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Polícia teme onda de protestos por causa da falta de água e de luz

Relatório entregue ao comando da PM já prevê que, se situação não melhorar, população pode ir às ruas

Manifestante em frente ao Palácio dos Bandeirantes, no dia 26.
Manifestante em frente ao Palácio dos Bandeirantes, no dia 26.SEBASTIÃO MOREIRA (EFE)

“Este ano o Corinthians tem de ser campeão de tudo. Alguma alegria o povo tem que ter, porque já não tem água nem luz”, diz Marcos Tavares, um corintianíssimo zelador de um prédio na zona oeste de São Paulo. Torcedor do time mais popular o Estado, esse funcionário responsável por administrar um edifício de 32 apartamentos tem razão em temer um ano difícil. O prédio em que ele trabalha tem a diminuição da pressão da água por 17 horas por dia e ao menos duas vezes por semana a energia é cortada por algumas horas. Na casa de Tavares, na periferia da zona norte, a situação é semelhante. “O povo não aguenta mais. O assunto nos botecos é sobre a incompetência dos políticos que deixaram a gente assim. É um xingamento mais pesado que o outro”, afirma.

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A insatisfação de boa parte dos habitantes da maior metrópole do país preocupa as autoridades de segurança. No fim de 2014, o Comando da Polícia Militar paulista recebeu um relatório de seu setor de inteligência em que cita que o Estado pode enfrentar neste ano uma onda de protestos por conta da falta de água e de luz. O documento diz que os policiais deveriam estar preparados para manifestações semelhantes às da que ocorreram em meados de 2013 quando milhares foram às ruas por conta do aumento da tarifa do transporte coletivo.

“Acendemos um sinal amarelo. Antes nos preocupávamos apenas com os black bloc que iam aos protestos contra o aumento dos ônibus. Agora, achamos que eles podem participar de atos contra a falta d’água”, diz um oficial da PM que trabalha na região metropolitana de São Paulo.

Outro policial, que é responsável por um batalhão da capital, disse ao EL PAÍS que já estuda inclusive proteger os caminhões-pipa que forem contratados por empresas privadas e condomínios para abastecê-los. Na visão dele, essa não seria uma maneira de privilegiar a iniciativa privada, mas uma forma de evitar que uma comoção popular cause danos a outros cidadãos, afirma. “Você já pensou se passássemos a registrar um monte de casos de saque de água? É uma situação que só imaginávamos em um deserto”, afirmou o policial.

Como o assunto ainda não foi discutido por todas as instâncias internas da PM, nenhum dos sete policiais ouvidos pela reportagem autorizou a divulgação de seus nomes. Mas o tema não saiu da pauta de discussões dos policiais. Alguns já preparam suas tropas para as manifestações, inclusive violentas.

Os maiores temores dos PMs é que se repita em outras cidades do Estado o que já ocorreu em Itu (cidade localizada a 101 km da capital paulista) em outubro do ano passado, quando moradores que recebiam água dia sim, dia não, promoveram uma série de protestos e chegaram a depredar prédios públicos. Na ocasião, os caminhões-pipa da prefeitura que abasteciam reservatórios públicos tiveram de ser escoltados por agentes da Guarda Civil.

Até agora, apesar da gravidade do problema, foram poucas manifestações contra as crises hídrica e energética. Nos protestos do Movimento Passe Livre, vez ou outra, é possível ver alguns cartazes reclamando das torneiras secas. Recentemente, houve apenas uma manifestação em São Paulo específica pela falta de água. Ela correu no mês passado e reuniu 40 pessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes, a sede do Governo estadual.

Questionado desde a tarde de quarta-feira sobre como seria a preparação de seus agentes para os protestos pela falta de água, o Comando Geral da Polícia Militar não se pronunciou até a conclusão desta reportagem.

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