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Protestos pelo Brasil

Um mar verde e amarelo em Copacabana pede o impeachment

Cerca de 25.000 pessoas foram para as ruas do Rio de Janeiro, segundo a Polícia Militar

Felipe Betim
Milhares na orla de Copacabana, neste domingo.
Milhares na orla de Copacabana, neste domingo.R. MORAES (REUTERS)

Um mar verde e amarelo de cidadãos –autointitulados "cidadãos de bem”– se mobilizou neste domingo na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, contra o governo da presidenta Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. A passeata, que começou no posto 5 da Avenida Atlântica às 9h30, estava praticamente dividida entre aqueles que foram para demonstrar sua indignação e pedir mais ética na política, e os que exigiam o impeachment de Dilma Rousseff – ainda que o grito geral fosse, com punhos fechados no ar, “Fora Dilma, fora PT!”.

O ato foi liderado pelos grupos Vem pra Rua, Movimento Brasil Livre (MBL), Revoltados Online e Cariocas Direitos, e não contou com a presença de partidos políticos. Inclusive, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP) tentou subir em um dos carros de som, mas foi impedido pelos organizadores.

A Polícia Militar calcula que em torno de 25.000 pessoas estiveram presentes, uma multidão formada principalmente por pessoas das classes B e C de diferentes lugares do Rio. Jovens e idosos, famílias inteiras e grupos de amigos, que compareceram com uma camisa e o rosto pintado com as cores do Brasil, a maioria também levando cartazes que pediam a saída do PT do poder ou que relacionavam a corrupção e o comunismo com o partido. Vários moradores de Copacabana penduraram bandeiras do país em suas janelas para expressar seu apoio ao ato.

A estilista Adriana Balthazar, de 44 anos, uma das lideranças do grupo Vem pra Rua, pedia, do alto do primeiro carro de som, para que o “povo” fizesse “pressão”. Apesar de estar se manifestando livremente, ela acredita que Brasil não está vivendo em uma democracia plena. Não quer o impeachment, mas sim mudanças. “Acreditamos que só a população muda o país. Nosso objetivo é ocupar as ruas para pedir ética na política”, explicou.

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Dessa mesma forma opinou o casal Fabiola, de 32 anos, e Crispim, de 29 anos. Os dois, que são estudantes de Direito e Informática, respectivamente, e moradores do Méier, um bairro da zona norte, afirmaram estar indignados com a atual situação do país. “Queremos novas atitudes na política, mas não necessariamente a saída da presidenta Dilma”.

Para Adelson Alipio, de 55 anos, “não adianta fazer luta de classe se o povo está sendo massacrado”. Este professor de Geografia mora em Paciência, um bairro da zona oeste, e contou que vários de seus vizinhos não puderam comparecer ao ato por falta de condições econômicas. “Lá muitos estão sofrendo diariamente com a violência e o desemprego. Estou aqui hoje para que o país tome rumo, mas só de transporte estou gastando quase 30 reais. Nem todos podem gastar esse dinheiro".

Do segundo carro de som, onde estavam o MBL e os demais grupos, os organizadores animavam os manifestantes a exigir a saída da presidenta Dilma. “Lula pai do mensalão, Dilma mãe do Petrolão”, cantavam; “Lula cachaceiro, devolve o meu dinheiro”, gritavam; “A minha bandeira jamais será vermelha” e “fora PT!”, também apareceram no coro. “Quero agradecer à PM que está aqui nos apoiando. Eles sobem as favelas, têm salários medíocres, para nos proteger. Uma salva de palmas para a polícia!”, pediu em várias ocasiões Alan dos Santos, de 31 anos, uma das lideranças do MBL.

Este professor de filosofia desempregado –“e morador da baixada Fluminense, de Nova Iguaçu, para não pensarem que aqui só está a elite”– acredita que é a “força do povo” que impulsará um processo de impeachment. Disse que “o PT é anticonstitucional porque está ligado ao Foro de São Paulo”. E que o partido cometeu, em sua opinião, “um crime contra a probidade fiscal”. Mesmo apostando por um processo constitucional de impugnação do mandato, não quer que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assuma o Executivo, tal e como define a Constituição. “Defendemos um impeachment do partido", diz. "Ou seja, que toda a chapa saia e que o presidente do Supremo Tribunal Federal assuma o governo até as novas eleições”.

– Como o MBL se define ideologicamente?

– Anticomunista.

– Acredita mesmo que o PT está a ponto de dar um golpe comunista?

– O comunismo já existe, através do controle das estatais. Por isso defendemos a privatização de todas elas.

Eram poucos os manifestantes que pediam uma intervenção militar. Eram poucos, mas marcaram presença. O transportador escolar aposentado Luis Augusto Maia, de 54 anos, era um deles. “Chega de genocídio. Intervenção militar já”, dizia o seu cartaz. Para ele, os três poderes do país “estão completamente aparelhados por comunistas”. Disse que existe um “genocídio” no país, em que "morrem mais de 200.000 por ano em hospitais públicos e vítimas do narcotráfico". Segundo ele, "o impeachment significa tirar a mosca, mas a merda permanece. É preciso uma intervenção militar constitucionalista, que faça uma nova Constituição no tempo que for necessário".

O ponteiro já quase marcava 13h, o sol batia forte, quando os manifestantes começaram a se dispersar, depois de pouco mais de quatro horas de protesto pacífico. Nesse momento, Cléber Laginha, um morador de Copacabana de 51 anos, deixava a areia de praia depois de um rápido mergulho. Não participou do ato, mas admite que apoia o impeachment. “Mas sabe de uma coisa? Não vai adiantar nada. A corrupção existe desde Dom Pedro I, não foi inventada pelo PT. O problema é cultural, é de toda a sociedade. Isso daí só vai mudar é na sala de aula. Estamos aqui hoje brigando com nós mesmos”.

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