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“Temos que condenar corruptos e corruptores. Não a Petrobras”

No G20, Dilma Rousseff fala pela primeira vez sobre as investigações da Operação Lava Jato

C.J.
Dilma com os líderes dos BRICS, no G20.
Dilma com os líderes dos BRICS, no G20.EFE

A presidenta Dilma Rousseff falou por primeira vez sobre a investigação Lava Jato que entrou em sua sétima etapa na última sexta-feira, com a prisão de executivos de empresas fornecedoras da Petrobras. Na primeira coletiva depois das reuniões com os líderes do G-20, Dilma afirmou que a grande diferença do assunto Petrobras é o fato dele estar sendo colocado “à luz do sol”. “Esse não é, de fato, o primeiro escândalo. Mas é o primeiro escândalo investigado. E isso mudará para sempre as relações da sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas”, disse a presidenta aos jornalistas presente ao evento.

Dilma acredita que a investigação em curso ajudará a acabar com a impunidade no país. “Essa é para mim a característica principal dessa investigação, ela não é engavetável". Mas lembrou que era preciso tomar cuidado para não condenar “A, B ou C” pois não se podia condenar ninguém com certeza antes da devassa ser concluída. “Mas que [a investigação] colocará à luz do sol todos os processos de alteração, de corrupção, inclusive de uso internacional de algumas atividades, ela vai”.

A presidenta resgatou a memória de outro escândalo do gênero, de repercussão internacional, como a Enron, no início dos anos 2000. “Casos de corrupção não são monopólio da Petrobras. Outros grandes casos investigados de grande porte eram da Enron, que era privada”, comparou. Dilma tentou, ainda, blindar a companhia e sua atividade das investigações em curso. “Nem todos os membros da Petrobras são corruptos. Aliás, a grande maioria não é corrupta. Agora, há pessoas que praticaram corrupção. Não podemos condenar a empresa. Temos de condenar pessoas. Dos dois lados, corruptos e corruptores”, completou.

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A presidenta passou a tratar o caso da Petrobras como uma questão simbólica, “a primeira efetiva, que envolve segmento privado e público, que vai a fundo”. "Podemos citar vários escândalos que não foram investigados que foram responsáveis pelos escândalos que aconteceram na Petrobras”, concluiu.

Sobre a necessidade de retomar a atividade econômica diante do compromisso de ajuste fiscal, Dilma reafirmou que os ajustes serão feitos, mas sem cortar pelo lado da demanda. “Alguns deles, reduzindo despesas que sejam legítimas. Por exemplo, há no Brasil um conjunto de gastos e despesas que não levam à ampliação de investimento e consumo. Essas despesas são aquelas que consideramos que podem ser cortadas. Há outras que são excessivas”, explicou. "Todas têm de procurar fazer um ajuste. Mas não defendemos que a melhor política seja a restrição da demanda para sair da crise. Isso está provado na própria União Europeia”, concluiu.

Obama e G-20

A presidenta está desde quinta-feira na Austrália para a reunião com os líderes do G-20. Neste sábado, ela se encontrou a sós com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e com o presidente da China, Xi Jinping. E teve, ainda, uma reunião informal com o presidente Barack Obama. Ela admitiu que estão sendo estudados, fora da reunião do G-20, a sua visita aos Estados Unidos. Mas nada foi tratado de forma definitiva.

Segundo a mandatária, os líderes reunidos concluíram que era preciso fazer um esforço maior pela retomada. E que cada um deveria fazer a sua parte. “E dessa vez, ficou mais claro que é preciso atuar pelo lado da demanda”, explicou Dilma. A grande crítica aos planos de recuperação pelo mundo depois da crise de 2009 foi ter trabalhado por programas de austeridade que teriam sufocado ainda mais o consumo, uma vez que os Governos perderam a capacidade de investir.

Ela lembrou, ainda, dos tempos diferentes de recuperação de cada país. “Os emergentes, por exemplo, tiveram uma situação melhor por cerca de quatro anos (2009 a 2012) e resistiram à crise, até que ela atinge a todos nós. A China, por redução significativa de crescimento, Brasil idem, Rússia, e África do Sul também. A Índia um ano melhor, outra pior”, lembrou. A conclusão, portanto, é que todas as nações precisam ter uma ação coordenada para recuperar condições de crescimento.

Sobre as manifestações contra a sua eleição, ela disse que não concordava com o teor, mas que entendia que fazia parte tolerar inclusive as manifestações mais extremadas, que incluem por exemplo o desejo da volta da ditadura militar. “O Brasil hoje tem essa capacidade, absorve e processa”, disse.

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