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Venezuela prende diretores da maior rede de farmácias por ‘sabotar o povo’

Governo de Nicolás Maduro acusa empresários de patrocinar uma guerra econômica

Unidade da Farmatodo, em Caracas.
Unidade da Farmatodo, em Caracas.Fernando Llano (AP)

Num novo enfrentamento que pode escalar irreversivelmente a “guerra econômica” que o Governo venezuelano afirma estar travando, veio à tona em Caracas no último domingo que a polícia política (o Serviço Bolivariano de Inteligência, ou Sebín) deteve sete executivos da Farmatodo, a principal rede de farmácias do país. Na manhã desta segunda-feira ainda estavam detidos o presidente executivo da rede, Pedro Angarita, e outro gerente.

A Superintendência de Preços Justos também anunciou a abertura de um processo administrativo contra a rede, acusada pelas autoridades de provocar propositalmente a formação de filas de consumidores para entrar em suas lojas.

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A blitz contra a empresa começou depois da inspeção de uma loja Farmatodo da área de Los Ilustres, em Caracas, feita pelo chefe civil da região Capital do Estado-Maior da Guerra Econômica, o jornalista Ernesto Villegas. Este, ex-ministro da Informação – foi ele quem, no exercício desse cargo, enviou os despachos no fim da vida do ex-presidente Hugo Chávez, entre novembro de 2012 e março de 2013 – encontrou uma longa fila de fregueses diante do local. Em sua conta no Twitter, contou que interveio para resolver a situação. “Bastou permitir o acesso ao local e habilitar todas as caixas para a longa fila diante da Farmatodo Los Ilustres acabar”, informou através da rede social.

Pouco depois, o próprio presidente Nicolás Maduro confirmou a operação. Sem citar a Farmatodo, disse durante um ato público no povoado de Cúa (Estado de Miranda) que “são vários conspiradores, donos de lojas, que tenho presos no Sebín. Pedi à promotoria que acelere os indiciamentos para que eles fiquem presos e deixem de sabotar o povo venezuelano.” Sem dar muitos detalhes, o presidente anunciou também que a rede de farmácias passará a integrar o plano estatal de distribuição de produtos. O anúncio alimentou rumores sobre uma desapropriação sumária da empresa.

Maduro anunciou que o grupo de lojas entraria a fazer parte do plano estatal de distribuição de produtos

Com 164 lojas, a Farmatodo é a maior rede de farmácias do país. Com sua fundação, em 1990, a marca introduziu no mercado venezuelano o formato de farmácia self-service. Mas suas origens datam de 1918, quando a família Zubillaga iniciou a distribuição de medicamentos no Estado de Lara (centro-oeste da Venezuela). A Farmatodo também está presente na Colômbia desde 2009, com 32 lojas em Bogotá e Barranquilla.

A sede corporativa da Farmatodo divulgou um comunicado à imprensa em que a empresa reduz a detenção de seus diretores a um “convite para dar declarações” ao Sebín. “A conduta da Farmatodo”, diz o comunicado, “é conhecida e transparente, razão pela qual estamos permanentemente à disposição das autoridades para que fiscalizem nossas operações, como vêm fazendo nas mais de 60 inspeções que recebemos satisfatoriamente durante o mês de janeiro.”

Na sexta-feira, ao retornar da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (CELAC) em Costa Rica, Maduro advertiu que estava dando uma última oportunidade às empresas privadas de comercialização de alimentos e medicamentos, que ele acusa de cumplicidade na geração de desabastecimento. “Fevereiro é o mês para que os empresários se redimam”, indicou. Maduro disse que muitos membros das empresas revelaram ao Governo detalhes do complô em curso, “porque não queriam prejudicar o país”.

Mas no domingo o sucessor de Chávez pediu às Forças Armadas e a seus partidários que mantivessem “alerta máximo”, porque, a seu ver, “um sangrento golpe de Estado foi posto em marcha na Venezuela”. Num esforço para desativar o suposto golpe, Maduro se disse disposto a endurecer sua postura diante do setor privado: “Todos os que utilizem suas empresas para prejudicar o público terão que pagar com a prisão”.

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