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Ex-tesoureiro do PT tem quebra de sigilo; empreiteiras pedem leniência

Comissão Mista vota para abrir sigilo de João Vaccari Neto, apontado como a interface do partido com o esquema da Petrobras

Carla Jiménez

A operação Lava Jato, que investiga a corrupção na Petrobras, avança a passos largos, desde que a sétima etapa foi deflagrada na última sexta-feira, e que decretou a prisão temporária de diversos executivos. Nesta terça, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, que investiga o assunto, decidiu pela quebra de sigilo de João Vaccari Neto, que foi tesoureiro do PT até maio deste ano, e que foi apontado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, como a interface do partido no esquema que desviou 10 bilhões de reais. A comissão também aprovou uma acareação entre Costa e o ex-diretor da área de Internacional, Nestor Cerveró, responsável pela compra da refinaria Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006, que gerou prejuízo monstruoso para a estatal. Costa alega que Cerveró recebeu propina, fato que foi negado por ele.

Também as empreiteiras arroladas no esquema da Petrobras já se movimentam para evitar penalidades com a investigação. O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, revelou nesta terça que o órgão ligado ao Executivo, que responde pela defesa do patrimônio público, foi procurado por representantes das empresas para fechar acordos de leniência. Desta forma, elas se comprometeriam a colaborar com informações para esclarecer o assunto, em troca de perdão ou redução de eventuais penalidades. Se considadas inidôneas, elas não poderiam mais prestar serviços para o poder público, por exemplo.

A cada dia novos elementos são descobertos, com fragmentos de informações vazadas das delações que estão sendo conduzidas pela Polícia Federal de Curitiba. O jornal O Estado de S. Paulo divulgou, por exemplo, que um trecho do relatório do Ministério Público Federal sobre a Lava Jato aponta que “o esquema criminoso atuava há pelo menos 15 anos na Petrobrás”, ou seja, alcançando o Governo de Fernando Henrique Cardoso, anterior ao de Lula, que começou em 2003, ou seja, há 11 anos.

A investigação com as empreiteiras entra numa seara sensível, uma vez que as empreiteiras têm uma relação ‘umbilical’ com o poder público em função da execução de obras de grande porte. O depoimento de Ildefonso Colares Filho, por exemplo, que foi presidente da construtora Queiroz Galvão até 2012, parceira da Petrobras, declarou à PF que a companhia sempre fez doações para campanhas de partidos que estivessem ligados “ao crescimento da infraestrutura”. Ele disse se lembrar de doações feitas para o PT, PMDB PP e “mais alguns”.

As doações para campanhas políticas estão dentro das vias legais, porém, um relatório de inteligência da PF, obtido pelo jornal Valor, apontaria para uma possível relação entre as doações e lavagem de dinheiro. As empresas doariam para ajudar a eleger candidatos, como ‘contribuição’ do esquema. Um levantamento feita pelo Valor mostra que oito das nove empreiteiras listadas nesta segunda fase da operação ajudaram as campanhas de 259 dos 513 deputados federais eleitos neste ano. As empresas citadas são Odebrecht, Engevix, Queiroz Galvão, UTC, Galvão Engenharia, OAS, Camargo Correa e Mendes Júnior.

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