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Oposicionista Leopoldo López completa um ano preso na Venezuela

O Governo de Maduro ignora os apelos internacionais por sua libertação

CATALINA LOBO-GUERRERO
Leopoldo López, no dia 18 de fevereiro de 2014, quando foi preso.
Leopoldo López, no dia 18 de fevereiro de 2014, quando foi preso.AFP

Em 18 de fevereiro de 2014, milhares de venezuelanos saíram às ruas de Caracas vestidos de branco e agitando bandeiras nacionais para manifestar seu apoio ao político oposicionista Leopoldo López, depois da notícia de que ele era alvo de um mandado de prisão. Entre gritos e lágrimas, alguns de seus seguidores imploravam para que ele não se entregasse. “Eu me apresento perante uma Justiça injusta”, gritou ele pelo megafone, antes de se entregar voluntariamente à Guarda Nacional, que o levou embora em um veículo blindado.

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Desde então, López está detido na prisão militar de Ramo Verde, de onde só sai para ir às audiências do julgamento em que é réu. O político é acusado de ser o mandante da violência de 12 de fevereiro, quando uma manifestação pacífica terminou com atos de vandalismo contra a sede da Procuradoria Geral, a queima de veículos oficiais e a morte de dois manifestantes nas mãos de agentes de segurança do Estado. Embora López já tivesse deixado o local na hora dos incidentes, foi indiciado por conspiração, incitação ao crime, intimidação pública, incêndio e dano à propriedade pública, homicídio doloso qualificado e terrorismo. Pouco tempo depois do início do processo, as acusações de homicídio e terrorismo foram retiradas. Embora as audiências sejam supostamente públicas, o acesso foi vedado a todos os meios de comunicação. Algumas personalidades oposicionistas que apoiam López também foram proibidas de assistir. O pai do político tentou utilizar lentes de espionagem para gravar uma das sessões, mas foi descoberto e agora também está impedido de entrar no recinto do tribunal.

Até agora, segundo Juan Carlos Gutiérrez, advogado de López, foram ouvidos os depoimentos de 38 testemunhas, todos eles funcionários da polícia judiciária ou da Promotoria, que se constitui como acusador e vítima no processo. A juíza não admitiu nenhuma das testemunhas da defesa. “Todas as provas são de parte da Promotoria, é um monólogo probatório, porque não há uma correlação de argumentos e de provas”, denuncia. Apesar disso, Gutiérrez assegura que nenhum dos funcionários apontou López como responsável pelos fatos violentos daquele 12 de fevereiro.

Nos próximos dias, devem se apresentar dois linguistas que fizeram uma análise do discurso do líder político. Segundo Gutiérrez, ambos são de tendência governista. Dentro do Governo, há funcionários que sustentam que López é o autor intelectual das guarimbas (manifestações com distúrbios) porque tem poderes de convencimento “subliminares”. O presidente Nicolás Maduro, que se refere a López como “o monstro de Ramo Verde”, diz que ele é “o rosto do fascismo”. Em 23 de julho do ano passado, Maduro condenou preliminarmente López em um discurso televisionado: “Ele tem que pagar, e vai pagar, simples assim”. Se for condenado, López pode cumprir até 14 anos de prisão.

O Governo ignora os apelos internos e externos pela libertação de López. Um parecer do Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenções Arbitrárias determinou no ano passado que não há razão para manter López detido e que o Estado venezuelano estava violando seus direitos humanos, civis e políticos. O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos declarou publicamente que o Governo tem a obrigação de acatar a decisão da organização internacional.

A esposa de López denunciou que ele foi vítima de uma violenta revista em sua cela

A esposa de López, Lilian Tintori, ex-esportista e apresentadora de televisão, transformou-se em porta-voz da causa do marido dentro e fora do país. “A minha vida mudou completamente, tenho muitas responsabilidades. Estou criando os filhos da melhor maneira possível para resistir e não nos cansarmos”, conta Tintori, que vai da prisão a atos políticos locais e a reuniões de alto nível internacional para procurar apoio. Recentemente, esteve com o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e com o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza. Também bateu à porta de algumas organizações internacionais de direitos humanos, como Human Rights Watch e Anistia Internacional, e de antigos e atuais governantes estrangeiros, como o espanhol Mariano Rajoy.

Dois ex-dirigentes latino-americanos, o colombiano Andrés Pastrana e o chileno Sebastián Piñera, foram convidados a Caracas e tentaram visitar López na cadeia. A visita não foi autorizada e gerou atritos diplomáticos com o Chile e a Colômbia. O Governo colombiano, através de um comunicado da Chancelaria, disse esperar que López recupere logo a liberdade, um gesto de solidariedade ao líder oposicionista que nenhum país da região se atreveu a fazer de maneira oficial.

Tintori denunciou na semana passada que López havia sido vítima de uma revista violenta em sua cela, onde é mantido isolado. Segundo ela, foi uma represália por suas reuniões de alto nível no exterior. O EL PAÍS havia enviado um questionário a López, mas, segundo a família e o advogado, os documentos que López mantinha na cela foram destruídos. O Governo nega que López seja castigado com o isolamento, como afirma a família de forma recorrente.

Há alguns meses, a promotora Luisa Ortega publicou fotos onde se via López assistindo a uma missa junto com outros prefeitos de oposição que também estão detidos. Segundo o advogado Gutiérrez, última pessoa a visitar López, no começo da semana, a prisão está fortalecendo o dirigente oposicionista, que se dedica a ler, escrever e prosseguir sua preparação política. López esteve com os direitos políticos cassados até 12 de dezembro, e que o obrigou a retirar sua candidatura presidencial em 2012 e apoiar Henrique Capriles. Nas pesquisas de opinião locais, ele é hoje o principal rival de Capriles dentro da oposição, que convocou para hoje um ato público em solidariedade ao político preso.

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