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PCC movimenta mais de 100 milhões de reais nos EUA e na China

Dinheiro da facção criminosa era lavado no Brasil por meio de farmácias e postos de combustível. Polícia e Ministério Público apuram se políticos tinham relação com o grupo

Amarildo da Silva, um dos presos em 2014.
Amarildo da Silva, um dos presos em 2014.Divulgação/Polícia Civil

Quase seis meses depois de fazer uma das maiores operações contra a facção criminosa PCC, o Primeiro Comando da Capital, a polícia de São Paulo descobriu que as ramificações financeiras do grupo vão além da América do Sul. No fim do ano passado, Os investigadores da Polícia Civil e do Ministério Público apuraram que a organização tem movimentado contas em bancos dos Estados Unidos e da China.

É a primeira vez que recursos do grupo estariam fora do território sul-americano. Até então, a polícia apurava se havia elo com outras quadrilhas internacionais, mas cada uma atuando em seu próprio país.

Em uma primeira análise, a polícia constatou que, no período de um ano, cerca de 100 milhões de reais saíram de contas de empresas fantasmas para comprar drogas e armas que tiveram como destino os pontos de venda de droga, as chamadas bocas de fumo, de vários municípios paulistas. O valor deve ser ainda maior, já que os policiais agora aguardam a quebra de sigilo de ao menos dez contas que estariam em nome de laranjas do PCC.

Um dos responsáveis por movimentar as contas americanas, segundo a apuração, seria Wilson José Lima de Oliveira, o Neno. Até julho do ano passado ele estava vivendo em Orlando. Agora, está foragido. O nome da conexão chinesa do PCC não foi divulgado.

Uma das casas de câmbio investigadas era dirigida por doleiro que já foi detido em operações que envolviam políticos do PT e do PSDB

As descobertas sobre a ramificação intercontinental aconteceram depois da apreensão de comprovantes bancários que estavam com Amarildo Ribeiro da Silva, que era o responsável pela compra da droga. Com esses dados, os policiais chegaram a duas casas de câmbio paulistanas e, na sequência, às empresas de fachadas que foram usadas para abrir as contas no exterior. São empresas que não possuem sede, declaram atividades que não cumprem e estão em nomes de pessoas que, muitas vezes, desconhecem ter uma firma registrada como suas.

Uma das casas de câmbio, conforme os policiais paulistas, era dirigida por um doleiro que já foi detido em duas operações da Polícia Federal que envolviam políticos tanto do PT quanto do PSDB. “Sabemos que é difícil comprovar, mas estamos investigando uma relação entre o PCC e políticos. Ainda não temos nomes”, disse um dos investigadores. No ano passado, o então deputado estadual do PT, Luiz Moura, chegou a ser expulso do partido por suspeita de ter relações com a facção.

Farmácias e postos

Outro investigador consultado pela reportagem afirmou que postos de combustíveis e farmácias estão sendo usados para lavar o dinheiro e encobrir as irregularidades. Esses estabelecimentos recebiam o dinheiro das empresas de fachada e davam uma origem legal aos recursos financeiros. “Antes achávamos que tudo era usado em postos de gasolina, mas os criminosos descobriram que se usassem as farmácias poderiam comprar livremente produtos para usar no refino da cocaína. Aí eles, gostaram da coisa, viram que não é tão difícil lavar dinheiro nas farmácias e começaram a comprar lojas pequenas em bairros”, explicou o policial.

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De acordo com as apurações, os principais fornecedores de maconha e cocaína para a facção são traficantes do Paraguai e da Bolívia. A ramificação paraguaia era, até meados de agosto, articulada por Fabiano Alves de Souza, o Paca, até então um dos líderes do PCC. Mas, devido a divergências na contabilidade do grupo, ele foi suspenso do banco e até ameaçado de morte pelos outros chefes do grupo.

A apuração, que já dura um ano, está sob sigilo judicial porque envolve uma série de dados fiscais. Parte do caso foi inicialmente divulgado pelo portal R7 nesta semana.

Com a mudança no comando da Secretaria da Segurança Pública, no fim do ano passado, as investigações foram reforçadas. Antes, estavam concentradas no Departamento de Investigações Criminais (DEIC), agora serão compartilhadas com o Departamento de Narcóticos (DENARC).

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