Nota da Petrobras cai após denúncias de corrupção
Falta de reajuste nos combustíveis e erros de gestão influenciam na decisão
Erros na gestão, denúncias de corrupção e a falta de reajuste nos combustíveis derrubaram a avaliação da Petrobras. Nesta terça-feira, a agência de classificação de riscos Moody’s rebaixou de Baa1 para Baa2 a nota da petroleira, a maior empresa do Brasil. Ao menos teoricamente, isso impacta na atração de novos investidores e contribui para a queda de suas ações. A companhia, porém, permanece na categoria “grau de investimento”. Para sair desse nível, teria de cair mais dois degraus.
Em nota, a Moody’s justificou que sua decisão ocorreu devido ao alto grau de endividamento da companhia estatal e disse que a situação só deve se reverter após 2016. A dívida saltou em junho para 170 bilhões de dólares (25 bilhões a mais que em dezembro do ano passado) por causa da diferença entre os preços praticados internacionalmente e os praticados no Brasil, segundo a agência. Ou seja, se o Governo Dilma Rousseff (PT) autorizasse um reajuste no preço dos combustíveis a dívida poderia ser menor. Neste ano não houve nenhum aumento considerável porque a gestão da petista manteve os valores no mesmo patamar para tentar segurar a inflação.
Dois especialistas consultados pelo EL PAÍS amenizaram a importância desse rebaixamento da nota pela Moody’s. Antônio Carlos Alves dos Santos, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), disse ter a impressão de que a divulgação do resultado neste momento tem relação com a campanha eleitoral, que se encerra com a votação no próximo domingo. “Se analisar as perspectivas a longo prazo não tem o menor sentido rebaixar a nota da Petrobras. Isso tem um claro componente político”, afirmou Santos.
Já Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC e consultor financeiro, afirmou que a análise reflete principalmente o momento político e os erros de gestão da companhia. “É compreensível ter uma nota menor. Os indicadores de curto prazo são muito ruins. A longo prazo, são sólidos. As denúncias de corrupção e as decisões sobre os investimentos influenciaram nesta nota, mas não é nada preocupante”, ponderou.
Neste ano, duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) do Congresso Nacional investigam a Petrobras. As apurações começaram depois de uma operação policial descobrir um suposto esquema de pagamento de propina a políticos que tinha como um de seus líderes um diretor da Petrobras, o engenheiro Paulo Roberto Costa. Entre outras denúncias há de que a petroleira pagou valores superfaturados por uma refinaria nos Estados Unidos. As discussões têm sido constantemente utilizadas na campanha eleitoral.
Tanto Santos como Lacerda acreditam que a tendência é que o cenário econômico da Petrobras melhore já no ano que vem com o ajuste paulatino dos combustíveis e com a formação de uma nova equipe no Ministério da Fazenda, independentemente de quem seja eleito.