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Morre Chen Ziming, veterano defensor da democracia na China

Foi um dos mentores intelectuais dos protestos de Tiananmen Sofreu a repressão do Governo comunista durante décadas

Macarena Vidal Liy
Chen Ziming em conferência de imprensa em Sidney, em 2008.
Chen Ziming em conferência de imprensa em Sidney, em 2008.D. M. (REUTERS)

Chen Ziming, veterano crítico do Governo chinês, acusado por Pequim de ser uma das “mãos negras” por trás do movimento estudantil de Tiananmen em 1989, morreu em um hospital de Pequim na terça-feira aos 62 anos, de câncer no pâncreas, conforme informaram seus amigos.

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“O famoso dissidente e suposta mão negra do 4 de junho, Chen Ziming, meu mentor e meu amigo, morreu em Pequim”, explicou em sua página do Facebook o ativista Wang Dan, líder estudantil de Tiananmen e exilado em Taiwan, onde dá aulas na Universidade Nacional de Tsing Hua.

Nascido em Xangai, formado na Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim e sempre muito ativo politicamente, Chen foi um destacado participante dos primeiros movimentos democráticos na China no final dos anos setenta e princípio dos oitenta, incluindo o Muro da Democracia de Xidan, no oeste de Pequim, quando em 1979 foram colocadas mensagens pedindo reformas e abertura.

Em 1989 dirigia a revista Economics Weekly, que defendia o livre mercado, e se encontrava a frente do Instituto de Pesquisa de Ciências Sociais e Econômicas, um centro de estudos de cunho progressista, junto com seu amigo e colaborador, Wang Juntao. O Governo chinês considerou que ambos eram os “cérebros” por trás da iniciativa estudantil que se concentrou na praça pequinesa de Tiananmen para pedir mais democracia e que deixou o regime comunista em cheque durante mais de um mês.

Após a sangrenta repressão daquelas manifestações em 4 de junho de 1989, Chen foi detido e condenado em 1991 a treze anos de prisão após ser declarado culpado de “tentativa de derrubar o Governo” e de “disseminar propaganda contrarrevolucionária” por seu papel nos protestos. Ficou em liberdade condicional em 1994 por razões médicas, em uma medida que foi interpretada como uma concessão da China para manter seu status de país mais favorecido em suas relações comercias com os EUA.

Mas, no ano seguinte, voltou a ser detido, após assinar uma petição para a libertação dos presos políticos, e cumpriu mais um ano de prisão antes de voltar a ser libertado por motivos de saúde. O Governo comunista o manteve em prisão domiciliar até 2002, ainda que não tenha recuperado seus direitos políticos nem tenha sido permitido de dar entrevistas até 2006. Seus livros eram proibidos na China continental.

Apesar de sua frágil saúde – sofria de hepatite e câncer – nunca renunciou ao ativismo nem à crítica, “construtiva”, segundo dizia, contra o regime comunista chinês.

Após ser diagnosticado com câncer pancreático terminal, em janeiro as autoridades chinesas permitiram que fosse para Boston, nos EUA, para receber tratamento. Chen, que ao contrário de muitos outros protagonistas de Tiananmen, nunca quis se exilar em outro país, optou por voltar a China para morrer em sua pátria.

“Reconhecido como um líder destacado, a oposição chinesa sofre um duro golpe com sua perda. A China também perde um grande talento”, declarou Wang Dan.

Chen deixa sua esposa, Wang Zhihong.

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