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Pela primeira vez em uma década, a miséria no Brasil para de cair

Levantamento oficial aponta para um pequeno aumento no número de miseráveis no país Gargalo no Bolsa Família pode ser um dos fatores

Alto Alegre do Pindaré (Maranhão), onde seis de cada dez pessoas vivem na pobreza.
Alto Alegre do Pindaré (Maranhão), onde seis de cada dez pessoas vivem na pobreza.Alex Almeida

Pela primeira vez em dez anos o número de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou, passando de 10,08 milhões em 2012, para 10,45 milhões no ano passado. Os dados, que se chocam com o discurso de redução da miséria vendido pelo PT ao longo de toda a campanha eleitoral, foram disponibilizados no site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 30 de outubro praticamente na surdina, uma vez que o Instituto não realizou nenhuma divulgação das informações.

Desde 2003, essa é a primeira vez que a quantidade de miseráveis deixa de cair. O Ipea considera em condição miserável as pessoas que não têm renda suficiente para uma cesta básica de alimentos, que varia de preço de acordo com a região pesquisada. De 67,24 reais em Belém do Pará, a 124,96 reais em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, segundo o cálculo do instituto.

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Para o presidente do instituto Data Popular, Renato Meirelles, além da questão econômica, os dados impõem um novo desafio ao Governo: encontrar os excluídos do Bolsa Família. “Existe uma questão econômica, que gera um impacto na miséria, mas o conjunto de políticas públicas precisa chegar onde não está chegando”, diz. Para ele, é fundamental que os programas sociais consigam atingir uma maior capilaridade. “O sistema de proteção social do Brasil é um dos melhores do mundo e poderia fazer com que não existissem nem essas 10 milhões de pessoas na miséria. Portanto, esse indivíduo [que está abaixo da miséria] tem que ser assistido pelos programas”.

Se não houver a ampliação dessa rede de assistência, corre-se o risco de que no ano que vem esse quadro de crescimento se repita, explica Meirelles. “Que os governantes aprendam com o resultado das urnas: é necessário radicalizar no desenvolvimento da economia e nos programas de distribuição de renda, que, de fato, fizeram o país avançar nas últimas décadas”, afirma.

Ainda que o número de miseráveis tenha registrado um leve aumento, a população pobre, que tem duas vezes a renda familiar dos considerados miseráveis, segue diminuindo. Passou de 30,3 milhões em 2012 para 26,6 milhões no ano passado. Há dez anos, esse número era mais que o dobro: 60,1 milhões.

Os números foram destacados nesta quarta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo. Isso depois de o Ipea se ver envolvido num episódio complicado durante a campanha eleitoral. Em meados de outubro, Herton Araújo, titular da diretoria de Estudos e Políticas Sociais a instituição, pediu demissão por não concordar com a decisão da cúpula do Instituto de impedir a publicação desse estudo que mostrou a evolução do número de miseráveis no país. A exposição desses números poderia ser uma importante munição para a oposição, que perdeu por uma margem muito pequena de votos. Procurada, a assessoria de imprensa do Instituto afirmou, por meio de nota, que não havia “ninguém disponível para falar sobre o assunto” e que “nenhuma atualização da base [de dados] é acompanhada de divulgação à imprensa”.

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