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O dilema do magnata Carlos Slim

Entrada da AT&T no mercado das telecomunicações mexicano complica o plano de desinvestimento da América Móvil

David Marcial Pérez
O magnata mexicano Carlos Slim, em Gênova, em 2012.
O magnata mexicano Carlos Slim, em Gênova, em 2012.

Carlos Slim tem um dilema. A legislação antimonopólio mexicana impôs em 2014 duras penalizações contra a América Móvil, que controla a empresa de telefonia Claro, que foram respondidas pelo grupo com o anúncio, em julho, da decisão de aliviar peso em menos de seis meses para operar com mais liberdade. O prazo já acabou e o gigante de Slim, que controla mais de 60% do setor das telecomunicações, não concretizou seus planos. Mas o mercado mudou. A entrada de outro colosso em território mexicano, a norte-americana AT&T, pode dificultar a venda da América Móvil. Esperar, manter os ativos e continuar com as mãos atadas; ou vender para captar liquidez e lançar-se em outros mercados. Essa é a questão.

Na assembleia de acionistas de abril serão conhecidos os avanços

A reunião de acionistas da empresa, prevista para abril, será o cenário no qual os avanços serão conhecidos. Fontes do mercado dão como certo que dali sairá um plano de desinvestimentos mais pormenorizado. “A estratégia de venta deverá ser conhecida publicamente em maio, mas pode atrasar. Desde a chegada da AT&T no começo do ano, os planos de desinvestimento complicaram-se. As empresas que haviam mostrado interesse, o fizeram em uma situação de concorrência não tão forte”, diz Homero Ruiz, analista da Signum Research.

A China Telecom ou as norte-americanas Verizon e Sprint apareceram como possíveis compradoras. A própria AT&T era, até pouco tempo, outra das candidatas. Mas a recente compra de duas empresas de telefonia celular – Iusacell e Nextel – a colocam como a segunda operadora de celular em rendimento, comprimindo o mercado e consolidando-se como uma série ameaça para disputar a hegemonia de Slim no México, sem a necessidade de adquirir os ativos da América Móvil. “Nos próximos meses, serão conhecidos os planos de investimento da AT&T e é provável que aconteçam novas surpresas. Isso significaria mais pressão para o resto das operadoras”, diz Jorge Fernando Negrete, diretor da consultora MediaTelecom.

A América Móvil, com presença na América Latina e Europa Central, fechou o exercício de 2014 com ligeiros contratempos. Apesar dos números espantosos em relação a clientes – 289,4 milhões de contratos de celular, 34,3 milhões de linhas fixas, 22,6 milhões de acessos de banda larga –, os lucros do grupo no último trimestre registraram uma queda interanual de 80%, de até 222 milhões de dólares (701 milhões de reais). As vendas, de qualquer forma, aumentaram em 10%.

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“O impacto das medidas impostas pelo regulador ainda não aparece no exercício de 2014. As perdas têm a ver, sobretudo, com a depreciação do peso e o desabamento do preço do petróleo. Teremos que esperar pelo menos até o fechamento deste ano para avaliar como isso afeta a condição de preponderante”, sustenta Negrete. O grupo de Slim controla 84% do mercado mexicano de telefonia fixa e Internet através da subsidiaria Telmex e 70% da telefonia celular — com mais de 70 milhões de clientes — com a Telcel.

As penalidades do regulador de telecomunicações passam pela imposição de tarifas assimétricas (a Telcel não pode mais cobrar outras operadoras quando seus clientes ligarem para essas outras empresas), a eliminação do roaming nacional e a obrigação de compartilhar sua infraestrutura com outros concorrentes. A América Móvil teria que diminuir sua participação no setor de telecomunicações em pelo menos 11,4%, o que equivaleria a uma redução de pelo menos 19,5 milhões de usuários, fundamentalmente de telefonia celular, segundo as estimativas de Signum Research. “Se renunciar a seu domínio no mercado de celulares, não seria mais preponderante e conseguiria uma considerável liquidez para realizar outros investimentos”, explica Ruiz, ao considerar que o botim da operação de venda rondaria entre os seis e os 10 milhões de dólares.

Esse dinheiro seria, provavelmente, destinado ao novo setor que a América Móvil está considerando há certo tempo: a televisão a cabo. Slim já é líder na América Latina através da marca Claro. Mas o México é um dos poucos mercados que ainda resistem. Do outro lado do ringue, está a Televisa, o maior operador do país tanto em televisão a cabo quanto via satélite.

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