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Nome de Bendine traz de volta incerteza ao cenário financeiro

Executivo desperta desconfiança pela sua proximidade com a presidenta Dilma Mercado também não vê com bons olhos falta de experiência no mundo do petróleo

Carla Jiménez
Bendine em conferência de imprensa do BB em 2011, em São Paulo.
Bendine em conferência de imprensa do BB em 2011, em São Paulo.Paulo Fridman (Bloomberg)

O Conselho de Administração da Petrobras confirmou o nome de Aldemir Bendine, o atual presidente do Banco do Brasil, para assumir o timão da companhia. A informação, que começou a circular nas primeiras horas desta sexta-feira, frustrou os agentes financeiros que esperavam um nome de peso para reverter o pessimismo em torno da estatal, imersa em denúncia com a operação Lava Jato. A indicação, feita pela presidenta Dilma Rousseff, foi mal recebida no mercado, pela pouca afinidade do executivo com o mundo do petróleo, uma vez que a sua experiência se resume apenas ao maior banco público do país, onde ingressou em 1978.

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Se o verniz diplomático para relacionar-se com o mundo político o ajudou a chegar à presidência do Banco do Brasil em 2009, o mesmo perfil é visto com desconfiança para suceder Graça Foster, numa empresa que precisa exatamente quebrar um esquema de corrupção endêmica que está de mãos dadas com o sistema político brasileiro. O desvio de bilhões de reais da empresa foi feito com a ingerência de representantes de partidos — entre eles, o PT — segundo as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. “A expectativa era ter alguém com um profundo conhecimento técnico da área de petróleo, e personalidade para resistir a influências externas. Bendine é o avesso do que se esperava, e com ele, voltam as incertezas”, avalia Sidney Nehme, diretor da NGO Corretora.

O economista Cláudio Frischtack classificou a indicação de uma “resposta medíocre” para a crise na Petrobras. “Um símbolo do país foi tomada de assalto por partidos políticos, que levaram a números inacreditáveis e erros colossais. A solução apresentada [para substituir Foster] é equivocada”, afirma.

Firschtack chama a atenção ainda para a pressa em escolher um executivo num momento tão delicado como o atual. Foster entregou a sua renúncia há dois dias e o mais indicado, segundo o economista, seria escolher alguém que exercesse um mandato tampão até encontrar a pessoa certa que assumisse a difícil tarefa de colocar a Petrobras nos eixos, estancando o esquema de corrupção infiltrado há décadas.

Vários nomes do setor privado estavam sendo cotados, entre eles o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Rodolfo Landim, ex-executivo da EBX, e Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, assim como o atual presidente da mineradora, Murilo Ferreira. Entre os executivos sondados, alguns teriam recusado a proposta por temer o alcance da teia corruptora que até o momento é desconhecido, mas pode expor novos desvios no futuro. Assim, o próximo número um poderia ser responsabilizado judicialmente por crimes da companhia, ainda que ele fosse recém-chegado à Petrobras.

Para o economista Paulo Rabello, a escolha reflete bem a dificuldade de trazer alguém de fora de um time que já está montado. “O que a Petrobras precisa não é apenas de um CEO. Precisa de alguém que respeite os acionistas e faça a Petrobras voltar a atuar como uma empresa, e não um cabide político”, diz Rabello. Para tanto, o ideal era ter alguém com carta branca para atuar. O presidente de um banco público não transmite a confiança de que terá independência diante de desafios tão complexos para a Petrobras.

Ao fim e ao cabo, Bendine ficará na presidência da Petrobras exatamente por falta de candidatos e pela pressão de dar uma resposta rápida ao mercado depois da renúncia de Foster nesta semana. “Quem, da iniciativa privada, assumiria a Petrobras agora, e colocaria a cara a tapa [para assinar] o balanço? Teria, de qualquer jeito, de ser uma criatura política nesse momento. É o melhor cenário, no pior dos mundos”, opina uma observadora do setor financeiro.

Nascido em Paraguaçu Paulista, interior de São Paulo, Bendine entrou no Banco do Brasil aos 16 anos, como estagiário. Desde então, passou por diversos cargos no Banco do Brasil até chegar à presidência, em 2009.

Quem o conhece bem o descreve com um técnico muito qualificado, e respeitado pelos agentes do setor financeiro. Agora, porém, ele terá de mostrar qualidades superlativas para dirigir as tormentas do mundo do petróleo, e da Petrobras. Não só isso: a companhia, com 86.000 funcionários, atravessa um inferno astral, atormentada pelas investigações judiciais que sacode o Brasil, e paralisa a economia brasileira. 

Desde as primeiras horas desta sexta-feira, quando o nome de Bendine começou a circular como o sucessor de Foster, as ações da empresa caíram cerca de 8%. Um movimento oposto à euforia que o anúncio de Joaquim Levy na Fazenda, por exemplo, trouxe ao mercado no final do ano passado. Além de Bendine, o Conselho de Administração da Petrobras anunciou os nomes que substituirão os cinco diretores que renunciaram junto com Foster na última quarta-feira. Ivan de Souza Monteiro, que trabalhava no BB com Bendine, é o novo diretor Financeiro, em substituição a Almir Guilherme Barbassa. Outros executivos com cargo gerencial na Petrobras vão exercer o cargo de diretores interinamente.

Colaborou Heloísa Mendonça

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