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A tirania da maratona de séries: prazer ou escravidão consentida?

Aos que não entraram de cabeça no novo 'House of Cards' resta tentar driblar os 'spoilers'

Natalia Marcos

O último fim de semana foi de House of Cards. O Netflix liberou ao mesmo tempo na sexta-feira os 13 capítulos da terceira temporada (conforme costuma fazer com as séries de produção própria). O fim de semana de maratona seriéfila estava à disposição. O fato de que toda a temporada esteja disponível para os seguidores da série faz com que as redes sociais e, sobretudo, o Twitter estejam repletos de mensagens pedindo a esses afortunados que tiveram tempo de ver todos os 13 capítulos que não estraguem a surpresa. A Internet se transformou em campo minado para os que não tiveram tanto tempo para isso. Já no ano passado, com o lançamento da segunda temporada, até Obama se antecipou pedindo no Twitter que os fãs da série controlassem seus comentários. A maratona seriéfila: prazer ou escravidão?

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Essas novas formas de consumo televisivo, nas quais cada um escolhe quando e como ver as séries, causam esse tipo de problema. É sábado à noite, e você já viu toda a temporada de House of Cards. E agora? Com quem vai comentar? Cada um vê em seu ritmo, por isso, antes de falar você tem de perguntar em qual capítulo a pessoa está, se não quiser correr o risco de que o outro te odeie eternamente por ter estragado algo importante. Um artigo do Buzzfeed indagava se o lançamento de todos os capítulos da temporada de forma simultânea pode chegar a provocar indigestão ao transformar a maratona em uma corrida a toda a velocidade. Alguns seguidores da série terminam consumindo os capítulos de modo compulsivo somente para chegar antes dos demais à meta e, assim, evitar os malditos estraga-prazeres. É a imposição da tirania da maratona seriéfila.

Nesse sentido, o que as maratonas de séries têm de positivo como experiência pessoal perdem como experiência compartilhada, já que são limitadas as possibilidades de comentar o que se acaba de ver. Imagine por um minuto que a HBO decidisse programar todos os capítulos de Game of Thrones de uma vez. Aplacaríamos nossa ansiedade para saber, sim, mas perderíamos o prazer de comentar, semana após semana, com os demais aficionados da série o que acontece em cada episódio.

No caso de House of Cards, você pode decidir vê-la de uma vez ou aos poucos. Se a opção é ir vendo pouco a pouco, sempre há a possibilidade de aplicar no Twitter filtros contra estraga-prazeres ou, mais complicado hoje em dia, permanecer distante da Internet até ter visto todos os capítulos. E logo surge a grande questão: quando podemos dar por finalizado o prazo contra estraga-prazeres para a terceira temporada de House of Cards? É uma pergunta para a qual ninguém tem resposta. Enquanto isso, teremos de aprender a sobreviver no mundo dos estraga-prazeres e a relativizar sua importância.

Ou irmos para o espaço. Sempre é uma opção.

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