Frances Bean Cobain, a herdeira sensata
A filha de Kurt Cobain debuta como produtora de cinema e foge da fama
Ela deve seu segundo nome, Bean (feijão), ao aspecto que tinha em sua primeira ultrassonografia. Ali, quando era apenas um embrião, Frances Cobain já era famosa, com a imprensa acompanhando com voracidade a gravidez da cantora Courtney Love. Agora, diante da impossibilidade de fugir de seu legado, a herdeira do grunge decidiu encará-lo e ser a autora da história da sua família. A jovem de 22 anos participa como produtora executiva de Montage of Heck, documentário sobre seu pai que estreia em janeiro no Festival de Sundance.
O jornalista Tim Appelo, a quem, nos anos noventa, a revista Entertainment Weekly se referia como “nosso especialista em grunge”, e que conhece bem Courtney Love e todo o entorno do Nirvana, acredita que este seja o filme definitivo sobre o músico: “Estou muito curioso porque trará material novo (cedido por Frances Bean). As informações disponíveis sobre o Nirvana são como um saquinho de chá que já foi colocado em água quente mais de mil vezes. Gostaria de ver Kurt Cobain retratado como um artista sério e reflexivo, não apenas como uma alma atormentada”. Sobre a filha, Appelo acredita ser uma pessoa “muito mais centrada que seus pais”. E acrescenta: “Espero grandes coisas da parte dela. É evidente que ela sabe como administrar a fama que tem. Ela vai decidir sobre seu lugar em público, mas acredito que ela tenha menos atração pelos holofotes do que Courtney”.
“A morte de um músico jovem não é nada bacana”, disse no Twitter
Frances, que já herdou cerca de 175 milhões de dólares da fortuna que seu pai ainda gera e detém o controle sobre os direitos de imagem de Cobain, mora em Los Angeles com o namorado, o músico Isaiah Silva. Na adolescência, recusou convites para atuar no cinema (na saga Crepúsculo e para encarnar a Alice de Tim Burton). E, mesmo tendo feito uma rápida incursão pela música, colaborando com bandas de amigos, ela se define principalmente como artista plástica e ilustradora. Em 2010, expôs seus desenhos, influenciados pelo cartunista Al Columbia, em uma galeria de Los Angeles, sob o pseudônimo de Fiddle Tim. Por ocasião da mostra, a jovem, então com apenas 17 anos, concedeu uma rara entrevista à Interview e deixou claro que não tolera invasões a sua intimidade. “O que a sua mãe acha da sua arte?” foi a primeira pergunta. “Não sei. O que a sua mãe acha das suas perguntas?”, respondeu.
Há algumas semanas, Frances fez uma aparição pública igualmente pungente e muito elogiada. Quando Lana del Rey declarou à Rolling Stone que “queria já ter morrido”, a herdeira de Cobain respondeu, pelo Twitter: “A morte dos músicos jovens não é uma coisa romântica. Nunca conhecerei meu pai porque ele morreu jovem. Só parece algo desejável porque pessoas como você acham que é algo bacana. Pois bem, não é. Aprecie a vida porque só te dão uma. Não seja uma dessas pessoas. Você tem muito talento”, afirmou.
Recusou um papel em ‘Crepúsculo’ e se define como artista plástica e ilustradora
O Twitter, justamente, foi o cenário de algumas das brigas mais amargas que Frances teve com a mãe. Em 2012, a líder do Hole escreveu na rede social que Dave Grohl, baterista do Nirvana, tinha tentado seduzir sua filha. A jovem negou e afirmou que o “Twitter devia expulsar” Courtney Love. Em 2013, no entanto, usou a plataforma para cumprimentar a cantora pelo dia das mães. Agora parece que as duas mantêm uma relação cordial.
No passado, o relacionamento entre elas foi tumultuado. Após confessar à Vanity Fair que consumiu heroína durante a gravidez, Love esteve perto de perder a custódia de sua filha recém-nascida. Mais tarde, quando a cantora foi presa por porte de drogas, um juiz passou a menina para os cuidados da avó paterna. E em 2009, foi até expedida uma ordem restritiva que proibia a mãe de ter qualquer tipo de contato direto ou indireto com Frances. “Aquela separação doeu em ambas”, afirma Appelo.
O próximo capítulo da saga sem dúvida será escrito em breve, quando Courtney Love descobrir a maneira como Frances quis contar a vida de seu pai.