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“Futuro Governo já sabe o que vai ocorrer com ajuste como o do Brasil”

Facundo Moyano, sindicalista de oposição, diz que greve é alerta para sucessor de Cristina

Carlos E. Cué
Grupo protesta durante greve na Argentina.
Grupo protesta durante greve na Argentina.Victor R. Caivano (AP)

Hugo Moyano é o sindicalista mais conhecido da Argentina. Já liderou quatro greves contra o Governo de Cristina Fernández de Kirchner. Seu filho, Facundo, também sindicalista, secretário-geral do sindicato de pedágios e deputado da oposição, resume o significado da greve atual. Acontece quatro meses antes das eleições primárias, e é um aviso não apenas para Kirchner, já de saída, mas especialmente para o novo Governo, já que são esperados fortes ajustes como o vivido atualmente no Brasil. Facundo Moyano deixa claro em entrevista ao EL PAÍS que a greve é uma demonstração de que o caminho do próximo Governo não será fácil.

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Pergunta. Esse é um aviso para o novo Governo em 2016?

Resposta. Não é o objetivo principal desta greve, mas claro que também pode ser vista dessa forma. Esta greve será acompanhada pela Casa Rosada [sede do Governo argentino], mas também por todos os presidenciáveis, que estão atentos. É uma mensagem clara: se num momento assim, com o movimento sindical dividido, fazemos esta greve, este protesto seria muito mais forte com um ajuste generalizado como o do Brasil. Agora sabem que vão ter que sentar e conversar.

P. O sindicalismo está recuperando a força na Argentina?

R. O Governo atual faz e desfaz como bem entende, tem maioria, pode votar as leis que quiser no Congresso, controla o dinheiro e as províncias, que dependem de seu financiamento. E age assim como se a realidade não existisse. Mas isso vai acabar. Todas as pesquisas deixam claro que o novo Congresso vai estar dividido, sem uma grande maioria. Vão ser obrigados a sentar e conversar com o movimento sindical.

P. Esperam um forte ajuste depois das eleições na Argentina?

R. Para nós o ajuste já existe. A inflação é um método de ajuste. Está sendo ajustado por ação ou omissão. Em 2014 houve uma perda de 5% do poder aquisitivo. A metade dos trabalhadores recebe 5.500 pesos (cerca de 1.950 reais). Acreditamos que vá a ocorrer uma desvalorização, em uma economia tão dependente do Brasil, o tipo de câmbio tira nossa competitividade. É preciso organizar os subsídios e uma série de fatores. Mas tudo deve ser feito com diálogo, sem que afete o bolso dos argentinos.

P. Essa é uma batalha pelo poder dentro do peronismo?

R. O peronismo está em muitos lugares. A Frente para a Vitória [o partido de Kirchner] quer tomar para si o monopólio do peronismo. Há muito peronismo lá fora. E agora estou apoiando Sergio Massa [candidato à presidência e ex-chefe de gabinete de Kirchner], aí existe peronismo. O Governo não pode continuar como se nada tivesse acontecido. Não sei se isso vai preocupar a presidenta, que está em seus últimos meses de mandato, mas acredito que vai jogar contra seu círculo, embora esse seja um assunto que não nos afeta.

P. De qualquer forma, a greve não é geral, no centro de Buenos Aires há movimento.

R. Tampouco esperemos que seja como um domingo ou feriado. A administração pública trabalha, os táxis também não pararam, muita gente vai trabalhar com o próprio veículo. De cada 26 viagens realizadas em Buenos Aires, apenas duas são em trem ou metrô. Mas a greve é um sucesso, é marcante, especialmente porque até a CGT [a parte do sindicato fiel à Kirchner] deu liberdade a seus afiliados.

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