_
_
_
_
_

Polícia de Nova York comparece em peso ao funeral do agente assassinado

Cerca de 25.000 oficiais de todo o país acompanham o enterro de Rafael Ramos, baleado há uma semana como vingança pela morte de dois jovens negros

Milhares de policiais rendem homenagem ao agente durante o funeral.
Milhares de policiais rendem homenagem ao agente durante o funeral.MIKE SEGAR (REUTERS)

O funeral do agente Rafael Ramos se transformou em uma mobilização sem precedentes do corpo policial de Nova York, em uma sólida fraternidade diante dos protestos que há semanas estão sendo vistos nos Estados Unidos contra as práticas abusivas das forças da ordem. O oficial, tratado como herói por 25.000 colegas, foi baleado há uma semana junto com Wenjian Liu dentro de seu carro de patrulha por um indivíduo que queria vingança pela morte dos jovens negros Eric Garner, em Staten Island, e Michael Brown em Ferguson.

O enterro de Ramos foi o maior funeral na história do departamento, com oficiais vindos de todo o país para dar apoio a seus companheiros nova-iorquinos em um momento especialmente tenso. O ato contou com a presença do vice-presidente dos EUA, Joe Biden. Na véspera, milhares de oficiais foram ao velório para prestar homenagem ao falecido, formando uma fila que ocupou até cinco quarteirões durante seis horas. Liu será enterrado nos próximos dias, à espera dos trâmites dos últimos vistos de seus familiares que devem chegar da China.

Foi o primeiro testemunho do que se viveu na manhã de sábado no templo do bairro de Glendale, que serviu para demonstrar que são uma unidade. “Todos usamos o mesmo uniforme”, comentava um dos presentes, “somos irmãos e irmãs, não importa a cor nem a crença religiosa”. É também uma mensagem clara contra a retórica política. A última semana em Nova York foi dominada pelos duros ataques dos sindicatos da polícia contra o prefeito Bill de Blasio, por se colocar ao lado dos manifestantes.

O democrata, que também participou da homenagem, espera que essa tragédia seja aproveitada para estreitar laços entre a comunidade e a corporação policial, e assim superar as profundas diferenças surgidas nos últimos dias. “Esta família nos ensinou o que somos os nova-iorquinos, é algo que todos temos de nos lembrar”, afirmou o prefeito referindo-se à unidade e à fé diante da adversidade. “Ele era um criador de paz em sua família, em sua igreja e para a cidade de Nova York. Isso é o que os policiais fazem; preservar a paz colocando suas vidas na frente”, afirmou.

Mais informações
Dois policiais são assassinados em Nova York; atirador se mata
Caso Garner é golpe contra o ‘laboratório policial’ de Nova York
A crise com a polícia ameaça o futuro do prefeito de Nova York
A crise de Ferguson persegue Obama

Biden falou no início da cerimônia de um ponto de vista muito pessoal, reconhecendo os azuis de Nova York como a melhor polícia “dos EUA e do mundo”. “Não conheci Ramos nem seu colega”, comentou, “mas sei por que estavam ali; para nos proteger e nos defender”. “Tenho certeza de que esse grupo formidável de polícia mostrará à cidade e à nação como superar qualquer divisão”, desejou, “o espírito de 11 de setembro continua vivo”. Agradeceu assim o serviço que a polícia presta aos cidadãos e seu “sacrifício para que tenhamos uma vida melhor”.

“Parte-nos o coração quando algo assim acontece”, comentou o agente Cory Fitch, que viajou de Minneapolis para participar do funeral. O comissário-chefe, William Bratton, que durante os últimos dias se viu no meio do fogo cruzado entre os líderes sindicais da polícia e o prefeito, garantiu que “Ramos e Liu nunca serão esquecidos”. Andrew Cuomo, governador do Estado de Nova York, disse durante o funeral que “a forma como perderam a vida é difícil de entender para qualquer pessoa”. “Um ataque contra a NYPD é um ataque a todos e a nossos direitos”, declarou.

Do lado de fora da igreja foram instaladas várias telas gigantes para que o público pudesse acompanhar a cerimônia, em uma jornada esplêndida. A empresa aérea de baixo custo JetBlue colocou seus aviões à disposição de 700 policiais que quiseram se deslocar gratuitamente a Nova York para participar dos atos. A Stephen Siller Tunnel to Towers Foundation, uma das organizações que assiste os familiares das vítimas de 11 de setembro, se ofereceu para pagar a hipoteca dos dois oficiais e a Silver Shield Foundation se encarregará dos estudos dos filhos de Ramos.

Bill de Blasio pediu na segunda-feira que se o contivesse o debate político até o fim dos funerais e convidou os nova-iorquinos a cessarem os protestos para respeitar o luto das famílias. Depois de morte de Ramos e Liu, que foram promovidos postumamente a detetives, foram realizadas sete prisões de pessoas acusadas de ameaçar agentes. Também se pediu aos vizinhos que informem sobre casos como o de Ismaayil Brinsley, autor do ataque, que inundou as redes sociais para expressar suas intenções depois dos casos de Garner e Brown.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_