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Os latinos, mais consumidores do que cidadãos nos EUA

A influência da comunidade hispânica é major na indústria do cinema do que na política

Javier Lafuente
Uma mulher visita uma exposição de fotografia em Miami.
Uma mulher visita uma exposição de fotografia em Miami.EFE

Eles representam 17% da população dos Estados Unidos. Atualmente, mais de 54 milhões de habitantes têm raízes hispânicas, o grupo com maior crescimento do país. Entre os mais jovens, dados oficiais apontam que a cada ano 800.000 latinos completam 18 anos. Em média, têm 27 anos, dez menos que a população geral. O panorama atual e o futuro que se aproxima indicam otimismo para essa comunidade; o dia a dia dita outra máxima: a influência dos latinos é maior no consumo cultural do que na relevância dentro da sociedade norte-americana.

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“Crescem mais como consumidores do que como cidadãos”, enfatiza Jéssica Retis, professora da California State University Northridge e coautora do documento de trabalho Os latinos e as indústrias culturais em espanhol nos Estados Unidos, elaborado pelo Real Instituto Elcano a partir de dados de diversas instituições e organismos como o Instituto de Pesquisa Nielsen ou o Pew Center, por exemplo. Com ele, Retis e Ángel Badillo procuram “pôr em perspectiva” a situação dos latinos. “Não se trata de um estudo acadêmico, mas de um documento a partir do qual se pode trabalhar em áreas mais concretas”, acrescenta Retis.

Os latinos representam 48% dos eleitores

Apesar a palavra latino, ou hispânico, englobar dezenas de milhões de pessoas de diferentes nacionalidades e classes sociais, o idioma (o espanhol) e a religião (catolicismo) atuam como vasos comunicantes entre todos eles. Além disso, há um aspecto, conforme ressalta o documento, que facilita a integração: sua incorporação como consumidores. De acordo com dados do Nielsen apresentados no relatório, em 2012 o poder aquisitivo dos latinos era estimado em um trilhão de dólares (2,68 trilhões de reais), enquanto que para este ano a cifra estimada é de um trilhão e meio. Tudo isso deu impulso à criação de mercados próprios dirigidos à comunidade latina.

Enquanto isso acontece, e apesar de que cada vez se ouve mais da boca dos políticos norte-americanos a importância do voto latino, que alcançou uma marca histórica nas eleições de 2012 (11,2 milhões de latinos votaram), eles representam apenas 48% do total de cidadãos aptos a votar. Como lembra o documento de trabalho, menos da metade dos hispânicos têm direito a votar (exatamente 43,4%), uma porcentagem inferior ao de outros grupos da população, como os asiáticos (51,7%), os afro americanos (69,1%) e os brancos (78,9%). Los Angeles, Nova York, Houston, Miami e Chicago continuam sendo as áreas que aglutinam os principais mercados de consumidores, e embora se mantenham crescendo, outros lugares como Charlotte, Atlanta, Orlando e Seattle o fazem com maior rapidez, apesar de estarem afastados dos grandes centros.

O aumento de seu poder aquisitivo impulsionou mercados próprios

A indústria do cinema é uma amostra da realidade dos latinos. Por um lado, eles se fazem notar nas bilheterias, pois representam 17% da população que vai às salas de cinema, com uma média de seis vezes ao ano. Se essa divisão for feita por grupos, trata-se de 32% dos espectadores, uma porcentagem que não deixou de crescer, ao contrário dos anglo-saxões, majoritários, é claro, mas que desde o ano 2000 caíram 4%. Apesar disso, como afirma o documento de Retis e Badillo, historicamente a indústria de Hollywood “não só ignorou os hispânicos como também, quando os incorporou às suas narrativas, tendeu a fazê-lo a partir de perspectivas estereotipadas e discriminatórias”. Além disso, segundo um estudo da Associação Nacional de Produtores Latinos Independentes (NALIP, na sigla em inglês), entre 2010 e 2013 apenas 2,3% dos diretores eram latinos; 2,2% dos produtores e 6% dos roteiristas, porcentagens muito baixas.

Quanto a dados sobre o consumo de informação, os latinos dos Estados Unidos aumentaram o uso da internet, que passou de 37% a 56% entre 2006 e 2012. Um crescimento que contrasta, entretanto, com a diminuição do consumo de rádio (de 64% a 56%) ou de jornais (58% a 42%). Também baixou o consumo de televisão, embora se mantenha com uma porcentagem alta, passando de 92% a 86%.

Os estudos mais recentes aos que faz referência o documento de Retis e Badillo enfatizam a uma maior aquisição de smartphones, por meio dos quais consomem informação.

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