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Metade dos jovens não consegue concluir o Ensino Médio até os 19 anos

Em 2013, 54,3% dos jovens conseguiram concluir a Educação Básica na idade adequada

Marina Rossi
Escola da rede pública de São Paulo.
Escola da rede pública de São Paulo.Du Amorim (A2 Fotografia)

Um levantamento realizado pela ONG Todos Pela Educação, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, mostra que o Ensino Médio continua sendo o calcanhar de Aquiles da educação brasileira. Segundo a pesquisa, quase metade dos jovens não consegue concluir o Ensino Médio antes dos 19 anos, que é a idade considerada adequada para terminar essa etapa escolar. Na Educação Básica, a conclusão até os 16 anos foi alcançada por 71,7% dos jovens, reforçando a tese de que o Ensino Médio precisa de recuperação.

Garantir que todo jovem de 19 anos tenha o Ensino Médio concluído é uma das cinco metas estabelecidas pela ONG. Para Ricardo Falzetta, gerente de conteúdo da Todos Pela Educação, o fracasso do sistema educacional para cumprir essa meta é um reflexo do também descumprimento dos outros quatro objetivos traçados pela Organização. "Se as outras metas não andam, o resultado acaba caindo", diz. As outras três metas, traçadas para serem alcançadas até 2022 são: que toda criança e jovem de quatro a 17 anos esteja na escola, todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos, todo aluno corresponda ao aprendizado adequado ao seu ano curricular e que o investimento na educação seja ampliado e bem gerido.

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Segundo o estudo, entre 2007 (quando deu-se início ao monitoramento) e 2009, as metas andavam em direção ao objetivo. Depois disso, esse ritmo vem caindo sucessivamente. "Apesar de termos uma curva ascendente, ela está fugindo da meta que estabelecemos para 2022", diz Falzetta. Ou seja, é preciso tomar medidas mais enérgicas para que a educação volte para o caminho do avanço. E isso na prática, segundo Falzetta, significa investir na formação de professores e gestores e modernizar o currículo. "Hoje a pedagogia valoriza muito mais as questões teóricas do que as didáticas, aplicadas na sala de aula", diz Falzetta. "É preciso fazer uma revisão das disciplinas".

Atualmente, o ensino obrigatório está dividido da seguinte maneira: Ensino Fundamental 1, que vai do 1º ano ao 5º ano (entre seis e 10 anos); Ensino Fundamental 2, que vai do 6º ao 9º ano (entre 11 e 14 anos); e Ensino Médio, que vai do 1º ao 3º ano (entre 15 e 17 anos). O ciclo todo é chamado de Ensino Básico.

O abismo social

O levantamento registrou uma grande disparidade ao se observar os indicadores por raça, cor, faixa de renda e áreas urbana e rural dos alunos. Entre os jovens que concluem o Ensino Médio até os 19 anos, há uma diferença de 20% em relação aos jovens que se consideram pardos. A disparidade também ocorre no recorte por renda: O percentual de jovens mais ricos apresenta uma taxa de conclusão de 83%, enquanto os entre os mais pobres, apenas 32% concluem o Ensino Médio até os 19 anos.

Em relação à localidade, nas áreas rurais, o percentual de alunos que conclui o Ensino Médio dentro da meta de 19 anos é de 35%, enquanto nas áreas urbanas esse percentual atinge 57%. "Esses dados mostram um descaso com a educação e uma herança maldita e histórica de atender de maneiras diferentes conforme as características da população", diz Falzetta.

Sobre a conclusão do Ensino Médio até os 19 anos, a região que mais avançou desde 2007 foi o Nordeste. Mas por outro lado, é a região que ainda apresenta a taxa mais baixa, fazendo oposição ao sudeste, região com a taxa mais alta de alunos concluindo o Ensino Médio até os 19 anos.

A idade certa na série certa

Um outro índice usado para medir a qualidade da educação é o cálculo que se faz da idade do aluno e do ano que ele está cursando. A diferença de mais de dois anos entre a idade do aluno e a idade prevista para a série em que ele deveria estar matriculado é o parâmetro utilizado nesse cálculo, chamado de distorção idade-série.

O levantamento apontou para uma diminuição gradual dessa distorção desde 2007. O que significa que os alunos estão repetindo menos de ano e, logo, ficando menos tempo 'retidos' em uma determinada série. Nesse período, no Ensino Fundamental, a distorção passou de 27,7% para 21%. E no Ensino Médio reduziu de 42,5% em 2007 para 29,5% no ano passado.

Porém, essa taxa vai aumentando conforme os anos escolares. "A retenção é a coisa mais perversa que pode acontecer", diz Falzetta. "Porque a criança vai ficando desmotivada e com uma sensação de fracasso. E o pior: Acaba acreditando que o fracasso é só dela".

O furo no fundamental

O gargalo começa a ficar maior no ensino Fundamental 2, uma fase antes de chegar ao Ensino Médio. "No Fundamental 1, você tem uma situação um pouco mais bem resolvida", diz Falzetta. Ele explica que embora o desempenho não esteja ideal no Fundamental 1, o desempenho mostra-se melhor por algumas vantagens como o fato de a criança estudar mais próximo de onde mora e de os professores serem polivalentes, o que permite a aproximação das relações com o aluno devido ao tempo maior que se passa com ela.

"De repente [a criança] cai na multidisciplinaridade do Fundamental 2, em uma escola em que não se transforma", diz Falzetta, "e isso complica as coisas, porque acreditava-se que resolvendo as questões do Fundamental 1, isso se refletiria automaticamente no Fundamental 2, o que não ocorreu", diz.

Para Falzetta, é preciso olhar para o sistema como um todo, e não tentar resolver as questões apenas do Ensino Médio. Por fechar os olhos para essa fase de ensino, "o Fundamental 2 vem sendo chamado por especialistas de 'a etapa esquecida'", diz o especialista.

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