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As gordinhas já não estão sozinhas

Blogueiras que usam tamanhos grandes levam empresas a olharem para esse mercado

Ana Pizarro escreve no blog The Duchess.
Ana Pizarro escreve no blog The Duchess.

Com um crescimento anual de quase 5% na Europa, o setor dos tamanhos grandes está ganhando força e visibilidade. Iniciativas como a Passarela Curvy, que aconteceu na última Madrid Fashion Week, e o lançamento da marca Violeta by Mango ou da Couchel, a marca do Corte Inglés especializada em plus size, lançaram luz sobre um segmento que até recentemente ficava na penumbra. Quem está tendo um papel fundamental nesse processo são as blogueiras de tamanhos grandes, que detectaram o vazio que existia nos meios de comunicação tradicionais e o preencheram criando seu próprio star system. Nele reinam, por exemplo, GabiFresh, que iniciou quase sem querer uma campanha viral muito popular em 2013, quando publicou sua foto de biquíni com a etiqueta #fatkini e agora desenha sua própria linha de trajes de banho com a marca SwimSexy, e Nadia Auboulhosn, chamada de “Kim Kardashian do plus size”, que acaba de lançar uma coleção com a marca Boohoo.

“Somos uma espécie de intermediárias entre a marca e o consumidor e estamos muito envolvidas nisso. Acredito que fomos essenciais”, considera Bethany Rutter, a britânica está por trás do blog My Arched Eyebrow. Para Elena Devesa, cofundadora do portal espanhol WeLoverSize, que ostenta um milhão de visitas mensais, “a campanha dos #fatkinis, que levou milhares de mulheres que usam tamanhos grandes a postar fotos de biquíni nas redes sociais, marcou sem dúvida um antes e um depois nos meios de comunicação na hora de tratar as plus size. Essas blogueiras que mostram seus corpos sem pudor começaram uma revolução via Tumblr que demorou alguns anos para chegar à Espanha”.

Devesa e sua sócia, Rebeca Gómez, costumavam escrever em seus respectivos blogs do mundo curvy e decidiram se associar para lançar uma página mais completa: “A única coisa em espanhol que existia até a data eram curvy ego bloggers, ou seja, garotas que mostravam suas roupinhas e contavam de onde eram. Nós detectamos que as usuárias também precisavam ter contato com outras pessoas que estão passando pela mesma situação. Recebíamos muitas mensagens do tipo ‘eu adoro como fica, mas não me atrevo a usar isso’ e foi aí que decidimos que a mensagem tinha de ir muito além da roupa e atacar a autoestima”.

Rebeca Gómez.
Rebeca Gómez.

Rutter, que detesta, por exemplo, o estilo “típico de garota gorda bonita” da cantora Adele, mas admira o de Beth Ditto, cantora do Gossip, também se considera uma espécie de terapeuta de suas leitoras: “Quero que as mulheres gordas saibam que não estão sozinhas. Lendo blogs como o meu, é provavelmente a primeira vez que uma mulher gorda ouviu outra dizer ‘estou maravilhosa’, ‘sou atraente’, ‘minha vida é genial’. Certamente você não encontra isso nos meios de comunicação tradicionais”. A britânica rechaça o popular curvy porque lhe parece que se trata de um eufemismo e que não representa muitas mulheres de tamanhos grandes que não têm silhueta de ampulheta e faz parte de um subgrupo de ativistas que reivindicam a palavra fat (gorda). “Sou gorda. Adoro ser gorda. Por que iria chamar a mim mesma de outra maneira?”, diz. Na Espanha, entretanto, parece que a palavra gorda ainda soa muito agressiva e se fala principalmente em curvy e plus size. “Adoro essa terminologia porque define à perfeição como me sinto. No fim das contas, tenho tamanho grande, tenho mais peito, mais bumbum e mais barriga; sim, sou curvy", explica Ana Pizarro, uma bilbaína de 21 anos que faz o blog The Duchess. “Esses termos se afastam do típico ‘gorda’ que tanto ouvi na escola e que muitas outras se fartaram de escutar de forma depreciativa. Mesmo assim não tenho problema em dizer que estou gordinha”.

Elena Devesa do blog WeLoversize.
Elena Devesa do blog WeLoversize.

Pizarro valoriza os últimos lançamentos de marcas como Mango e Adolfo Domínguez, que comercializa sua linha AD+ há anos, embora ela prefira a H&M e a Primark. A eterna demanda de muitas blogueiras plus size espanholas é que a Inditex [grupo que fabrica marcas como Zara, e Massimo Dutti] as atenda, seja com uma marca específica ou incluindo tamanhos maiores em suas lojas. Mas não parece que isso acontecerá em breve, segundo Pilar Riaño, do portal Modaes, especializado em informação econômica sobre o setor têxtil: “Não faz parte da estratégia da empresa. A Inditex funciona com tipos de público, não com segmentos”. Riaño também acredita que as marcas podem sentir certa apreensão em se lançar nesse mercado porque “é uma questão delicada. Por fim, o que é um tamanho grande? Se colocar seus produtos dentro da mesma loja, como faz a H&M, você economiza esse debate”. A Mango sofreu essas críticas ao lançar a marca Violeta. Foi criticada por segregar os tamanhos grandes em lojas separadas e por considerar “grande” o tamanho 40. “Eles superaram essa crise inicial de comunicação e a aposta funcionou”, comenta Riaño. A linha já tem 94 pontos de venda em 18 países.

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