_
_
_
_
_

'Advogado de meio Congresso' celebra ausência de Aécio na lista da Lava Jato

Kakay diz que foi a Curitiba para evitar que "forçação" do MP justificasse investigação

Rodolfo Borges
O senador Aécio Neves, presidente do PSDB.
O senador Aécio Neves, presidente do PSDB.Gerdan Wesley (PSDB)

Na véspera da esperada divulgação dos 54 nomes que podem vir a ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava Jato, o telefone de Antonio Carlos de Almeida Castro não parava de tocar. “Advogado de meio Congresso” Nacional, em suas próprias palavras, Kakay, como é conhecido, vivia nesta quinta-feira, junto com seus potenciais cinco clientes senadores, entre eles os peemedebistas Edison Lobão e Romero Jucá, a expectativa de participar da fase política do maior escândalo de corrupção da história do país. De tênis, calças jeans e camiseta, o advogado circulava pelo lobby de um hotel localizado na rua Oscar Freire, em São Paulo, enquanto, entre telefonemas e trocas de mensagens, aconselhava um parlamentar a não publicar nota à imprensa em defesa própria e celebrava o fato de ter conseguido assegurar que o nome do senador Aécio Neves (PSDB) não apareceria na lista de 28 pedidos de abertura de inquérito entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF.

Mais informações
Procurador pede para arquivar investigações contra Dilma e Aécio
Relação do PT e PMDB vive teste decisivo com operação Lava Jato
‘Lista maldita’ da Lava Jato sacode política brasileira
Quem ganha e quem perde com a ‘lista maldita’?, por JUAN ARIAS

“Quando começou a circular a informação de que ele poderia ser um dos investigados, o Aécio me procurou e disse que isso não tinha nenhum sentido. Era um esquema do Governo na Petrobras. E, quando eu ainda era advogado do [doleiro] Alberto Youssef, — fui até ele fazer a delação —, eu perguntei sobre o Aécio, e ele [Youssef] disse que nunca tinha falado sobre ele”, conta Kakay, que, na sequência da conversa com o senador tucano, viajou para Curitiba, na última terça-feira, para checar as informações que poderiam levar o ex-candidato à presidência da República a ser investigado pelo Supremo. Segundo relato ouvido por Kakay de alguém que acompanhou o depoimento de Youssef conduzido pelo Ministério Público em setembro, “foram muito duros com ele, dizendo: ‘você tem que falar do Aécio’.”

O advogado, que rompeu com Youssef em setembro, quando o agora ex-cliente aceitou acordo de delação premiada, relata que a força tarefa da Operação Lava Jato teria ouvido de Youssef que o doleiro nem conhecia o senador, mas havia ouvido, do ex-deputado José Janene, que Aécio “atuava em Furnas e tinha influência sobre uma das diretorias” da estatal. Kakay conta que Youssef voltou a ouvir perguntas sobre Aécio em depoimento tomado pelo Ministério Público em fevereiro deste ano, no que interpreta como uma tentativa dos procuradores de atribuir uma ar de independência às investigações, ao envolver um opositor do Governo Dilma Rousseff no processo. “Por que perguntar sobre Furnas de novo se esse não é o objeto da investigação?”, questiona o advogado, que conseguiu do atual advogado do doleiro uma declaração por escrito de que houve uma “forçação” para o cliente mencionar o senador tucano.

De posse da nota, Kakay, que se orgulha de ter ajudado a inocentar dois réus no julgamento do mensalão (o marqueteiro Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes), buscou a procuradoria para se certificar de que a “grande chance” de Aécio vir a ser alvo de inquérito no STF não se concretizasse. Segundo o advogado, no fim das contas o procurador-geral foi prudente na decisão sobre o senador tucano, já que o “ouvi dizer” não serve para condenar ou inocentar. “Quem hoje tiver contra si aberto um inquérito, ainda que não seja denunciado, vai ter um prejuízo enorme”, diz Kakay, destacando que, até onde se sabe, Rodrigo Janot pediu o arquivamento do processo contra Aécio, o que impede que esses fatos voltem a ser alvo de investigação.

Ao saber que deve ficar fora da "lista maldita", o senador tucano disse que recebia como uma "homenagem" o arquivamento e que "foram infrutíferas as tentativas de setores do Governo de envolver a oposição na investigação". Em resposta, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, convocou entrevista coletiva para dizer que “se um delator fala certas coisas, cabe ao Ministério Público saber o que vai fazer com elas". "Imaginar que esses fatos pudessem ter sido incluídos por desejo governamental ou que o Governo fizesse pressões para que essas vias fossem tomadas, é absolutamente pueril. Se, no passado, governos agiam dessa maneira, não nos meçam por réguas antigas”, disse Cardoso.

Vencida a questão Aécio, para quem Kakay prevê uma "próxima semana de tranquilidade", resta aguardar a revelação da lista que, espera-se, deve incluir os senadores peemedebistas Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia, e Romero Jucá, ex-líder do Governo Dilma, ambos clientes do defensor. Questionado, o advogado prefere preservar a identidade dos outros dois senadores que aguardam a divulgação das dos nomes dos 54 implicados nos 28 pedidos de abertura de inquérito da PGR. "Hora de trabalhar", finaliza, afastando-se para volta a atender o telefone.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_