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México vive uma “tormenta política perfeita”

Especialistas discutem no think tank CSIS a situação do país após Iguala

Silvia Ayuso
Jornalistas e analistas políticos no CSIS em Washington.
Jornalistas e analistas políticos no CSIS em Washington.

O México vive uma “tormenta política perfeita” em que o caso dos 43 estudantes desaparecidos de Iguala parece ter sido a gota que exauriu a paciência de uma sociedade hoje em dia mais informada e com mais ferramentas, graças às redes sociais, para manifestar seu descontentamento e “mal-estar”. Jornalistas, analistas políticos e especialistas debateram na terça-feira no Centro de Estudos Estratégicos e Institucionais (CSIS) em Washington a situação enfrentada pelo Governo de Enrique Peña Nieto.

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Na mesa de discussão coorganizada pelo EL PAÍS e pelo Clube de Imprensa foram expostas as crises políticas – de Iguala a escândalos de corrupção – que o Governo mexicano vive atualmente. Também foram analisadas a crescente incógnita econômica que o país enfrenta e a “incerteza” que ronda um futuro para o México no qual nem os partidos de oposição parecem ter sido capazes de reagir ou capitalizar o profundo descontentamento social.

Participaram do debate Jan Martínez Ahrens, correspondente chefe do EL PAÍS no México; o diretor do Human Rights Watch (HRW) para as Américas, José Miguel Vivanco; José Díaz Briseño, correspondente do MundoFox em Washington; Carl Meacham, diretor do programa americano do CSIS, e Muni Jensen, analista política do Clube de Imprensa, cujo diretor, Juan Carlos Iragorri, moderou o diálogo.

O diagnóstico foi unânime: o México está em plena “mudança de ciclo” de consequências ainda imprevisíveis, com uma “tormenta política perfeita” que ofuscou os esforços reformistas do Governo e está provocando uma “crise de confiança” nos políticos da qual nenhum partido está livre, resumiu Martínez Ahrens.

A impunidade é a regra, os poderosos não pagam, não prestam contas em matéria de direitos humanos, de corrupção José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW

A grande pergunta é se tanto o Governo como a oposição serão capazes de responder a um problema “estrutural” que o país arrasta desde mandatos anteriores. E tudo isso de uma maneira capaz de convencer uma sociedade que se sente “muito pessimista” e que demonstra estar farta de uma problemática que vem de longe, com protestos cuja principal característica – e força – é sua transversalidade, enfatizaram os debatedores.

“O que a sociedade mexicana quer ver é algum tipo de prestação de contas efetiva”, indicou o jornalista Briseño.

Vivanco, cuja organização foi muito dura com o que considera uma resposta tardia da equipe de Peña Nieto a massacres como os de Iguala e Tlatlaya, apontou como um dos problemas centrais a falta de condenações pelos desaparecimentos forçados, uma mazela que aflige o país desde 2006. “A impunidade é a regra, os poderosos não pagam, não prestam contas em matéria de direitos humanos, de corrupção”, lamentou, ao mesmo tempo em que exigiu mudanças reais, e não medidas paliativas.

Algo que só ocorrerá se a sociedade mexicana continuar pressionando, frisou Martínez Ahrens. “Uma sociedade indignada obriga os governantes a mudar, a indignação é um motor de avanço”, afirmou.

Outro fator que poderia motivar uma reforma profunda das práticas da política mexicana que levaram à impunidade amplamente reinante no país diante de atrocidades como Iguala é a pressão internacional, a começar pelo poderoso vizinho do México, os Estados Unidos. Washington “precisa envolver-se de maneira um pouco mais explícita”, afirmou Meacham, do CSIS.

“É preciso haver pressão internacional, o governo de Peña Nieto é muito sensível à pressão internacional dos Estados Unidos, da Europa", concordou Vivanco, para quem o próximo encontro entre Peña Nieto e Barack Obama, em 6 de janeiro na Casa Branca, constitui a plataforma perfeita para isso.

“Peña Nieto se ressente da má imagem que tem hoje e isso precisa ser capitalizado em uma pressão internacional que resulte em reformas", defendeu.

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