_
_
_
_
_

“O elogio constante é perigoso”

O tenista analisa sua carreira e um ano cheio de lesões em que ganhou seu 14º Grand Slam

Juan José Mateo
O tenista dá seu depoimento.
O tenista dá seu depoimento.Alejandro Ruesga

Apareceu ao som de Me va, me va de Julio Iglesias. Com um passo rápido. Sorridente. Vestindo traje social. Rafael Nadal passou por Madri e subiu em um palco rodeado de luzes azul safira para analisar uma temporada em que passou amarrado a uma montanha russa, porque chegou à final do Aberto da Austrália, ganhou seu nono Roland Garros e no meio disso sofreu com dores nas costas, perdeu três meses de competição por uma lesão no pulso e finalmente teve de encerrar a temporada para operar o apêndice. Um ano para esquecer?

“O esporte é de vitórias, não de derrotas. As vitórias são o que permanece”, explicou o campeão de 14 torneios do Grand Slam diante de uma plateia entregue, que o recebeu com uma longa ovação. “Foi um ano complicado, sem dúvida alguma. Desde o problema das costas até o do pulso, a apendicite… Mas consegui jogar uma final de Grand Slam e, principalmente, ganhei outro”, recordou em um ato ao qual compareceu como embaixador do Banco Sabadell. “Isso é o que ficará. As coisas ruins não ficam. Eu vejo dessa maneira. O que consegui está feito, ninguém me tira”.

Tenho e tive problemas físicos que não me permitem fazer as cosas que queria fazer em qualquer momento, tenho que selecionar"

Nadal – de 28 anos – analisa sua carreira pausadamente. Longe do adolescente que assombrou o mundo, hoje é um homem maduro, apegado às raízes, ávido por enriquecer um currículo de sonho e ainda com ambição suficiente para enfrentar os problemas físicos em troca de continuar sendo competitivo na busca de mais títulos. Tem um decênio de êxitos. Em 2004, conseguiu o que o lançou à fama, uma Copa Davis épica conquistada contra os Estados Unidos, em Sevilha. Desde então, doutorou-se na competição, da qual se ausentou em 2014 por problemas físicos e apesar de que Carlos Moyà, seu amigo e mentor, estivesse sentado no banco. Com a equipe convertida em um barril de pólvora por causa da nomeação de Gala León como técnica, o melhor tenista espanhol foi perguntado se voltaria a participar da Copa Davis ou se afastaria “da confusão”.

Mais informações
“Prefiro morrer sendo corajoso”, diz o jogador
Nadal, mito no saibro
Nadal, o mestre do dia a dia
Na mente de um grande tenista

“As confusões que existem não afetam a participação ou não, simplesmente deixam mais complicado o bem-estar e a harmonia entre os jogadores”, disse o maiorquino, que na segunda-feira colocará a primeira pedra de sua academia em Manacor (Maiorca). “Não deveria afetar quem está representando um país. Tenho e tive problemas físicos que não me permitem fazer as coisas que queria, tenho que selecionar. Não estou dizendo que não vou jogar. Voltarei em algum momento”.

O esporte é de vitórias, não de derrotas, as vitórias são o que permanece”

O número três mundial já pensa em 2015. Em dezembro, treinará para o Aberto de Austrália. Então, na ceia de Natal, em torno dele se sentarão os mesmos de sempre. Toni Nadal, seu tio e técnico, esculpiu seus golpes e completa a viagem de sua carreira desde o primeiro dia. Carlos Costa, ex-número 10 mundial, foi seu agente desde menino e ainda hoje se ocupa da administração de seus contratos e do Rafa Nadal Tour, seu circuito para jovens promessas. Joan Forcades, com seu rabo de cavalo, sempre aperfeiçoou seu físico. Rafael Maymò, fisioterapeuta, foi dos últimos a chegar ao grupo e logo se tornou inseparável: para Nadal é como um irmão. O maiorquino, que é o competidor definitivo, não muda nada para que tudo continue igual e vive a estabilidade como uma vantagem competitiva.

“Em qualquer âmbito da vida de pessoas que se destacam, que vencem no que fazem, nos acostumamos ao elogio constante. É algo perigoso, negativo”, advertiu. “Por isso, quando dizem coisas que não são elogios, você tende a não querer ouvir, a culpar essas pessoas. Por isso há tantas mudanças de treinador, de equipes técnicas, em gente que vence na vida”, acrescentou. “Soube dar aos outros a liberdade e a flexibilidade de me dizerem o que acreditavam. Todos se sentiram livres de me dizer quando faço bem as coisas as e quando as faço mal. É a maior virtude que tive (…). Ter a mesma equipe durante tantos anos faz com que me conheçam bem, que saibam o que necessito em cada momento. Uma grande sorte”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_