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Eterna ‘Garota de Ipanema’ é musa da comemoração dos 450 anos do Rio

Helô Pinheiro, que inspirou a canção de Tom e Vinícius, relembra relação com os músicos

Heloísa Pinheiro, em sua casa de Ipanema.
Heloísa Pinheiro, em sua casa de Ipanema.Daniel Marenco

Tom Jobim pediu sua mão em 1965, pouco antes de o namorado dela acelerar os planos de casamento para evitar riscos. A menina que aos dezessete anos havia inspirado uma das canções mais populares do século XX tinha quase vinte e estava sob os holofotes, sem querer, por causa dos olhos verdes e da silhueta que tinha deslumbrado Jobim e seu companheiro de trabalho, o poeta Vinicius de Moraes, quando fazia seu trajeto diário entre a escola e da praia. O músico e poeta, como se sabe, tinham o hábito de se reunir para beber cachaça e compor na varanda do bar Veloso, na rua Montenegro, a duas quadras da praia de Ipanema. "Eu só sabia que eles eram intelectuais e artistas, nada mais. Brincavam, assoviavam, era a época do 'fiu-fiu' ... Eu morria de vergonha ". Hoje a rua Montenegro se chama Vinicius de Moraes, cujos versos consagraram, com uma uma melodia simples e elegante, a legendária beleza feminina das praias cariocas.

Heloísa Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro há mais de 68 anos, mas ninguém diria. Ela mora entre São Paulo e sua espaçosa casa de Ipanema. Às onze da manhã já foi ao cabeleireiro; usa um vestido azul de verão, longo e justo. "Vinicius e eu tivemos uma relação platônica (não correspondida, acrescentou depois), ele era muito carismático, mas Jobim era muito bonito e me adorava... Um dia ele me disse que seu primeiro casamento estava afundando e perguntou se eu queria casar com ele. Voltei para casa com uma sensação estranha que se confundia com a admiração que tinha por ele." O compositor de maior sucesso da música popular brasileira acabou sendo, um pouco mais tarde, seu padrinho de casamento e um amigo "da vida toda." A amizade entre as duas famílias durou até a morte do músico, em 1994, por motivos que ela diz desconhecer.

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É fácil ser a 'Garota de Ipanema'? "Não muito", diz Heloísa Pinheiro às onze e meia, enquanto come um pão de queijo com refrigerante sem açúcar: "Já não sou 'garota'... No começo, a vida é uma festa, mas depois chegam a idade e as responsabilidades, as comparações... Fica difícil transmitir ao público uma energia positiva." Heloísa é musa nas comemorações dos 450 anos da 'Cidade Maravilhosa'. Estudou jornalismo e trabalhou durante décadas em redes de televisão, paixão que divide hoje com uma loja de roupas.

Sua primeira lembrança da canção que transformou sua existência para sempre é de uma tarde, enquanto passava diante do Veloso, e um fotógrafo amigo de Tom e Vinicius tirou uma foto porque havia inspirado uma canção "muito bonita" que os autores pensavam terminar na cidade serrana de Petrópolis. Muitos meses passaram, sem notícias. "Eu era modelo, mas fazia anúncios e coisas de bairro, não era como hoje...", recorda. Não era uma top-model? "Não, nem na imaginação, meus pais não deixariam". Até que "a coisa explodiu. E eu já tinha namorado." O casal anunciou oficialmente o noivado e Heloísa participou de vários concursos de beleza. Apareceu na televisão. Foi muito popular. Posou nua na edição brasileira da Playboy. E um dia, conta, passou de morena a loira quando descobriu alguns rebeldes cabelos brancos.

Heloísa Pinheiro se arrepende de ter sido tão obediente à família quando era jovem, mas transmite uma energia típica desses anos, algumas horas antes do Carnaval do Rio (do qual participa) invadir as ruas e de ela ser homenageada pelo público. "Meu sonho é trabalhar na TV Globo", ri em um instante. "Você pode colocar isso."

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