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O acento
El acento
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Ódio na Rede

O Twitter não pode se transformar em um reduto de impunidade para crimes contra os direitos fundamentais

Marcos Balfagón

Muito pouco depois de o avião da Germanwings que havia partido de Barcelona cair nos Alpes franceses com 150 passageiros a bordo, começaram a pingar no Twitter mensagens que mostravam um dos lados mais escuros da sociedade: o ódio. Enviadas de contas anônimas, tinham em comum a manifestação de alegria pelo fato de terem morrido catalães no acidente. Depois das primeiras notícias, alguns não hesitavam em desejar que todas as vítimas fossem catalãs e outros minimizavam o ocorrido da maneira mais infame: “Não façamos drama, no avião viajavam catalães e não pessoas”.

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As redes não funcionam só como um termômetro da temperatura emocional de uma comunidade em dado momento. Também são um espelho de seu nível educacional e de sua qualidade intelectual e humana. A partir desse ponto de vista, na terça-feira pudemos constatar com tristeza o muito que tem de melhorar a coletividade a que pertencemos. Deleitar-se com crueldade da desgraça alheia é ofensivo para as vítimas e para qualquer um que o leia.

Às deposições dos possuídos pelo ódio somaram-se, no fim do dia, comentários terríveis de telespectadores contrariados com o fato de a Telecinco ter suspendido o programa Mujeres y hombres y viceversa para transmitir um boletim especial sobre o acidente.

Se se tratasse de uma questão de sensibilidade, caberia apenas lamentar o grotesco e, talvez, exigir melhoras na educação. Mas, neste caso, pode-se fazer algo mais. Algumas das mensagens podem se encaixar no que o artigo 510 do Código Penal define como crimes de incitação ao ódio e à violência. São passíveis de processo e punição.

É algo a se comemorar que tanto o ministro do Interior como os Mossos d’Esquadra (a polícia da Catalunha) tenham ordenado identificar os autores das mensagens potencialmente delituosas. E os advogados agrupados na plataforma Drets.cat anunciaram que levarão à procuradoria 200 dessas mensagens. A investigação deve chegar até o final. A Rede não pode transformar-se em um reduto de impunidade para esses comportamentos, nem neste caso, nem em tantos outros que infelizmente aconteceram antes.

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