_
_
_
_
_

Espanha, Irlanda e Portugal exigem que Atenas cumpra compromissos

O ministro alemão Schäuble avisa aos gregos que Berlim é “difícil de chantagear”

Homem pede esmolas na saída de estação de metrô em Atenas.
Homem pede esmolas na saída de estação de metrô em Atenas.M. C. (Getty Images)

O Sul substitui os credores nas chicotadas na Grécia: a Europa do avesso. Alemanha, Holanda, Finlândia e Áustria — os credores, os ortodoxos do Norte — eram até agora os países menos sensíveis às necessidades de uma periferia que se afogava em plena Grande Recessão. As coisas se inverteram: Espanha, Portugal e, em menor medida, a Irlanda, países periféricos, resgatados e com Governos de centro-direita, agora se tornaram o bloco mais duro com a Grécia de Alexis Tsipras. O relato da crise muda de mãos.

Por razões que obedecem a uma estranha justiça poética, que mascaram riscos muito mais mundanos: Lisboa e Madri argumentam que fizeram ajustes dolorosos e que ninguém teve com eles a consideração que Atenas reclama agora; mas principalmente seus Executivos temem o efeito de contágio político que a vitória do Syriza, se for acompanhada de vantagens por parte da Europa, possa ter nas próximas jornadas eleitorais.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro português, o centrista Pedro Passos Coelho, mostrou-se radicalmente contrário à renegociação ou parcial substituição da dívida grega. “Não é uma perspectiva que entusiasme os países que conseguiram resolver seus problemas”, afirmou. Portugal emprestou 1,1 bilhão à Grécia e quer seu dinheiro de volta; a Espanha emprestou 26 bilhões e tampouco parece feliz com a perspectiva de uma redução. Passos Coelho foi contundente no Parlamento apesar do chamado à “solidariedade dos povos” da oposição, e recordou uma e outra vez “os sacrifícios do povo português” para se livrar da troika.

O espanhol Luis de Guindos foi, depois do Eurogrupo, o mais duro dos ministros da zona do euro a respeito das opções de Atenas para melhorar as condições do resgate. Enquanto a Finlândia reconheceu que a Grécia pode se beneficiar de uma ampliação de prazos e de uma redução dos juros de sua dívida, a Espanha sujeita qualquer dádiva ao cumprimento escrupuloso dos compromissos.

Mais informações
Governo grego rejeita FMI e órgãos europeus como interlocutores
Por que está todo mundo falando do ministro da economia grego
Gregos sacam dinheiro dos bancos por medo de bloqueio das contas

As regras pactuadas “são inamovíveis”, avisou a vice-presidenta Soraya Sáenz de Santamaría. Guindos deu um passo adiante na quarta-feira e mencionou as razões da posição espanhola: “A Espanha ajudou a Grécia com 26 bilhões; é o que gastamos com o seguro desemprego em um ano, uma quantia importante. E as condições do programa de ajuda já foram melhoradas em quatro ocasiões”.

Madri e Lisboa manifestaram reiteradamente essa posição. Já foram dois dos países mais beligerantes com a mudança da Comissão Europeia em matéria de política fiscal, que deu um pouco mais de oxigênio a Itália e França. Portugal denunciou ao Eurogrupo, e inclusive na última cúpula, que essas deferências demonstram que Bruxelas, uma vez mais, não trata todo mundo por igual. O paradoxal é que a recuperação da Espanha, e em menor medida, a de Portugal, dependem que a reativação da eurozona não desande, e para isso é imprescindível que as economias francesa e italiana escapem da recaída e que a Grécia evite acidentes.

A negociação com a Grécia nem sequer começou. Tsipras viajará em breve a Bruxelas e seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, irá a Londres, Paris e Roma para expor seus planos. “Os Governos periféricos são os mais assustados com a vitória do Syriza e a operação de relaxamento que está sendo gestada: ficaram chocados e temem que a oposição de esquerda em seus respectivos países siga o rastro de Tsipras”, explicam fontes europeias.

Nesse jogo de fumaça e espelhos, Atenas quer apoiar-se em Paris e Roma. Mas Berlim ganha Madri, Lisboa e Dublin para sua causa, que reforçam esse conto moral segundo o qual é preciso se sacrificar para colher os frutos das difíceis reformas. Sempre nessa linha, o alemão Wolfgang Schäuble reiterou que a Grécia deve cumprir seus compromissos e deixou um aviso aos navegantes: Berlim “é difícil de chantagear”. E como é.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_