_
_
_
_
_

Suíça desafia a UE com um referendo para impedir a entrada de imigrantes

Os promotores pedem também ajudar a frear a natalidad em países pobres

Lucía Abellán
Um cidadão de Zúrich passa por adiante de um cartaz contrário à iniciativa de Ecopop para frear a imigração.
Um cidadão de Zúrich passa por adiante de um cartaz contrário à iniciativa de Ecopop para frear a imigração.STEFFEN SCHMIDT (EFE)

A Suíça vai às urnas por uma das chaves da sua prosperidade. A chegada com poucas restrições de cidadãos comunitários desde 2002 impulsionou a economia e os salários quase sem alterar a taxa de desemprego, de invejáveis 3% há anos. Mas a aceleração da entrada de estrangeiros e o medo de perder o que conquistou multiplicaram o receio da população. Depois de enfrentar a União Europeia, que presumiu um apoio a uma recente iniciativa para limitar a imigração, os suíços decidem no próximo domingo sobre um projeto muito mais radical: reduzir as chegadas para apenas 0,2% a cada ano.

A proposta do grupo ambientalista Ecopop vem acompanhada de outra ideia muito mais polêmica: a obrigação de que a Suíça dedique 10% do seu orçamento de ajuda ao desenvolvimento para o controle de natalidade de países pobres. O lema da iniciativa invoca um mesmo objetivo para justificar as duas metas: "Não à superpopulação. Sim à conservação sustentável dos recursos naturais". Ano passado, houve 88.000 entradas líquidas de estrangeiros no país dos Alpes, 3,2% a mais que em 2013. Com o projeto da Ecopop, esse número seria reduzido a menos de 17.000.

Mais informações
Suíça decide se vai impor cotas à imigração de cidadãos europeus
EDITORIAL | Consequências perversas

Seus promotores defendem abertamente a redução da população, ainda que isso deixe as empresas sem mão de obra suficiente para suas atividades. "O objetivo não é multiplicar os postos de trabalho. Não temos necessidade de crescimento da população", alega Anita Messere, da Ecopop. Quando é perguntada da lógica de os trabalhadores se deslocarem para onde há emprego, solta: "Isso também prejudica a prosperidade. Nós estamos roubando médicos dos espanhóis. A Suíça não tem motivo para resolver os problemas de outros lugares".

Partidos políticos, empresários, sindicatos e organizações sociais são contundentemente contrários à medida. As últimas pesquisas indicam uma rejeição de 56% dos consultados, apesar de respeitáveis 39% apoiarem. "Nós levamos esse assunto muito a sério. Uma parcela da população está preocupada com o aumento da imigração, que tem sido muito rápido nos últimos anos, não se pode negar", admite uma porta-voz do Ministério da Justiça suíço.

A Suíça tem uma grande tradição de acolher cidadãos de outros países, que representam 23,5% da população. Mas o perfil de imigrantes é muito diferente dos Estados comunitários. A imensa maioria é europeia, especialmente de países mais desenvolvidos - com alemães à frente -, mesmo que agora cresça rapidamente a chegada de europeus do leste. É também um grupo que tem 58% dos seus membros com formação universitária. "Limitá-los teria consequências diretas na economia. Por exemplo, 20.000 pessoas se aposentam todos os anos na indústria de máquinas e a população local cobre apenas 3.000 (desses postos)", explica Carmelo Laganà, da patronal Économiesuisse.

Além desses números, o impacto na relação preferencial que a União Europeia mantém com a Suíça seria drástico. "Temos que falar claramente com a população e pedir que reflitam; se a livre circulação com os países comunitários cair, cairá todo o resto". A porta-voz da Justiça refere-se aos 120 acordos que vinculam a confederação ao bloco comunitário e que envolvem, entre outras coisas, o livre comércio que beneficia muito os dois lados. Uma cláusula desses pactos estipula que se uma for anulada, todas serão.

Os referendos suíços, uma marca registrada que orgulha o país, colocam a nação em apuros. O Governo pretende concretizar a medida que apoiou em fevereiro para voltar a estabelecer cotas de estrangeiros sem jogar fora a relação bilateral. A própria União Europeia tem uma posição delicada neste debate, com o Reino Unido à frente dos que questionam a livre circulação.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_