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Pressionada a agradar aliados, Dilma aposta em gabinete polêmico

Os nomes já confirmados para o segundo mandato de Dilma Rousseff trazem desânimo para um país que pede mais compromisso com a ética

Carla Jiménez
Dilma Rousseff, nesta segunda-feira em Brasília.
Dilma Rousseff, nesta segunda-feira em Brasília. Fernando Bizerra Jr. (EFE)

Persistia uma certa ilusão de que a presidenta Dilma Rousseff teria mão firme na escolha do seu time de ministros para o segundo mandato, que poderiam seguir a linha de Joaquim Levy para a Fazenda. Ela enfrentou a fúria de aliados para bancar o nome do substituto de Guido Mantega e essa coragem seria bem-vinda num momento delicado que exige movimentos cirúrgicos. Mas, o anúncio de 13 nomes da equipe ministerial mostrou que a expectativa não passava de miragem. Ao contrário, o anúncio trouxe um choque de realidade sobre o sistema político brasileiro, sobre o estilo Dilma de governar e sobre a sinuca de bico em que está o PT.

O nome de Katia Abreu, apelidada de “Motossera de ouro”, já causava celeuma desde que ele começou a ser aventado logo após a reeleição da presidenta em outubro. Mas, outros causam tanto constrangimento como o dela. É o caso de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, agora no comando do Ministério das Cidades, um dos maiores orçamentos do país, e cuja responsabilidade é ampliar políticas sociais de moradia, pensar soluções de mobilidade urbana e saneamento básico. Kassab, no entanto, em nada lembra uma pessoa de afinidades com problemas sociais de uma cidade, como ficou claro quando ele comandou a maior do Brasil. Logo ele que em 2010 fechou albergues de moradores de rua em São Paulo, e que instituiu com a política de apagar grafites de artistas renomados mundialmente em nome de uma ‘cidade limpa’.

Saiu como um dos prefeitos mais mal-avaliados, principalmente porque em 2011, um ano antes de concluir seu mandato, parecia dedicar mais tempo para criar um novo partido, o Partido Social Democrático (PSD), do que para governar a cidade. O empenho para dar à luz a nova legenda lhe rende agora o cargo de ministro. Naquele ano, o PSD tirou uma grande pedra do sapato do PT. Um grupo de deputados do partido de oposição Democratas (DEM) migrou para a nova legenda liderada por Kassab, e diminuiu a grita contra a presidenta.

Dilma não esquece quem lhe é leal, e não deixaria de premiar o ex-prefeito por isso. O mesmo pode-se dizer do novo ministro da Educação, o governador do Ceará, Cid Gomes, do partido PROS. Apesar de ter ficado famoso por um comentário infeliz sobre professores (“Professor deve trabalhar por amor, e não por dinheiro”, teria dito ele em 2011), Gomes vem de um Estado que logrou saltar de quarto para primeiro em educação na região Nordeste em duas décadas.

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Mas a credencial que o alçou ao posto, de onde comandará um orçamento de mais de 40 bilhões de reais, também é a régua da fidelidade. Gomes sempre foi um cabo eleitoral de Rousseff, com farta propaganda sobre os programas sociais do PT em seu Estado. Fez sua defesa pública nos momentos de maior fragilidade da mandatária. O PROS, fundado em 2010, foi oficializado somente no ano passado, refletindo o sistema pluralista brasileiro, que já conta com 32 legendas. É a eles que a presidenta está governando no momento da escalação de nomes, de olho nas aprovações necessárias no Congresso.

Uma negociação complexa, principalmente em tempos de pressão por mais ética na política. Helder Barbalho, que assume o ministério da Pesca, é filho de Jader Barbalho, que já ficou dez anos fora da política para fugir das acusações de desvio de dinheiro público. Hoje Barbalho pai responde por ação penal no Supremo por crimes como lavagem de dinheiro.

O mesmo Kassab teria patrocinado a carreira do ex-diretor do departamento de aprovações de edificações em São Paulo, Hussain Aref Saab, investigado pelo Ministério Público do Estado pela compra de 113 imóveis enquanto ocupou o cargo, entre 2005 e 2012. Aref teria vendido alvarás falsos para enriquecer. Ironicamente, a prefeitura de Fernando Haddad, do PT, começou a desmontar essa quadrilha.

Falta ainda confirmar outros ministérios, mas já está claro que os que estão acertados pouco têm a agregar em termos de popularidade à presidenta. Muito pelo contrário. Se a escolha de Levy para a Fazenda foi uma bola dentro de Dilma, o novo ministério lembra o placar de 7 a 1 da Copa do Mundo contra a Alemanha. Levy foi o único gol até agora diante da necessidade de uma economia mais austera e da retomada da credibilidade perdida nos últimos anos.

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