que será inaugurada nesta terça-feira 14, juntando quadros dos dois lotes. A exposição, chamada 'Obras sob guarda do MON', ficará aberta até o dia 12 de julho e contará com obras de Salvador Dalí, Orlando Teruz, Claudio Tozzi, Heitor dos Prazeres, Vik Muniz, Nelson Leirner, Sergio Ferro, Daniel Senise, Carlos Vergara, Miguel Rio Branco, Amilcar de Castro, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Aldemir Martins e Cícero Dias.

Essa segunda leva que chegou ao museu, de 48 obras, foi apreendida de Zwi Skornicki, dono da empresa Eagle do Brasil, representante comercial da Keppel Fels. Segundo Vosnika, todas as obras de Skornicki eram autênticas.  Para ela, a curiosidade do público pelo assunto pode estimular o interesse pela arte.

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Terceira leva

A mais recente leva de obras que desembarcou no prédio da capital curitibana projetado por Oscar Niemeyer foram resultado da 10ª fase da Operação Lava Jato. Dessa vez, o lote é composto de 131 telas, todas pertencentes ao ex-diretor da Petrobras, Renato Duque.

Como elas ainda estão sob estudo e quarentena, o MON ainda não sabe quando essas obras de Duque serão expostas. O museu também não divulga o valor dos quadros. "A importância das obras é de valor cultural", diz Vosnika. "É um lote de valor inestimável".

O objetivo do museu, que hoje é o responsável pela guarda das 203 obras apreendidas até agora, é que todos os quadros apreendidos se tornem parte do acervo permanente de lá. "Mas essa é uma decisão da Polícia Federal", explica Vosnika.

O Museu Oscar Niemeyer foi inaugurado em 2002, e marca a descentralização do circuito Rio-São Paulo de arte. O prédio de 35.000 metros quadrados de área foi projeto pelo arquiteto homônimo em 1967 e, até 2001, abrigava secretarias de estado. No início deste ano, o museu registrou recorde de visitação, como mais de 33.000 visitantes em janeiro, 40% a mais que no mesmo período do ano passado.

Obra de Djanira, do lote da Lava Jato.
Obra de Djanira, do lote da Lava Jato.

Os donos das artes da Lava Jato

Nelma Kodama

A doleira, que preferia ser chamada de Greta Garbo, foi presa no aeroporto de Guarulhos, quando tentava embarcar para a Itália, com 200.000 euros na calcinha. Kodama, que costumava se referir a si mesma como "a última grande dama do mercado" paralelo de dólares, foi condenada a 18 anos de prisão. Ela foi condenada por cinco crimes: evasão de divisas, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, operação de instituição financeira irregular e pertinência a organização criminosa.

Zwi Skornicki

Na delação premiada, o ex-gerente executivo da Petrobras, Pedro Barusco, revelou que Zwi Skornicki operava, juntamente com João Vaccari, para o PT. Skornicki, representante oficial do estaleiro Keppel Fels entre 2003 e 2013, era responsável pelas transferências bancárias de propina ao PT e a Barusco, em uma conta no Banco Delta, na Suíça. Segundo as investigações, Zwi Skornicki tinha bens de alto valor em casa, como joias e carros. Skornicki trabalhou na Petrobras nos anos 70, antes de ir para a Odebrecht para ajudar a montar a área de exploração de petróleo da empresa. Foi diretor-superintendente da Odebrecht Perfurações Limitada (OPL), braço da empreiteira para atuar no setor petrolífero, antes de representar a Keppel Fels.

Renato Duque

Preso na 10ª fase da Operação Lava Jato, Duque era ex-diretor de Serviços da Petrobras e foi acusado de ser o principal operador do PT nas manobras de corrupção na estatal. O ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse em depoimentos que Duque repassava 3% dos contratos que assinava para o partido. O nome de Duque também aparece nos depoimentos de Pedro Barusco, que era subordinado ao ex-diretor preso, e do doleiro Alberto Yousseff. Além disso, Duque teria transferido 20 milhões de euros (cerca de R$ 68 milhões) de contas na Suíça para outras em bancos localizados no principado de Mônaco.

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