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Sabesp, que descartava racionamento há dois meses, cogita “rodízio drástico”

Sem chuva suficiente, São Paulo pode ficar até cinco dias por semana sem água, diz diretor

Marina Rossi
Represa de Jaguari, em São José dos Campos (SP).
Represa de Jaguari, em São José dos Campos (SP).Paulo Fridman (Bloomberg)

Num espaço de pouco mais de dois meses, o Governo de São Paulo e a Sabesp mudaram drasticamente de discurso. Em 10 de novembro, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), falou sobre a fortaleza do sistema de abastecimento de água do Estado e descartou o risco de racionamento. Nesta terça, o diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato Yoshimoto, aventou, pela primeira vez, a possibilidade de um "rodízio drástico" na cidade, com cinco dias sem água e dois com fornecimento, em caso de "as chuvas insistirem em não cair no Sistema Cantareira" e as obras em curso atrasarem. Ele admitiu que a esperança de que as chuvas de verão voltem aos níveis normais nesta estação é "pequena".

"Se nós tivermos que retirar somente 10, 12 metros cúbicos por segundo [do abastecimento], seria necessário implantar rodízio de dois dias com água, cinco dias sem água. O equivalente a isso para ter uma economia necessária lá no Cantareira e não deixar que [o nível] continue caindo", disse Massato Yoshimoto, segundo o portal G1. O diretor da Sabesp não falou em prazos.

A declaração de Massato Yoshimoto ocorre um dia depois de a Sabesp finalmente divulgar os horários em que o abastecimento de água está sendo reduzido na cidade de São Paulo, que já convive com a falta d'água desde o ano passado, de maneira extra-oficial.

Por meio do site da companhia, é possível saber o horário e a frequência com que o abastecimento da água está sendo reduzido em cada bairro da capital e da Grande São Paulo. Em algumas regiões, o volume de abastecimento ficará comprometido por até 18 horas seguidas. A medida, porém, está sendo classificada como "rotineira" pela Sabesp, que diz que "a redução de pressão nas tubulações é uma tecnologia praticada rotineiramente pelas companhias de saneamento para redução de perdas de água".

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Na opinião de Samuel Barrêto, especialista em água da ONG The Nature Conservancy (TNC), adotar o racionamento é importante para o controle do consumo, mas só isso não bastará. "A questão da informação e do esclarecimento junto com a sociedade é uma etapa chave para conscientizar a população", diz. "Mas o que estamos aguardando é um plano de contingência, que é uma demanda trazida pela Aliança pela Água", diz ele, em referência à coalizão lançada por entes da sociedade civil para debater a segurança hídrica.

Para Barrêto, a Governo de São Paulo e a Sabesp tem que divulgar um plano de contingência. "As medidas devem ser anunciadas no atacado, e não no varejo", diz. "Se, a cada dia, surgir uma ideia nova, é difícil contar, inclusive, com o suporte da população."

Sem previsão de chuva

O nível do Sistema Cantareira nesta terça-feira estava em 5,1%. Esse índice permanece estável desde o domingo. Mas as previsões climáticas continuam sendo negativas.  Segundo o relatório de previsão climática sazonal elaborado pelo MCTI, a chuva deve continuar escassa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país ao menos até o fim de janeiro. E outro agravante é que é difícil prever as precipitações nesta região do país por uma questão geográfica. "Não há quase nenhuma previsibilidade para a região Sudeste e Centro-Oeste na escala temporal de meses", explica Carlos Afonso Nobre, Secretário de Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), e cientista climático.

Além disso, este mês está quase no final e  aindalonge de atingir a média histórica de precipitações.  "Janeiro é um mês historicamente mais chuvoso, e esse ano está sendo pior que o ano passado, que já foi um ano drástico", diz Barrêto. "Mesmo que tenha uma chuva forte nessa semana, é difícil chegar à média histórica [até o final do mês]". Para ele, a economia deveria ter começado há mais tempo e deveria ter sido centrada em uma meta maior. "Por isso estamos dizendo desde o ano passado que essa redução do uso tinha que ser de no mínimo 50%. E não foi. O nível de esforço vai ter que ser maior".

Calculadora dos sonhos

Foi batizada de 'calculadora dos sonhos' a página que a Sabesp criou para alertar sobre o consumo de água. Assim que entrou no ar, nesta segunda-feira, virou alvo de críticas nas redes sociais. "Calculadora dos sonhos: se isto não é estar rindo da nossa cara, eu já não sei mais o que é", disse o usuário @ma_pavoni. "Calculadora dos sonhos para nome de site em que você vê o quanto vai ficar sem água. É o Alckmin se superando em matéria de cara de pau", disse @jnflesch.

A Sabesp informa que a ferramenta serve para que os usuários saibam o quanto precisam economizar para comprar algum bem de consumo. Daí o nome.

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