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Petrobras sangra na Bolsa de Valores e atinge menor valor em dez anos

Ações da petroleira fecham a 9,18 reais, uma queda de 46,3% desde o início deste ano

Carla Jiménez
Fachada da Petrobras no Rio de Janeiro, em dezembro.
Fachada da Petrobras no Rio de Janeiro, em dezembro.VANDERLEI ALMEIDA (AFP)

A Petrobras está vivendo o inferno e as ações a empresas na Bolsa de Valores refletem esse ‘estado de espírito’. Os papeis da companhia fecharam neste segunda-feira fecharam em queda de 9,2%, cotadas a 9,18 reais, a primeira vez em dez anos que ela deixou de valer dois dígitos. Na última sexta-feira, por exemplo, ela fechou a 10,11 reais, um patamar pouco usual para a companhia que vinha batendo recordes de produção. Desde o início do ano, a empresa acumula uma perda de 46,3% no valor das ações. No meio da tarde, a queda acentuada fez com que os papéis da empresa deixassem de ser negociados no pregão, um procedimento da Bolsa para controle de risco.

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O adiamento da divulgação do balanço financeiro do terceiro trimestre, que deveria ter sido anunciado no dia 12, além das novas denúncias que sugerem que a cúpula tinha conhecimento dos desvios na estatal, explicam o quadro. Como o mercado financeiro se alimenta da previsibilidade, as duas notícias caíram como bomba. “A pior coisa é não ter informações. Não se sabe qual será o tamanho das provisões de perdas, que devem atingir o lucro da Petrobras”, observa Ricardo Pinto Nogueira, superintendente de operações Souza Barros.

A angústia deve continuar nas próximas semanas, assim como a eventual desvalorização. A nova divulgação do balanço deve acontecer no dia 31 de janeiro, quando, espera-se, a auditoria que acompanha a empresa terá o cálculo das perdas. A data também está sendo vista no mercado como o ‘deadline’ para a eventual saída de Graça Foster da presidência depois de vir a público a troca de mensagens da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca, em que alertaria Foster quando ela ainda ocupava uma diretoria na Petrobras.

A queda livre do valor das ações tem um sabor amargo para milhares de brasileiros que aprenderam a arriscar seu dinheiro no mercado de ações com a Petrobras, exatamente porque ela era vendida como uma ação de comportamento estável. Em abril deste ano, havia 278.953 investidores individuais na Petrobras, sem contar os que aproveitaram as ofertas de investimento via Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), contando que as ações da estatal seriam seu trunfo nos tempos de aposentadoria. Nos tempos áureos da empresa, as ações eram vendidas por mais de 26 reais.

A queda do valor de petróleo internacional é outro fator que está jogando contra o preço das ações, explica Nogueira. Mas o que pesa mesmo é a crise sem precedentes da companhia. Com 34 anos de trabalho no mercado de ações, o superintendente da Souza Barros afirma que já viu outras companhias passarem por oscilações parecidas com as da Petrobras por problemas internos. “Mas nunca com uma empresa desse porte”, explica.

A petroleira OGX, do ex-bilionário Eike Batista, por exemplo, desmanchou no ar, mas ela era uma promessa que não se realizou. “A OGX era uma dúvida desde o início”, lembra Nogueira. Já a Petrobras era uma certeza, ou seja, um porto seguro, uma vez que a produção sempre esteve próxima — ou acima — das projeções. “Agora, com esse escândalo, não se questiona a produção. Mas a gestão”, completa o especialista.

Mesmo que eventualmente a troca de diretoria seja feita, ainda fica a dúvida se os procedimentos continuarão os mesmos, ou se haverá uma mudança radical para atingir os níveis de confiança e transparência necessárias. Por ora, os investidores se sentem como o marido ou a esposa traída. Ainda vai levar um tempo para recuperar a credibilidade.

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