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Palestinos agradecem o respaldo europeu e pedem sanções contra Israel

‘O importante são as decisões que os Estados Unidos tomarem’, diz um acadêmico

PATRICIA R. BLANCO (ENVIADA ESPECIAL)
Uma trabalhadora limpa uma sala de aula da única escola mista árabe-judaica de Jerusalém, incendiada no sábado em um ataque que a polícia atribui a ultranacionalistas judeus.
Uma trabalhadora limpa uma sala de aula da única escola mista árabe-judaica de Jerusalém, incendiada no sábado em um ataque que a polícia atribui a ultranacionalistas judeus.AHMAD GHARABLI (AP)

Samá Benali sorri enquanto nega com sua cabeça. E verbaliza a seguir a incoerência entre sua boca e seu pescoço: “É um compromisso incompleto”. Esta estudante de Ramallah (Cisjordânia), de 19 anos, resume com dois gestos e quatro palavras um sentimento generalizado entre os palestinos diante das resoluções aprovadas nos Parlamentos de Reino Unido, Irlanda e Espanha –e, provavelmente, esta semana também na França— que instam seus respectivos Governos a reconhecerem a Palestina como Estado. “Obrigado, mas não é suficiente”, afirma Benali.

O novo impulso europeu a favor da criação de um Estado palestino, que a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, classificou como objetivo prioritário a conseguir em seus cinco anos de mandato, não é “tema central de conversas entre palestinos”, de acordo com Daoud Kuttab, jornalista e professor universitário especialista em Oriente Médio. “Há poucos palestinos que acreditam na importância das votações feitas nos Parlamentos europeus, porque não são vinculantes e não estão acompanhadas de sanções contra Israel”, acrescenta o jornalista palestino, para quem “o importante são as decisões que os Estados Unidos tomarem”.

Ismail Israni, de 47 anos, cozinheiro em um restaurante em Ramallah, fala sim de política em sua casa. Mas não gosta “do que disse Mogherini, de dar esperança aos palestinos” com um reconhecimento que, por enquanto, o Parlamento Europeu tem adiado. “Por que invés de votarem não fazem alguma coisa a mais para pressionar Israel?”, acrescenta Yusuf, de 28 anos, que se junta à conversa.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) é mais otimista. “É um gesto simbólico, mas tem um significado político. O que está acontecendo agora em Jerusalém [conflitos entre manifestantes palestinos e a polícia israelense] e o que aconteceu em Gaza [na última ofensiva do Exército israelense contra o Hamas] fizeram a Europa entender que a situação na Palestina é de emergência ainda maior do que antes, e que a solução de dois Estados está em risco”, afirma um porta-voz da OLP. O mais importante, segundo ele, é o valor político das votações. “É uma mensagem para Israel de que a Europa está tomando a liderança para resolver o problema palestino, de que a ocupação feita em 1967 é ilegal e de que os assentamentos também são ilegais, inclusive os de Jerusalém”.

No entanto, o porta-voz da OLP também admite que, uma vez dado o passo do reconhecimento, os países europeus devem “encarar a resolução do conflito com mais força do que antes, com medidas para prevenir novos atos ilegais de Israel, seja com sanções ou com qualquer outra decisão”. A Comissão Europeia aprovou em 2014 uma norma que veta qualquer acordo de cooperação com Israel que envolva a implicação de zonas ocupadas em 1967. Além disso, o Parlamento estuda proibir a importação de produtos fabricados em território ocupado por Israel ou a obrigatoriedade de especificar nas etiquetas de produtos israelenses a procedência exata.

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Além das sanções, a criação da Palestina como Estado só acontecerá “como fruto das negociações entre israelenses e palestinos”, de acordo com a Iniciativa de Genebra pela Paz, uma organização de palestinos e israelenses que promove a solução de dois Estados. “O reconhecimento da Palestina nesta etapa é simbólico e não terá nenhum efeito prático, porque mais de 130 países já reconheceram o Estado palestino e nada aconteceu”. No total, 135 países fazem parte desta lista integrada por quase todos os países africanos, asiáticos e das Américas do Sul e Central. O último Governo a se somar, em 30 de outubro, foi o da Suécia, o único país da União Europeia a reconhecer a Palestina como Estado. Alguns países do Leste Europeu também o fizeram, mas antes de ingressarem na UE.

E, enquanto isso, os jovens estão “cansados de esperar”. Ou, ao menos, é isso que afirma Abdelkarim, de 15 anos. “Estamos cansados dos assentamentos, cansados das promessas e cansados de que não se reconheça nosso direito a ter nosso Estado”, conclui Abdelkarim, muito irritado.

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