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Presidenta do BC indica flexibilidade para subir taxa de juros nos EUA

Federal Reserve mantém como possibilidade a reunião em junho para encarecer o dinheiro

Janet Yellen, presidenta do Federal Reserve.
Janet Yellen, presidenta do Federal Reserve.KEVIN LAMARQUE (REUTERS)

Janet Yellen, presidenta do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), aferrou-se à paciência para assegurar em seu comparecimento semestral ao Senado dos Estados Unidos que a alta da taxa de juros não será feita logo. A opção de que aconteça em junho continua na mesa, mas pode haver alguns meses mais de margem para ficar completamente segura. É a primeira participação de Yellen diante de um Congresso com maioria republicana nas duas câmaras.

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Há certa confusão em Wall Street sobre o momento em que o Fed decidirá voltar a subir as taxas e, especialmente, sobre como vai começar a liberar a massa de ativos que acumulou para estimular a economia e combater o risco de deflação. Por isso Yelles precisou fazer um esforço maior em sua participação para explicar o caminho que vai seguir. O que está claro é que não será em março nem em abril.

Na apresentação inicial, antes de passar às perguntas dos senadores, Yellen seguiu a partitura e tratou de se dar certa flexibilidade para agir. Nesse sentido, explicou que se o termo “paciente” estiver ausente de um comunicado isso não deve ser interpretado como alta das taxas duas reuniões depois. Em seu tom, ela se mostrou positiva a respeito da marcha da economia dos EUA, como que preparando terreno para uma alta simbólica em junho.

Que neste ano haverá um encarecimento do custo do dinheiro é coisa assumida pelo setor financeiro, pelos economistas e pela maioria dos membros do Fed. O que não está claro é o quão longe se pensa levar isso em 2015. A taxa de juros nos EUA está estagnada em 0% desde dezembro de 2008. E o banco central tem ativos 4,5 trilhões de dólares. O programa de compra de títulos foi encerrado no último trimestre do ano passado.

A ata da reunião de janeiro já deu a entender que boa parte dos membros se inclinam a deixar o juro em 0% por um longo período. Consideram que há mais riscos para a economia em mudar de forma prematura que fazer isso com mais calma. Isso reforçou a ideia de que o próximo passo rumo à normalidade monetária será dado mais para setembro que junho ou julho. Yellen, em sua intervenção, tratou de não se prender a um calendário.

Mecanismo

A próxima reunião do Fed está prevista para 18 de março e inclui entrevista coletiva de Janet Yellen. Caso seja mantido o objetivo de mexer nas taxas em meados do ano, o lógico é que o termo “paciência” fique fora do comunicado final. De fato, a participação da presidenta serviu para assegurar ao mercado que não começará a pisar no freio dos estímulos monetários antes que essa palavra desapareça, como fez também Alan Greenspan (ex-presidente do Fed).

Quer dizer, como explicou, que a partir deste momento a situação será analisada “reunião a reunião”. “Se a economia continuar melhorando, como estima o Fed”, acrescentou, o banco central “começará a considerar a qualquer momento a elevação das taxas”. “Faremos isso quando estivermos razoavelmente confiantes”, afirmou. A partir de então expôs, num discurso muito pensado, equilibrado e sempre cauteloso, o mecanismo de retorno à normalidade monetária.

Yellen confirmou que a atividade econômica nos EUA se expande com solidez e que as condições do mercado de trabalho continuam melhorando, embora tenha evitado destacar critérios econômicos que antecipem o próximo movimento. Parecia na verdade mais preocupada com o que se passa fora, e fez referência à volatilidade vivida pelos mercados, em razão da pressão pela queda da inflação, a debilidade da economia mundial e a força do dólar.

Europa e China

Sobre a situação da Europa, ressalta que a recuperação continua a ser lenta demais, e a inflação está muito baixa. Mas se mostrou confiante em relação às medidas anunciadas pelo Banco Central Europeu para estimular o crescimento e o equilíbrio dos preços. Ela dá como outro tema preocupante o reequilíbrio da economia da China.

A opinião do Fed é que o risco de deflação fora dos EUA, em boa parte motivado também pela queda do preço do petróleo, faz que a inflação se mantenha abaixo de 2%. Assim, o que está por ser visto nas futuras decisões é onde Yellen vai pôr mais peso na balança, se nas condições econômicas internas ou na conjuntura externa. “Quando vamos subir as taxas será uma demonstração de confiança nos fundamentos da economia”, concluiu.

Mas o mais complicado nesse contexto, com forças em sentidos contrários, é como o Fed vai comunicar a primeira elevação de taxas desde junho de 2006. Até agora, a linguagem foi a principal arma à disposição do Fed para manter a calma do mercado. Só que, conforme se aproxima o início do processo de normalização, essa ferramenta se torna cada vez mais limitada.

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