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Mobilidade Urbana

Ato do MPL acaba em mais repressão

Passeata do Movimento Passe Livre é atingida por bombas e gás lacrimogêneo Ato é menor, mas novo protesto é marcado para a próxima terça-feira

Policial detém manifestante em ato desta sexta.
Policial detém manifestante em ato desta sexta.NACHO DOCE (REUTERS)

Pela segunda semana seguida, o ato organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra a tarifa dos transportes públicos de São Paulo foi dispersado violentamente pela Polícia Militar, com bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo. Ao menos 11 pessoas foram detidas e três agências de bancos tiveram seus vidros depredados.

Os manifestantes, que partiram às 17h da praça do Ciclista, na avenida Paulista, definiram em uma assembleia antes da marcha que o ato seguiria até a Prefeitura de São Paulo e, depois, iria para a Secretaria Estadual dos Transportes, ambas no centro. A PM disse ao MPL que o grupo não poderia seguir pela avenida Paulista, onde estão sendo realizadas obras para a implantação de uma ciclovia. O grupo caminhou então pela rua da Consolação, local onde ocorreu o confronto na última semana. Na mesma rua houve um princípio de tumulto e um manifestante foi detido. A PM chegou a usar bombas contra um pequeno número de pessoas que se distanciou do ato e subiu para a Paulista.

Ao chegarem ao prédio da administração municipal, os participantes realizaram um jogral e cantaram uma paródia bem-humorada de “Beijinho no Ombro”, da cantora Valesca Popozuda, contra a Polícia Militar e o prefeito Fernando Haddad. Mas ao se prepararem para seguir para a secretaria, a polícia começou a atirar bombas de gás lacrimogêneo. Segundo informações divulgadas pela Polícia Militar em seu Twitter, isso aconteceu porque a tropa foi atingida por fogos de artifícios.

Após a ofensiva da PM, começou uma correria pelo Viaduto do Chá, lotado de manifestantes. As pessoas, muitas com os braços para o alto em sinal de rendição, eram empurradas contra os muros. Gritos de "calma", "não corre" e "sem violência" eram ouvidos. Algumas, encurraladas, se encolhiam,  com as mãos protegendo a cabeça. Outras chegaram a subir na mureta da ponte. “Jogaram muitas bombas, corremos. Tive medo de cair do viaduto", conta José, de 23 anos. No meio do clima de medo e confusão, voluntários ajudaram os afetados por gás lacrimogêneo colocando vinagre em seus rostos e nas roupas para aliviar a sensação de queimação na pele e nos olhos causada pelas bombas.

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Os manifestantes que estavam na frente do ato tentaram fugir pela rua Líbero Badaró, que estava bloqueada pela cavalaria da PM, conta Luize Tavares, uma das militantes do MPL. "Ficamos encurralados", afirmou. Outra parte dos presentes seguiu para o Vale do Anhangabaú, onde foi perseguida por policiais que atiravam. O tumulto continuou perto do Theatro Municipal e no entorno do metrô São Bento, onde fica a secretaria dos Transportes. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, uma jovem desmaiou e policiais atingiram com spray de pimenta pessoas que tentavam socorrê-la, para “isolar algumas áreas”, explicou o major da PM Victor Fedrizzi. Não houve relatos oficiais de feridos.

Além de agências bancárias, o vidro de uma viatura policial foi quebrado, relatou a polícia. Seis pessoas foram levadas para o 78º DP, nos Jardins, e outras cinco para o 2º DP, no Bom Retiro, segundo advogados ativistas –voluntários que atuam nos atos. 

Depois das bombas, o protesto se dispersou. Por volta de 22h já não havia mais focos de conflito no centro. "A repressão da polícia foi desproporcional, atiraram bombas diretamente nas pessoas. Mas as manifestações vão continuar, independentemente da repressão", disse Érica Oliveira, militante do MPL. O grupo marcou um terceiro ato para a próxima terça, às 17h, na praça Silvio Romero, próximo ao Metrô Tatuapé (zona leste de São Paulo).

O ato desta sexta-feira foi menor do que o primeiro. Segundo a PM, 3.000 pessoas participaram -no último, foram 5.000. Mesmo na contagem mais otimista, feita pelo MPL, havia menos participantes: 20.000, diante dos 30.000 estimados na sexta anterior.  

Essa segunda manifestação aconteceu depois de uma reunião do prefeito Fernando Haddad com militantes da Juventude do PT, em que foram articuladas medidas para reencaminhar a discussão do transporte público, conforme informou o EL PAÍS nesta quinta-feira. O grupo, que representava também movimentos de moradia, estudantis e sindicais, planeja a realização de atos paralelos, numa tentativa de esvaziar as manifestações do Movimento Passe Livre. Antes do ato, o MPL  divulgou nota chamando a atitude da prefeitura de “lamentável”. Na noite desta sexta, Erik Bouzan e Rogério Cruz, secretários municipal e estadual da Juventude do PT, respectivamente, afirmaram que a reunião não tinha a intenção de desmobilizar os atos e, sim, de apresentar a pauta do grupo relacionada aos Transportes para o prefeito.

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