_
_
_
_
_

“Não acredito que meu irmão seja o espião de que estão falando”

Irmã de Rolando Sarraff Trujillo, apontado como agente dos EUA, vive em Cuenca

Patricia Gosálvez
Vilma Sarraff Trujillo, irmã de Rolando, em uma entrevista à Martí TV.
Vilma Sarraff Trujillo, irmã de Rolando, em uma entrevista à Martí TV.

A aproximação Washington – Havana tem uma escala em Cuenca. O misterioso espião trocado na quarta-feira junto com Alan Gross por três agentes cubanos continua oficialmente anônimo, mas a Newsweek e o The New York Times dizem ser Rolando ‘Roly’ Sarraff Trujillo, um criptógrafo de 51 anos que trabalhou para a Direção de Inteligência de Cuba, preso pelo regime em 1995 por repassar informação à CIA. Sua irmã, Vilma, mora em Cuenca e nega que Roly seja o “homem chave” a quem Obama se referiu em seu discurso como “um dos agentes de inteligência mais importantes que os Estados Unidos já tiveram em Cuba”. “É tudo especulação midiática”, diz Vilma por telefone. A mulher defende a inocência do irmão há 20 anos.

Mais informações
Cuba e Estados Unidos: um milagre de são Lázaro?
Transição: em Cuba e em breve em outros lugares próximos
EUA e Cuba iniciam uma nova etapa depois de meio século de embargo
Adeus à Guerra Fria na América Latina
Miami tenta digerir a nova política norte-americana para Cuba
Havana recebe degelo entre EUA e Cuba com alegria e ceticismo

A família Sarraff Trujillo (uma irmã vive em Cuenca, outra, em Mallorca, e os pais, em Havana) afirma por meio de Vilma: “A única coisa que sabemos é que Roly está preso há 20 anos, passou 18 em isolamento, no que foi uma violação constante de seus direitos humanos...”. A família sempre denunciou que a detenção foi “uma farsa” e há duas décadas tenta ser ouvida. “Durante todos esses anos, ninguém na Espanha se importou... É incrível que só agora a imprensa mostre tanto interesse”, diz.

“Não sabemos nada, não temos nenhuma informação oficial, tudo o que está sendo publicado são especulações”, repete Vilma, que nunca pensou que seu irmão fosse o espião anônimo, talvez um dos 53 dissidentes cubanos que Cuba também prometeu libertar dentro das negociações da troca. Soube dessa notícia promissora pelo telejornal da Antena 3 ao meio-dia de quarta-feira. “Deus queira que esteja entre essas 53 pessoas”, diz. Em seguida telefonou para seus pais em Cuba, que não sabiam de nada, mas andavam preocupados porque Rolando, que falava com eles diariamente, não telefonava havia dois dias (terça-feira e quarta-feira). “Na segunda-feira foram visitá-lo no presídio e não lhes disse nada”, conta Vilma. “Temos esperança, mas também estamos preocupados”, afirma. “Onde está meu irmão?”, repete.

No presídio de Villa Marista, nos arredores de Havana, informaram apenas que tinha sido transferido na madrugada de quarta-feira. Nem para onde, nem por quê. “Com o mesmo hermetismo, secretismo e silêncio com que atua sempre a ditadura cubana”, diz Vilma. “Se fosse libertado e estivesse bem, a primeira coisa que faria seria telefonar para os pais, que idolatra”.

Na esquerda, Sarraff com 32 anos, antes de ser preso, e à direita em imagen sem datar cedida pela família.
Na esquerda, Sarraff com 32 anos, antes de ser preso, e à direita em imagen sem datar cedida pela família.AP

A família sabia ou suspeitava que Roly poderia ter colaborado com os Estados Unidos? Vilma é cortante: “Isso é pura especulação, o New York Times e o Sursuncorda que o digam. Como podem publicar que meu irmão mentiu para sua família?”. “Enquanto ele não aparecer e me abraçar e me dizer com sua voz doce e seus olhos de mar – os olhos mais límpidos que existem – que é isso mesmo, eu só sei o que sei”. Até então, considera a identificação de seu irmão como “o homem chave” de que falou Obama como “uma falsidade que dá asas ao Governo cubano, o mesmo que por décadas tratou Roly como um assassino”. E se seu irmão admitisse? “Isso é pura curiosidade mórbida, mas é obvio que sempre vou me orgulhar dele, é um homem maravilhoso, um defensor da liberdade e da democracia, se for verdade o que dizem, teria feito isso para nos proteger... Mas, por um lado, enquanto ele não for libertado e contar, eu não acredito, e além do mais, nada disso tiraria importância de como Cuba tratou meu irmão, não se pode manter uma pessoa isolada em um buraco por 18 anos”.

Vilma fala sobre como a pintura e a poesia salvaram Roly na prisão. Há dois anos publica sua obra no blog rolandosarraff.wordpress.com, onde vem pedindo incansavelmente sua liberdade. Oito meses atrás, Vilma abriu a conta de Twitter @RolandoSarraff. “Eu fui sua voz durante todo esse tempo, mas agora não quero falar mais... Ele enfim tem direito de usar sua própria voz, que lhe roubaram”. Vilma sabe bem qual é a próxima coisa que gostaria de dizer no Twitter: “Meu irmão apareceu”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_