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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O petróleo agita a América Latina

As petrolíferas com participação pública devem ser transparentes e bem administradas

Uma das primeiras consequências da queda do preço do petróleo foi o rápido enfraquecimento das empresas petrolíferas de caráter estatal que canalizam, totalmente ou em parte, a riqueza do petróleo dos países produtores. Essa depressão é detectada com intensidade especial no caso das petrolíferas latino-americanas, da Petrobras à PDVSA. É claro que na Petrobras ocorre também um caso de corrupção amplo e intenso; mas o problema principal é o mesmo do que no resto das petrolíferas nacionais da Argentina, Venezuela, Colômbia e México, ou seja, a incapacidade em dar uma resposta rápida à queda do preço do petróleo. Na configuração do negócio petrolífero, o princípio que costuma ser cumprido praticamente sem exceções é que as empresas dedicadas somente à extração e venda de petróleo enfrentam grandes dificuldades quando o preço da matéria-prima cai bruscamente; as que menos sofrem o impacto da queda dos preços são as companhias integradas que dispõem de atividades de refino ou comercialização.

O primeiro ponto importante da posição das petrolíferas nacionais radica logicamente na evolução imediata do preço do barril. Hoje está claro que o preço começa a crescer e que essa será a tendência dominante durante os próximos meses. Os analistas que, como em quase todas as atividades, costumam equivocar-se, usam a progressiva recuperação da demanda para justificar a continuação da tendência de alta. O segundo ponto importante é qual será a velocidade de recuperação do preço; os mesmos analistas, com os mesmos riscos de erro, sugerem um amplo leque de possibilidades, dos que dizem que o preço pode chegar aos 70 dólares (198 reais) no final do ano, aos otimistas que preveem uma subida até os 80 dólares (226 reais).

O último ponto a ser destacado é qual será o valor do investimento. Com o preço atual, as petrolíferas nacionais simplesmente aproximam-se da ruína. Não somente pela diminuição da renda, mas porque seus investimentos em exploração ficaram momentaneamente desvalorizados. Nos preços atuais (o Brent gira em torno de 57 dólares [161 reais]), não existe investimento rentável possível em exploração convencional e fracking. O mínimo aceitável está em torno de 80 dólares. Enquanto se atinge esse preço, o mercado está expulsando a produção mais cara e este é um dos fatores de correção no qual os especialistas confiam.

As empresas públicas do setor não podem ser somente uma máquina de extrair mais-valias

Para as petrolíferas estatais o preço é somente uma advertência – pode ser grave, mas conjuntural se a cotação se recuperar – de que não podem operar somente como máquinas extratoras de mais-valia dos hidrocarbonetos que, além disso, pode ser manipulada para que os governos consigam os votos. Da queda petrolífera (propiciada pela Arábia Saudita), os governos latino-americanos deveriam tirar duas lições principais: os hidrocarbonetos são uma riqueza que o dominador do mercado pode manipular arbitrariamente e que as petrolíferas não podem utilizar-se deles (como no caso evidente da Argentina) para mascarar os preços pagos pelos consumidores nacionais. Dessa forma, as companhias nacionais quebram e o suposto maná da riqueza petrolífera é dilapidado.

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