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Prefeitos latino-americanos testam “vacinas” contra a violência

Três cidades com alta taxa de homicídio aplicam fórmulas que não passam pela linha dura

Crianças em centro recreativo em Cáli, na Colômbia.
Crianças em centro recreativo em Cáli, na Colômbia.ISABELLE SCHAEFER

É uma discussão que se repete nos meios de comunicação e nas campanhas políticas dos países mais afetados pela violência criminosa: é preciso aplicar em maior escala a linha dura, ser mais implacável e até considerar a possibilidade da pena de morte para os casos mais graves.

Mas alguns governantes locais da América Latina estão mostrando em seu território que nem sempre usar a violência para reduzir a violência é a melhor opção. E que às vezes, com medidas simples, práticas e de muito baixo custo, são obtidos resultados positivos.

Durante uma visita à sede do Banco Mundial, em Washington, três prefeitos de cidades consideradas entre as mais violentas da região compartilharam suas fórmulas pouco convencionais para resolver um problema que em muitos países afeta principalmente os jovens e é a principal preocupação da população.

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Há muito tempo essa instituição considera a insegurança da população como um dos grandes temas do desenvolvimento no futuro e trabalha junto aos Governos dos países, mas também de Estados e municípios, para apoiar enfoques diferentes e soluções práticas e inovadoras para o tema da violência.

Epidemiologia da violência

Um exemplo é Rodrigo Guerrero, prefeito de Cali (Colômbia), que em seus dois mandatos como governante local (1992-1994 e 2012-2015) aplicou seus conhecimentos de médico epidemiologista para tratar as altas taxas de homicídios em sua cidade da mesma forma que se faria com uma doença de origem desconhecida.

"É um método que chamo de 'Epidemiologia da Violência' e que já é aplicado em várias cidades da Colômbia e também em outros países."

Essa análise científica da realidade fez com que as autoridades tomassem medidas diferentes em regiões diferentes. Em alguns lugares foi melhorada a iluminação pública, em outros foi proibida a venda de álcool depois de determinado horário, em outros, foi aumentada a presença da polícia.

O desafio para Guerrero, quando aplicou esse método pela primeira vez, há mais de 20 anos, foi demonstrar que isso que ele pretendia tratar como se fosse uma epidemia poderia efetivamente ser erradicado.

"Cali tinha um índice de 126 assassinatos por 100.000 habitantes, quando entrei estava em 83, agora está em 62. É uma taxa de homicídios que ainda consideramos inaceitável, mas continuaremos a baixá-la, porque já sabemos como atacar o problema criteriosamente", diz Guerrero.

Ele afirma que seu maior êxito não é Cáli, e sim Bogotá, porque os prefeitos que o sucederam em sua cidade não aplicaram seus métodos, mas na capital colombiana suas recomendações foram seguidas por três mandatos seguidos, e a taxa de homicídios caiu de 80 para 18 por 100.000 habitantes.

Prevenção e emprego

Desafio semelhante teve Alexander López, prefeito de El Progreso, no Norte de Honduras, perto da fronteira com a Guatemala, um dos pontos pelos quais passa boa parte da cocaína em trânsito para os Estados Unidos.

Em uma região dominada pelo narcotráfico, num dos países mais violentos do mundo, para muita gente pareceu uma ousadia que a cidade pusesse em prática o que foi chamado de "Plano 80-20", que consiste em 20% de medidas repressivas (uso da força policial, sanções etc) e 80% de medidas preventivas.

"Recuperamos 350 espaços públicos, e se trabalhou para melhorar a iluminação pública, criamos 5.000 microempresas, reduzimos o horário de locais noturnos, como as discotecas", lista López entre as ações que fazem parte dos 80% de prevenção.

"O simples fato de diminuir o horário até as duas da manhã nos ajudou a diminuir os índices de violência", diz.

Segundo seu colega "Tito" Asfura, prefeito de Tegucigalpa, a insegurança é a soma de diferentes problemas, como o acesso à água e ao saneamento, a creches e a clínicas, entre outros. "Trata-se de temas que no final afetam as pessoas. A soma de muitas coisas", afirmou.

"O problema da insegurança é, acima de tudo, de falta de trabalho", diz Asfura. Apenas no ano passado seu governo investiu 24 milhões de dólares para capacitar mais de 1.500 microempresários e em outras ações para estimular o emprego.

Essa relação entre geração de emprego e redução da violência se revelou também em El Salvador durante a implantação de um programa para gerar empregos para jovens, posto em marcha em 2008. "Embora a mitigação da violência não fosse o objetivo do programa, onde o executamos percebemos uma queda na violência", diz Humberto López, diretor para a América Central do Banco Mundial.

Para López, combater o crime e a violência exige mais esforços em que se cruzem as variáveis e os dados relativos ao emprego, necessidades sociais, estatísticas de criminalidade, para "acompanhar o número de homicídios, onde ocorrem, e comparar essa informação com outras variáveis, para entender melhor o motivo da violência".

Com essa ideia em mente, o Banco Mundial apoia em Honduras a criação de um Observatório da Violência, com colaboração com universidades e com o Governo do país.

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